Continua após publicidade

Esta modelo foi do manequim 36 para o 42 e encontrou a felicidade

A modelo de sucesso Nathalia Novaes vivia infeliz, tentando caber no manequim 36. Aos 26 anos, ela enfrentou um distúrbio alimentar e aceitou o shape 42

Por Nathalia Ruiz
Atualizado em 5 fev 2018, 14h24 - Publicado em 15 abr 2017, 06h00

Trinta e seis: esse foi o número de manequim com o qual sempre sonhei. E o que mais me perturbou. Desde criança, fazia dietas para entrar na tal medida perfeita. Quando comecei a modelar, aos 19 anos, a agência foi clara: eu era linda, mas, para seguir carreira, teria que emagrecer.

No fundo, os xingamentos que recebia da equipe – incluindo o de “baleia”, por vestir 42 – só queriam dizer que, se eu não fosse magra, não teria valor. A certeza de que meu corpo era errado veio tão rápido quanto despercebida. Foram sete anos lutando (e sofrendo) para me encaixar nos padrões até que uma dieta restrita me fez chegar ao tão esperado 36. Comecei a bombar! Morei na Europa, estampei a capa de inúmeras revistas de moda.

Me manter naquele número, porém, não foi fácil. Apostei em métodos malucos e passei fome a ponto de não dormir por tanta dor no estômago vazio. Na pior fase, comia descontroladamente para depois entrar em jejum – não raro, por mais de um dia.

Nas fotos, eu estava sempre sorrindo, bancando a Mulher Maravilha. Mas em casa me enxergava gorda e me culpava por faltar nos treinos. Os fins de semana eram os mais tensos. Deixava de vestir saia porque achava minhas coxas enormes – mesmo usando 34 – e fugia dos jantares entre amigas para não comer hambúrguer (se me rendesse a um lanche, receberia olhares de reprovação no trabalho). Para evitar, ficava na cama – me odiando.

Leia mais: Esta mamãe fitness está dando um belo exemplo de aceitação do corpo pós-parto

Poucas pessoas notaram que eu sofria de distúrbio alimentar. Afinal, a sociedade está moldada a sempre validar as neuras das mulheres pela busca do corpo perfeito. Só que, no fundo, sabia que não estava vivendo a minha verdade. Decidi, então, conversar com outras colegas, e foi aí que minha ficha caiu: eu não estava bem, mas a maioria estava muito pior. Procurei terapia. Levei um ano e meio para aceitar que, mais do que uma modelo, eu era a Nathalia.

O grande dilema: à medida que ia melhorando (e engordando), minha carreira decaía. Foram meses sem um único trabalho. Cansei de ouvir pessoas dizendo que estava jogando minha profissão no lixo. Só eu sei a quantidade de horas que desperdicei chorando no sofá, achando que meu mundo havia acabado.

Continua após a publicidade
Mulher com look jeans
(Rodrigo Marques/BOA FORMA)

Já estava conformada que, para sobreviver, precisaria encontrar outra profissão. Até que descobri que havia uma categoria chamada curvy: para mulheres com shape entre a modelo tradicional e a plus size. Fui a uma agência especializada e me lembro, como se fosse hoje, das primeiras medidas que tiraram por lá. Eu estava com 107 centímetros de quadril – isso é algo estratosférico para o mundo da moda – e me disseram: ‘Está ótimo. Perfeito!’

Não pense que foi uma transição tranquila. Na mesma época, a Luma Grothe, minha amiga e modelo de primeira linha, estava bombando internacionalmente. E eu, no sofá, esperando pelo primeiro trabalho como curvy. Confesso que me bateu uma pontinha de inveja. Afinal, um ano atrás, eu pegava os mesmos trabalhos que ela.

Quase como um arrependimento, ouvi uma voz interna: ‘Em vez de achar isso um saco, fique feliz por ver uma mulher que trabalhou tanto alcançar seus objetivos’. Aí me veio um estalo. Nenhuma de nós deveria se sentir melhor ou pior do que a outra. Todas mereciam se achar lindas, cada uma à sua maneira. Peguei o telefone e liguei para Luma, que, eu sabia, já tinha sofrido bullying na escola por ser considerada estranha: ‘Tive uma ideia de projeto. Encara comigo?’ Ela topou! Fabiana Saba, que também se reinventou como modelo curvy, só que aos 38 anos também entrou nessa.

Leia também: Como a Spice Girl Geri Halliwell venceu a bulimia

O Todas Juntas é um canal na web que ressalta a importância da união feminina e se propõe a quebrar rótulos. Toda semana, entrevistamos mulheres que não se sentem representadas por um padrão imposto e enfrentam, com muita garra e superação, os mais diferentes tipos de preconceito, de racismo a homofobia. Dia 8 – no Dia Internacional da Mulher –, o programa estreou no YouTube!

Continua após a publicidade
Mulher com look jeans
(Rodrigo Marques/BOA FORMA)

Coincidência ou não, pouco depois dessa ideia, consegui minha primeira sessão de fotos vestindo 42! E não precisava das mesmas poses de sempre, que eram justamente as que me deixavam ainda mais fina. Antigamente, pediam para que mostrasse minha personalidade nas fotos, só que não me sentia eu mesma. Finalmente me encontrei! Um ano depois, já trabalho tanto quanto antigamente e, confesso, tenho o maior orgulho ao me olhar no espelho. Me sinto bem com meu próprio corpo e, por mais difícil que tenha sido, ele me mostra que aguentei a jornada. Me transformei em alguém saudável, acima de todas as imposições.

É claro, não abro mão de alimentos integrais, de frutas e de saladas no dia a dia. Mas também não tenho vergonha em admitir que, se me der muita vontade de um brownie, por exemplo, vou lá e como, sem culpa alguma. Até a pizza nos fins de semana está liberada. Acredito que, mais do que comidas boas ou ruins, existe a nossa relação com elas. Sim, às vezes, a melhor refeição será um sanduíche, só que em uma festa com a galera, em vez de em um jantar em plena quarta-feira.

A motivação para praticar atividades físicas não está mais em manter um corpo supermagro. Pelo contrário, faço porque encontrei prazer nos exercícios – em especial no meu trio queridinho ioga, bicicleta e treino funcional. Mas, acima de tudo, encontrei um estilo de vida que me dá saúde e liberdade para ser a melhor versão de mim mesma.”

Publicidade