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As chamadas de vídeo estão mexendo com a sua autoestima?

Passar horas olhando a própria imagem em reuniões de vídeo está afetando diretamente a percepção das pessoas sobre si mesmas

Por Marcela De Mingo
14 jun 2021, 09h00

Todos os dias, você tem um motivo para ligar a câmera do celular ou do computador. É uma reunião de trabalho aqui, um café virtual com uma amiga ali, até uma consulta médica, vez ou outra. E é sutil, mas, em mais de um ano de pandemia de coronavírus, você passou mais tempo em contato com a própria imagem do que costumava acontecer antes. É quase hipnotizante: você repara o jeito como mexe as mãos enquanto fala, checa o cabelo a cada dois segundos, se distrai com os ângulos do próprio rosto… Mas, vamos ser sinceras, o quanto isso mexeu e ainda mexe com a sua autoestima

Efeitos do Zoom (ou Meet, ou Microsoft Teams…)

Segundo a psicóloga Débora Manhães Benicio, os efeitos do uso de ferramentas como o Zoom são muito subjetivos, afinal, cada pessoa tem uma relação única com a própria imagem. “O que tenho percebido é que há uma divisão entre aqueles que querem aparecer para o mundo e aqueles que preferem se reservar”, diz ela. “Muitas pessoas não conseguiram administrar esse momento, tão conflituoso, de lutos diversificados e, com isso, encontraram muitas questões, inclusive referentes à baixa autoestima. Já outras se voltaram mais para a vaidade, aproveitando a pandemia para iniciar um processo de autocuidado também.”

Assim como acontece com as redes sociais – em que meninas e mulheres começaram a demonstrar uma insatisfação com a própria imagem por conta do uso excessivo de filtros -, com as videoconferências não foi diferente. Surgiu, recentemente, até um termo para isso: “dismorfia do Zoom”, ou seja, a alteração de percepção da própria imagem causada pelo contato em excesso com ela. 

Aliás, um estudo desenvolvido no ano passado pela universidade norte-americana de Stanford revelou que as mulheres têm sofrido mais com essa questão do que os homens. Em resumo, as videoconferências são mais cansativas para elas porque têm o costume de serem mais cobradas pela própria aparência do que eles, por conta da maneira como a beleza feminina é tratada há séculos – e isso ganhou uma potência ainda maior no cenário online. 

A ideia da dismorfia é uma variante da dismorfia corporal, uma alteração séria da percepção sobre si e o próprio corpo, e que é considerado um transtorno mental. Nesse caso, o acompanhamento com profissionais de saúde mental é essencial para gerar uma correção nessa visão distorcida de si mesma. Mas a busca por ajuda profissional não é exclusiva a casos mais sérios – a insatisfação crescente e a baixa autoestima gerada por esse ver a si próprio constante também pode se beneficiar disso. “Entendo que esse processo, que depende de uma permissividade, precisa de um entendimento do momento, para perceber o que leva ao conflito com a própria imagem e, com isso, ter o interesse em sair desse lugar de sofrimento”, continua Débora. “A busca de um psicólogo pode trazer grandes benefícios, pois eles irão trabalhar todas as questões presentes, possibilitando, nesse processo, um trabalho de autoconhecimento.”

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“Espelho, espelho meu…”: é possível melhorar a imagem que tenho de mim?

autoestima e videochamadas
(Westend61/Getty Images)

A longo prazo, é difícil mensurar completamente os efeitos de tantas horas em reuniões por videoconferência – isso também depende muito do contexto de cada uma, pois a tomada de consciência da realidade pode gerar coisas boas e ruins, continua a psicóloga. “No caso do sujeito que criou uma fantasia que não corresponde à realidade, isso, trazido à luz, pode gerar transtornos, perturbações e/ou frustrações com risco de originar uma patologia. É claro que essa descoberta também pode ser salutar, proporcionando uma percepção mais real em termos de autoimagem.”

E é possível lidar com esse caminho de maneira mais saudável e tranquila. Para isso, a profissional aconselha um trabalho intenso de autoconhecimento, em que cada um consiga conhecer e delimitar as suas capacidades, potenciais e desafios. “O psicólogo é um profissional valioso nesse processo, ajudando a clarificar conflitos gerados na construção da história de cada sujeito”, diz Débora. 

E, sim, esse caminho leva tempo e demanda paciência para ser percorrido. No meio tempo, existem maneiras de diminuir esse contato com a própria imagem e até diminuir o cansaço gerado pelas “câmeras abertas” a todo momento. Veja algumas dicas rápidas que você pode colocar em prática: 

  • Desativar a autovisualização: algumas ferramentas, como o Zoom, permitem que você esconda a sua própria imagem durante uma reunião, de forma que você vê na sua tela apenas os demais participantes, mesmo que a sua câmera esteja aberta. 
  • Trocar o vídeo pelo telefone: soa “oldschool”, mas é possível descansar um pouco a própria imagem trocando o vídeo por uma conversa no telefone. É uma ótima ideia se você é o tipo de profissional que faz muitas reuniões por dia.
  • Lembre de se afastar das telas: parece contraprodutivo, mas descansar das interações online também é uma forma de mudar o foco e prestar atenção em algo que não é a sua imagem. Atividades manuais ou ao ar livre, dentro do que é considerado seguro no contexto atual, são ideias para descansar a visão.
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