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SoulCycle: pedal frenético, mente sã

Trilha sonora power, mantras motivacionais e pedaladas coreografadas à luz de velas. Conheça a modalidade que conquistou celebridades americanas ao misturar spinning com uma pegada zen

Por Louise Peres
Atualizado em 22 out 2016, 23h24 - Publicado em 5 Maio 2015, 15h10

Oito da manhã, -8 °C no termômetro de um dos invernos mais frios da história de Nova York. Era o dia perfeito para testar uma aula que promete fazer você pedalar com a alma. A modalidade em questão é o SoulCycle, treino que conjuga bicicleta com exercícios de hipertrofia e – aqui está a diferença para uma aula de spinning qualquer – “um componente mental e motivacional único”. Ali, na sala escura, iluminada por velas e músicas cuidadosamente selecionadas, o desafio é esvaziar a mente e atingir um estado ímpar de relaxamento enquanto encara o treino intenso, capaz de queimar de 500 a 700 calorias, com o ritmo ditado por mantras motivacionais proferidos pelo instrutor. De quebra, os alunos ainda fazem flexões e exercícios com halteres e coreografias com foco no core, trabalhando intensamente os músculos do abdômen durante os 45 minutos de sessão, ao custo de 40 dólares por pessoa. 

Criada em 2006, em Nova York, pelas amigas e empresárias Elizabeth Cutler e Julie Rice, o treino é basicamente uma terapia coletiva em cima da bike. Hoje a proposta de pedal frenético e mente zen já se espalhou por 37 unidades nos Estados Unidos e conquistou gente como Oprah Winfrey, Madonna, Lady Gaga e Bradley Cooper. Nas filiais nova-iorquinas, Angels da Victoria’s Secret, como Behati Prinsloo e Lily Aldridge, são praticantes frequentes. “Para quem consegue, deve ser o nirvana”, pensei. O sucesso do SoulCycle comprova uma tendência forte e cada vez mais difundida mundo afora: a busca pelo bem-estar. Exercícios para o corpo sarado dos sonhos já não são suficientes, e práticas como ioga e meditação, que trabalham a consciência corporal e o equilíbrio espiritual, ganham cada vez mais adeptos. No Brasil, o mix de spinning e terapia mental chegou pela Spin ‘n Soul, aberta em outubro em São Paulo. Com 50 bikes e aulas avulsas custando 39 reais, a marca recria a atmosfera e a proposta da original americana em um studio no Itaim-Bibi. “Não é puramente uma atividade física. É um workout, que busca trabalhar a mente e a alma, e isso está presente inclusive no treinamento dos nossos instrutores, capacitados com o Método DeRose”, explica o empresário paulistano Daniel Nasser, um dos sócios da marca, ao lado de João Bordon e Fábio Tutunjian. Em quatro meses, o trio já conta mais de 2 mil alunos cadastrados e programa a abertura de outras duas unidades na cidade até o fim de 2015.


Nós testamos

Entrei na sala – um retângulo de 40 m² apinhado de bikes, posicionadas em torno do minipalco, de onde o professor comandaria a sessão. Nas paredes, em letras garrafais, leem-se frases motivacionais e inscrições do tipo “Guerreiro. Atleta. Lenda”. No breu, um globo de boate, vazado de luzes, era a única fonte de iluminação. Partition, de Beyoncé, dava o clima pré-aula. Encontrei minha bike (ao retirar seu equipamento, você recebe um número) com o auxílio de uma assistente, que, sabendo que eu era soulcyclist de primeira viagem, parou ao meu lado e fez os ajustes necessários para que eu pedalasse confortavelmente. Como que me preparando para o que estava por vir, ela avisou: “Quando as luzes se
acenderem, vão faltar duas músicas para o fim”. Respirei fundo. Olhei em volta e me surpreendi: nunca tinha visto tamanha concentração de gente descolada, bonita e bem-disposta, com aquele ar saudável de quem dorme oito horas por noite e se alimenta de suco verde, quinua e gojiberry. Fui contaminada rapidamente. Quando vi, já tinha dado adeus à moleza e me preparava para encarar a maratona de suor e meditação, envolvida pelo exército, que já pedalava a toda ao meu redor.

Daniel, parte DJ e parte guru, assume o comando da turma. “Como vocês estão se sentindo hoje, pessoal? É a hora de deixar a energia fluir e se preparar para uma corrida divertida e transformadora!”, disparou o coach, animado, antes de dar o play na sequência de hits do pop que serviria de trilha sonora para suas pílulas de motivação pelos próximos 45 minutos. Cárdio é o principal elemento do treino, que alterna trechos de carga moderada, simulando subidas, com tiros intensos de velocidade. Abra aí um espacinho para coreografias usando o guidom, em que os músculos dos braços são convocados a participar. O treino é pesado – e digo isso como uma pessoa ativa, que pratica exercícios quatro vezes por semana, no mínimo. “Você consegue, você tem o controle desse momento!”, ouvi Daniel berrar, quando Katy Perry se esgoelava no refrão de Dark Horse. Halteres. Flexões. Rotações para fortalecer os oblíquos. Tudo isso sem parar os pedais. Quando achei que meu fim estava próximo, as luzes finalmente se acenderam. Diante da turma, no espelho, enxergo o reflexo do painel que ilustra a parede às nossas costas. Um campo imenso, gramado, sob um céu azul – uma imagem que lembrava aquelas paisagens típicas de filmes de ficção científica, quando naves espaciais descem à Terra. A luz negra deixou a sala em um tom de azul fluorescente, frio, e iluminou o cenário à nossa frente, proporcionando uma espécie de calmante visual. “Chegamos ao Éden, e eu estou viva”, respirei fundo. Mais alguns exercícios de bíceps e tríceps intercalando os braços e de fato, após duas músicas, finalmente a tortura física, mental, espiritual chegou ao fim.

Mais calma? Energizada? Exausta? Sim. Sem dúvida, senti uma diferença no meu humor depois de oxigenar o cérebro e refrescar um pouco as ideias nesse misto de aeróbico pesado com terapia mental. Afinal, nada melhor do que uma boa dose de endorfina para devolver a sanidade ao corpo e à mente, tão castigados por rotinas estressantes, celulares que apitam o tempo todo e pela avalanche de informações que chega ao cérebro diariamente. A experiência é curiosa e até engraçada, a princípio. Mas vale a pena. Sarada e relax, por que não? 

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