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Por que o mundo do esporte precisa da campanha #DeixaElaTrabalhar

Campanha liderada por jornalistas do esporte visa denunciar assédio sexual e moral e dar voz às mulheres no ambiente de trabalho

Por Luiza Monteiro, Daniela Bernardi
Atualizado em 5 abr 2018, 11h09 - Publicado em 26 mar 2018, 19h18

Imagine receber um beijo de um estranho no meio do expediente; ser chamada de “piranha” ou “vagabunda” por seus superiores; se sentir desconfortável no ambiente de trabalho porque está sendo vigiada. Péssimo, né? Infelizmente, muitas mulheres já passaram (e ainda passam) por situações como essas em suas profissões.

É o caso de Bruna Dealtry, repórter do canal Esporte Interativo, que foi beijada à força por um torcedor durante cobertura ao vivo da partida entre Vasco e Universidad do Chile, pela Libertadores. Também aconteceu com Renata Medeiros, da Rádio Gaúcha, enquanto acompanhava uma disputa entre Grêmio e Internacional pelo campeonato estadual do Rio Grande do Sul. “Sai daqui, sua puta”, disse um torcedor a ela.

Esses episódios motivaram jornalistas esportivas, comentaristas e até árbitras a iniciarem a campanha #DeixaElaTrabalhar. O vídeo que divulga o movimento foi publicado neste domingo (26) nas redes sociais e está fazendo barulho.

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Clubes de futebol, veículos de imprensa de todo o país, celebridades e profissionais de várias áreas estão compartilhando a sequência.

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Para a jornalista Carol Barcellos, repórter da Globo que participou da ação, esse é um importante passo. “O estádio é um ambiente de trabalho da mulher há muito tempo. E não queremos só não ser xingadas, é não questionarem nossa capacidade, a qualidade do nosso trabalho, como chegamos aqui…”, afirma.

Nós, da equipe de BOA FORMA, apoiamos a campanha e acreditamos que o respeito às mulheres deve acontecer em todos os âmbitos do universo esportivo – atletas, personal trainers, professoras… – e da sociedade, claro.

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A seguir, confira cinco depoimentos de profissionais que já foram desrespeitadas simplesmente por serem do sexo feminino. E quando presenciar algum episódio parecido, defenda essa mulher e lute para que ela possa trabalhar em paz.

1. “Enquanto alongava um aluno, médico, senti que me olhava de um jeito estranho. Não falei nada, fiquei constrangida e não quis mais treiná-lo. Vários alunos já me convidaram para sair e com frequência recebo mensagens no meu Instagram pessoal”, – Marcela Amaral Gorgulho, 35 anos, professora de educação física e treinadora de crossfit.

2. “Não dou aulas para homens. Quando era estagiária, via tudo o que as profissionais que trabalhavam na academia sofriam e decidi que, quando me formasse, só ia dar aulas para mulheres e crianças. Já perdi muitos alunos por causa disso, mas hoje não me incomoda mais”, – Mariana Mansur, 31 anos, educadora física.

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3. “Em vários momentos, já fui questionada por colegas sobre o treino que estava dando para um aluno (só que eles nunca interferem no trabalho dos outros caras, né?). Daí, tenho que me justificar usando vários termos técnicos para eles me respeitarem.

No mundo fitness, nosso visual conta muito, tanto que, por ser magrinha, já ouvi que não entendia nada sobre exercícios de hipertrofia. Uma coisa não tem nada a ver com a outra! Sem contar o assédio sexual que rola solto nas academias. Como temos que corrigir os movimentos dos alunos, muitas vezes ajustando a postura com as mãos, eles acham que também têm a mesma liberdade para tocar na gente: cumprimentam passando a mão nas costas, na barriga… Os caras confundem a atenção que damos como profissional com uma abertura para sermos xavecadas. Eles acham que estou dando mole só porque sou simpática. ‘Pelo seu corpo, vejo que você também malha’ e ‘você fica linda de cabelo solto’ são comentários que escuto frequentemente no ambiente de trabalho.

Já me recusei a dar treino para alunos que me assediavam. Não deveria ser assim, por isso, costumo responder sendo bem direta, mas não grossa (para não perder a razão). Lembro quando um chefe me perguntou se eu pretendia engravidar e ser ‘uma daquelas mulheres que ficam em casa ganhando dinheiro’. Questionei se ele queria me impedir de ter filhos e ele ficou sem graça. Ser mulher é ter que provar todo dia nossa competência”, – Poliana Santana, 23 anos, educadora física.

4. “Dispensei um aluno que falava absurdos sexuais pra mim (ele tinha mais de 70 anos!). Como usamos legging, o assédio na rua é frequente e, por isso, visto uma calça larga por cima da roupa para evitar escutar asneiras. Já na academia, às vezes, parece que a aparência vale mais do que meus estudos. Há alguns anos, um chefe disse que me contratou porque eu era mais ‘bonitinha’ que a outra candidata.

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Infelizmente, esse tipo de comentário não vem só dos homens. Já ouvi alunas reclamando de profissionais que estão fora do peso – isso não tem nada a ver com a competência! E pode reparar: é raro homem treinar com educadora física. Geralmente, quando o objetivo deles é ganhar músculos, eles procuram um treinador – como se mulheres não entendessem do assunto”, – Gabriela Desiderio, 34 anos, personal trainer.

5. “Certa vez, quando ainda era fisioterapeuta de uma equipe de futebol, percebi que um jogador invadiu meu quarto no meio da madrugada enquanto eu dormia. Tive medo de gritar e as pessoas acharem que eu tinha seduzido o cara ou atá facilitado a ação dele – como fazia muito calor, deixei a janela aberta. Falei com uma voz bem brava para ele sair e o empurrei. Depois do episódio, o jogador conseguiu meu número e ficou mandando mensagens no celular.

Como fisioterapeuta, temos sempre que nos prevenir: não usar uma calça tão justa (a gente veste roupa de ginástica porque precisamos de mobilidade) nem regatas que possam mostrar algo a mais. Antes de começar uma consulta, sempre explico o porquê de cada procedimento para não pensarem bobagem. Mas o que me deixa mais incomodada é o pouco espaço que dão para as mulheres no mundo do esporte. As vagas quase sempre são destinadas a profissionais homens, por mais que a gente seja melhor preparada que eles. Muitas colegas acabaram desistindo, mas não vou parar por causa do medo de ser assediada ou mal-interpretada”, – Maria Cecília da Silva Martins, 27 anos, fisioterapeuta esportiva.

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