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Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.

As causas das dores – parte 3

Por Samorai
Atualizado em 21 out 2024, 22h28 - Publicado em 31 ago 2021, 21h44
As causas das dores: podem incluir mobilidade, controle e agressividade
As causas das dores: podem incluir mobilidade, controle e agressividade (Dylan Nolte on Unsplash/BOA FORMA)
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Hey folks, quem não gosta de uma série? Uma série é como um livro na tela. Diferentemente de um filme, podemos mergulhar mais a fundo em cada personagem e entendê-lo na sua complexidade. Um filme tem mais os “highlights” da história, enquanto na série vemos também o cotidiano, as tramas que talvez lá na frente farão sentido. E temos série de todos os tipos. Algumas nas quais o interior do personagem é a trama. Um bom exemplo seria a maravilhosa Anne with an E. Aqui, os sentimentos, percepções, frustrações são o tema. O que no treinamento 3Dimensional chamamos de espírito.

Outras séries são mais mentais. O foco são as estratégias que os personagens utilizam para resolver problemas. Exemplos não faltam. Sherlock é clássico, mas o meu favorito nesse estilo é o House. O egocêntrico, porém, genial médico que soluciona problemas que ninguém resolve com os métodos mais excêntricos possíveis. Gosto da liberdade dele na busca da solução, abandonando todo o estereótipo do “good doctor” e o foco na solução. Aqui na nossa trilogia chamamos de mente.

Temos séries de ação. Nelas a trama, necessariamente, passa pelo movimento, pela guerra, pela força, pelo risco, pela dor, pelo sexo, pela vitória. Recentemente, assisti uma assim. Vikings. A conquista dos reinos que viria se transformar em Inglaterra pelos dinamarqueses. Muitas cenas são desconfortáveis. Deparamo-nos com muita dor e sofrimento. E, olhando de fora, muitas vezes nada daquilo faz sentido. Não talvez no século XXI, mas naquele momento construiu o mundo que temos hoje. Poderia ser diferente. Não temos como saber se seria melhor ou pior. Mas naquela época era brutal. E essa ação, esse movimento damos o nome de corpo.

Corpo, mente e espírito. Vejo isso até nas séries que assisto. E olha só que interessante. Se Anne é pura emoção, ela também é brilhante do ponto de vista intelectual e extremamente ativa. E vemos claramente que seus sentimentos são sua mola propulsora para agir na vida. Já Dr. House é o que é, principalmente pelo acidente que teve na perna e pelo fracasso no antigo casamento. Sensível como poucos, reprime esse sentimento escancarado demonstrando afetos de uma forma pouco usual, embora, externamente, controle seus gestos e atos para não demonstrar suas fraquezas e vulnerabilidades.

Vulnerabilidades que também encontramos em Ragnar Lothbrok, o mais famoso dos vikings. Apesar de guerreiro, seu personagem é de uma complexidade emocional imensa e um estrategista nato. Ou você acha que uma parede de escudos é um lugar para gente emocionalmente frágil? O ponto que quero abordar aqui é que mesmo quando as tramas têm um foco muito claro no sentimento que quer expressar, se falamos de ser humano, não podemos dissociar corpo, mente e espírito. Porque são os fundamentos básicos dele.

Outra coisa que vemos quando podemos analisar mais a fundo é que tudo tem uma causa, que se modifica em várias outras, e que são poderosos drives para tudo que esses personagens enfrentam. Anne era órfã. E isso explica muitas atitudes que outras pessoas teriam de forma diferente. A lesão, que fazia o gênio prodígio da medicina mancar e usar bengalas se sentindo inferior, fazia House descontar essa frustração no mundo. A pobreza e falta de perspectiva na inóspita terra natal que passa 6 meses embaixo de neve – imagine isso no século VIII sem nossos recursos de hoje, como luz elétrica e água quente – aliada a uma ambição fazem o guerreiro Ragnar entrar em um navio sem rumo no meio do oceano em busca de uma terra que nem sabia se existia.

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Por mais complexos que sejam os personagens, as causas estão sempre ali. E quando eles as desprezam, elas os dominam e, para vencer, tem que olhar com carinho, atenção e honestidade. Encará-las para pôr um fim em suas dores. E é assim comigo e com você. Por isso essa série explica as causas das dores com um olhar mais complexo e mais profundo. Olhando o todo. Olhando o corpo, a mente e o espírito. Hoje vamos abordar mais algumas causas para que possamos encará-las e vencê-las.

As causas das dores – mobilidade (corpo)

Mobilidade ou a ausência dela é uma grande causa das dores e é mais importante do que a maioria das pessoas pensam. Normalmente, acreditamos que ela está relacionada apenas à amplitude dos movimentos. E de certa forma é isso mesmo. Porém, não correlacionamos um movimento limitado a uma causa de dor, transferindo muitas vezes uma lesão ao acaso. Posso explicar isso de várias formas.

Imagine que você está caminhando e distraidamente pisa em um buraco. Se você possui uma amplitude muito boa no movimento do seu tornozelo é possível que essa distração não lhe cause nenhum mal, afinal, mesmo que seu pé vire, ele não vira tanto quanto a sua mobilidade, não danificando, assim, nenhum tecido. Agora se esse seu movimento for limitado, assim que acabar a amplitude do seu tornozelo e o buraco exigir um movimento maior do que sua capacidade, por não a ter disponível, o tecido começa a lesionar.

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Músculos, tendões e ligamentos pagam a conta da sua falta de mobilidade. Obviamente, se alguém te perguntar o que causou sua lesão você dirá que pisou sem querer em um buraco, mas a causa maior é a falta de mobilidade, porque outra pessoa com mais mobilidade não teria se lesionado. Quando coloco a culpa no buraco, não tem o que eu possa fazer, no entanto quando penso nas minhas capacidades tenho como melhorar.

Esse cenário poderia ser diferente também. Vamos supor que não tenha sido um buraquinho, mas um buracão. Aquele que nenhum tornozelo daria conta porque exigiria uma amplitude maior que a capacidade funcional de um tornozelo. Ainda assim, ter mais mobilidade ajudaria a lesão a ser menor.

Vamos imaginar, hipoteticamente, que um tornozelo tem uma capacidade de 10 graus de inversão. Outro tenha 20 e o buraco exigira que os tornozelos tivessem 25. O primeiro a partir do grau 10 já estaria lesionando os tecidos e o segundo, só a partir do grau 20. Duas pessoas diferentes pisariam no mesmo buraco, mas teriam lesões diferentes. E isso se deu pela falta de mobilidade de uma delas.

A mobilidade também te dá maior tempo para o seu corpo reagir. No mesmo exemplo, ao pisar no buraco, antes de entrar no ponto da lesão, seu corpo detecta um movimento diferente do esperado e consegue corrigir. Quando a mobilidade é baixa, antes do corpo detectar, ele já se lesionou, porque qualquer pequeno estímulo é suficiente para o rompimento dos tecidos, visto que a margem é muito pequena. Essa lógica serve para qualquer lesão que levou nosso corpo a alguma amplitude. Seja um pequeno buraco ou acidente de carro.

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A falta de amplitude também gera compensação em outro lugar. Se eu quero fazer um movimento no tênis e meu quadril não tem mobilidade suficiente, a minha coluna compensa isso. Porém, essa compensação pode ser lesiva para a própria coluna. E uma hérnia de disco pode aparecer ali.

Uma outra forma da mobilidade gerar lesão é por meio de quedas. Quando não se tem uma boa mobilidade, nosso centro de gravidade desloca mais e fica muito mais no limite da base de apoio do que se eu tivesse mais mobilidade. Por exemplo, se vou abaixar para pegar algo e tenho mobilidade na coluna, desloco pouco meu centro de gravidade, mas se não tenho, projeto o corpo muito à frente, mais retificado e deslocando muito mais o centro de gravidade ao ponto de algumas vezes sair da base de apoio. Nós só caímos se o centro de gravidade está fora da base. Não há outra possibilidade.

Por isso, e não só, pessoas idosas que têm as articulações mais rígidas caem mais que pessoas mais jovens. E um ganho de mobilidade ajudaria muito nesse cenário. Aliás, falando em ganho, se você pensou em alongamento estático como solução, saiba que isso é um mito, como expliquei nesse texto e no vídeo anexo, além de mais exemplos.

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As causas das dores – controle (mente)

Todo movimento tem uma forma biomecanicamente perfeita de se executar. A forma mais eficiente. Ou seja, a que me desgasto menos para executar. Movimento é uma coisa muito complexa. Tem força, potência, velocidade, amplitude, harmonia, controle motor, atitude, entendimento, coordenação, ou seja, muitas tarefas para o corpo executar a fim de que o movimento aconteça. Em outras palavras, não é feito de forma aleatória, há um controle para que cada uma dessas variáveis componham a melhor organização destas partes. Como já abordamos ao longo dessa série todo excesso de energia se transforma em lesão. E esse excesso se dá por um controle inadequado. Uma organização destas partes menos eficiente. Como aplicar muito mais força que o necessário ou ter uma amplitude maior que a exigida. Um bom exemplo é quando levantamos o braço acima da cabeça. Eu posso chegar ali suavemente ou em um golpe e parando não porque atingi meu objetivo de movimento, mas porque a amplitude deste movimento do meu ombro acabou. Ou seja, quem recebeu esse golpe foi meu ombro que chegou até onde dava e depois só recebeu a pancada do excesso de energia que estava ali. Tudo isso porque o controle deste movimento estava inadequado. Tinha mais força do que o necessário.

De uns tempos para cá tenho percebido as pessoas que chegam no meu estúdio mais aceleradas que o normal. Nas primeiras aulas passo mais tempo desacelerando do que ensinando coisas novas. Muitas pessoas estão se agredindo quando se movem e obviamente isso vai trazer alguma consequência. Por isso insisto em trabalhar o controle, chamo isso de ser gentil com o próprio corpo. Se você quiser entender mais sobre abordei isso nesse vídeo.

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As causas das dores – agressividade (espírito)

Falando em gentileza, vamos para o outro espectro. A agressividade. Na última coluna abordei a passividade, ou a falta de agressividade como causa das dores. Porém, o excesso desta agressividade também o é. Se falamos sempre que excesso de energia geram lesões, uma pessoa com excesso de agressividade está sobrando em energia bélica e com isso se moverá com muita força e tensão desnecessária e com isso ficando mais suscetível às lesões. Eu treino jiu Jitsu, cuja tradução é a arte suave, ou seja, até em uma luta, que obviamente a agressividade é parte, o caminho do sucesso parte do controle desta agressividade. Ao não agirmos sob o controle do instinto conseguimos o nosso controle que falei acima como fundamental. E com isso evitamos os excessos. Inclusive a lógica do Jiu Jitsu é controlar nosso instinto e criar uma estratégia mais eficiente que a pura aplicação de agressividade.

Vamos percebendo que ao longo da vida um ponto muito interessante é o equilíbrio e a harmonia nas nossas ações e comportamentos. Essa harmonia de corpo, mente e espírito potencializa nossa vida. E essa busca se dá em todas as experiências que temos. Até quando vemos nossas séries. Se só vejo um tipo de estímulo me desenvolvo nesse campo, mas não caminho pelos outros. Por isso sugeri três séries que abordam seres complexos que buscam suas evoluções por meios diferentes, tem muito a nos ensinar e são completamente únicos, para que observemos a complexidade dessa vida por diferentes pontos de vista e com isso possamos crescer, porque no fundo o que importa é sair dessa vida melhor do que entramos para que ela valha a pena ser vivida.

Forte abraço

Samorai

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