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Terminei, e agora? Como superar o fim de um relacionamento

Dizer adeus para a pessoa amada nem sempre é fácil, mas há maneiras mais saudáveis de lidar com a despedida

Por Amanda Ventorin
14 jul 2021, 09h00

Segundo a mitologia grega, no começo dos tempos os humanos eram seres completos com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. Porém, por se acharem seres desenvolvidos, resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, querendo ocupar seus lugares. Após perderem a batalha, Zeus os castigou partindo-os ao meio, condenando a humanidade a procurar sua alma gêmea por toda a eternidade. Quem nunca se viu nessa mitológica busca pelo “parceiro ideal”, alguém para poder contar nos momentos difíceis e se sentir amado? O momento de encontrar quem se busca pode ser maravilhoso, mas lidar com as perdas e términos durante o caminho não é algo fácil. Afinal, como superar o fim de um relacionamento?

Quando saber que uma relação está no fim?

Muitas vezes, em um relacionamento, é difícil perceber a hora de partir. Afinal, você investiu tempo e sentimentos e inseriu aquela pessoa em diversas partes da sua vida. Abrir mão disso não é fácil. “Uma relação é construída 50/50. Um dos sinais que indicam o desgaste de uma relação é quando nosso olhar está para outra coisa, por exemplo, quando a pessoa está trabalhando demais. Já vi casos de um paciente que era médico, dava um plantão atrás do outro e quase não aparecia em casa. Aí você não tem o olhar para a relação. Se olhar para ela, você percebe o quanto o outro está afastado e o quanto as coisas não estão indo bem”, conta a psicóloga Fabiane de Faria, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental.

Outro sinal pode ser os interesses terem se tornado incompatíveis. “É comum que os apaixonados, logo no começo do namoro, digam, por exemplo: ‘nós dois pensamos igual’, ‘temos tanta coisa em comum’, ‘é incrível como a gente combina’ etc. Ao longo do relacionamento, é comum que as situações se alterem, que a rotina mude, ou que as próprias pessoas dirijam alguns interesses para outro lugar. Isto não é ruim para o casal. Quando, contudo, esses interesses começam a ficar incompatíveis, se verificam os primeiros sinais de desgaste”, esclarece a psicóloga Maria RafarO diálogo (ou a falta dele) pode ser também um indicador de que a relação não está tão bem. “Outro sinal é excesso de irritabilidade. O relacionamento quando está desgastado não existe a possibilidade de diálogo. Um quer conversar, o outro não aceita, ou até escuta, mas a conversa não chega a lugar algum” conclui a psicanalista, hipnóloga e terapeuta holística Kélida Marques.

Mas isso quer dizer, necessariamente, que é o fim de tudo? Às vezes, não. Fabiane explica que quando esses desgastes aparecem, ambas as partes do relacionamento devem estar dispostas a tentar novamente, até porque o que um não quer, dois não fazem.

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Ilustração de um coração com diversos pregos perfurados na superfície
(Yulia Reznikov/Getty Images)

 

Eu terminei, e agora?

Engana-se quem acredita que romper uma relação com alguém é mais fácil do que romperem com você. Saber o que vai acontecer e que você irá ferir os sentimentos de uma pessoa pode acabar gerando culpa, solidão e até mesmo insegurança sobre a decisão (costumam vir daí as recaídas). “Antes de qualquer término é bom avaliar se o motivo que está levando você a por um ponto final é irreversível. Uma dica é fazer uma lista do que você gosta e uma lista do que não gosta. O que você gosta OK, e o que não gosta se pergunte: Tem como melhorar? Se sim, coloque: Como? O que vou fazer? Quanto tempo vou me dedicar a isso? Se não tem como melhorar e te incomoda ou te machuca, não vale a pena. E se o motivo do término não vale a pena, escreva bem grande em papel e deixe visível: TERMINEI POR X MOTIVO. A escrita te fará lembrar da dor, incomodo o que fará seu medo ou insegurança desaparecer”, aconselha Kélida. É importante não esquecer o motivo do término, não deixá-lo subconsciente.

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Mas não é porque você não se sente mais confortável em um relacionamento que não deva ter consideração com os sentimentos do outro e fazer do término um momento honesto e cuidadoso. É importante ser sincero sobre seus sentimentos, falas sobre as qualidades no outro e então o motivo por trás do rompimento. As famosas frases: “Você é demais para mim”, “Você merece alguém melhor que eu”, são clichês que não funcionam.  “Se você diz que alguém é maravilhoso ou maravilhosa, porque está terminando e não tentando se igualar? Essas frases definitivamente não funcionam mais. Outra coisa a não se fazer é terminar por telefone, mensagem, post-it, redes sociais. É indelicado. Marque uma conversa e fale abertamente”, aconselha Kélida. 

E o que passou, passou! “Se terminou, não volte ao assunto. Lembre-se que você tentou, fez UMA lista de pontos positivos e negativos e se esforçou naquele momento. Daí você me pergunta: Kélida, o ser humano melhora, será que não devo dar uma chance? Olha, amiga, eu nunca vi um rio correr ao contrário mas sempre em frente: a vida é assim. Ela segue adiante, então se for acontecer um retorno, jamais volte a assuntos do passado”, conclui a psicanalista. 

Relacionamentos abusivos

Sair de um círculo vicioso como uma relação tóxica, desde reconhecer até terminar a situação, não é nada fácil.  “Às vezes, o padrão de autoestima de uma pessoa é tão baixo que ela se submete a um tratamento abusivo achando que ‘merece’, pois de certa forma ela mesma o provocou. No caso das mulheres abusadas (embora em menor número, também há homens abusados), a sua autoimagem é muitas vezes precária e rebaixada. Ela imagina que recebe pouco porque merece pouco… É comum também que uma mulher abusada tenha receio de ficar sozinha e de não conseguir ‘arranjar’ mais ninguém”, alerta Maria Rafart.

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“Esta mulher começa a perceber os abusos quando ela tira de si a culpa que carrega pelos comportamentos do parceiro. Olha para o lado e nota o quanto foi manipulada para que se sentisse partícipe das formas de violência a que foi submetida. No caso de homens abusados, a conduta que vejo mais frequente em meu consultório é aquela da mulher tóxica e controladora, que quer saber todos os rumos, na vida real ou nas redes sociais, do homem que está com ela”.

Muitas vezes, segundo a especialista, um episódio crítico de violência, física ou verbal, pode desencadear a decisão de colocar um ponto final no relacionamento, começando o processo de planejamento e execução desta decisão. Para isso, a terapia é uma grande aliada. “O ego da pessoa abusada encontra-se deteriorado pelas sucessivas humilhações, e ela acredita que tem certa culpa por tudo o que aconteceu, seja pelos fatos em si, seja pelo tempo que levou até tomar a decisão de terminar. Administrar esta culpa é um importante papel da terapia”.

Ter um suporte emocional, como amigos e familiares, também é indispensável para que a pessoa abusada não volte a antigos padrões ou ceda a manipulação do abusador, que é comum após o término. “O abusador deseja o poder. E o seu poder fica enfraquecido quando o abusado vai embora. Ele precisa disso para se alimentar, e vai tentar várias manobras de sedução para reatar. Uma rede de proteção pode não ser suficiente para esta volta, mas pode ajudar muito”, conclui Maria Rafart.

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um alvo com um coração no meio e diversas flechas ao redor, não o acertando.
(3dfoto/Getty Images)

Quando é o outro que não quer mais o relacionamento…

Chocolates, filmes românticos e lenços são sim, uma bela de uma combinação para superar um término. Entender e lidar com o fato de que romperam com você pode ser um processo doloroso e extremamente vulnerável que exige muito respeito por si próprio. Em casos de traição, a psicóloga Fabiane Curvo de Faria diz que é importante analisar a relação: “Superar é olhar para a relação e ver que a entrada de um terceiro ali foi só para pontuar que a relação estava ruim. Para um terceiro entrar no meio, tem que ter um espaço entre o casal”. Não que seja justificável uma traição ou que analisar o relacionamento diminua a raiva, mas ajuda.

Fabiane ainda fala sobre como o término, quando uma das partes ainda tem sentimentos pela outra, demanda uma grande maturidade emocional.  “É uma perda e não tem como exigir muito da gente. A gente vai chorar, vai ter dias tristes, aquele momento de revolta. É como um luto, quando perdemos uma pessoa é como se ela tivesse morrido na nossa vida, não vai mais estar no nosso dia-a-dia, na relação. Então vai ter o período de revolta até a aceitação e entender que a relação não estava boa ou não teria futuro, que chega justamente nesse momento de aceitar o fim”.

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Evitar as redes sociais da pessoa e os lugares onde costumavam ir durante o processo também pode ajudar. “Eu sou a favor do que os olhos não vêm, o coração não sente. Acredito que enquanto não se está preparado, deve evitar mesmo. Dependendo de como terminou, não é uma atitude madura você bloquear, mas esconder, silenciar o perfil, é uma maneira educada de evitar a pessoa”. Ir a restaurantes ou lugares onde há diversas memórias afetivas pode despertar gatilhos de saudade, dificultando a superação.

A chave para superar o fim de um relacionamento é respeitar o seu tempo e suas emoções. Está tudo bem se um dia você quiser ficar no seu quarto e não quiser ver ninguém, está tudo bem se você quiser chorar ou sentir raiva, é um momento seu e você deve fazer aquilo que for curar sua dor. “É preciso aceitar, sofrer e viver aquele momento para também depois mandar para fora”, conta a psicóloga. O tempo considerado saudável de viver a perda do relacionamento, segundo Fabiane, é de três meses.

O nosso tempo emocional é diferente do físico

Não há poção mágica para superar alguém, esquecer dos momentos e sentimentos compartilhados e deixar tudo para trás. A estratégia de se exigir entrar em uma relação nova pois já faz “um bom tempo” desde a última vez que você esteve com alguém também pode se tornar frustrante. “Uma coisa que na terapia ou conversando com profissionais você entende é que nosso tempo emocional  é diferente do nosso tempo físico. É necessário dar tempo para o emocional se curar pois você não vai esquecer a pessoa tão fácil ou deixar de sofrer por ela e isso não te faz fraco.” Apesar da pressão que pode existir para seguir em frente logo, é necessário respeitar a si mesmo e não se forçar a nada. “A gente fala muito de ansiedade hoje em dia e a ânsia está justamente nisso, de querer resolver as coisas logo, de estar preparado logo e o nosso emocional não funciona dessa maneira. Se você tentar fazer as coisas muito rápido pode até acabar adoecendo de outra forma, emocionalmente”, conclui Fabiane.

Danni Suzuki: estrela da capa de julho da Boa Forma
Danni Suzuki: estrela da capa de julho da Boa Forma (Fernanda Araujo/Divulgação)

Esse especial faz parte da edição de julho de 2021 de Boa Forma,
que traz a Danni Suzuki em sua capa. 
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