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Nutrigenética: nutrição baseada no seu DNA

A "nutrição do futuro" se baseia em testes genéticos para direcionar um plano alimentar específico para cada indivíduo

Por Amanda Ventorin
Atualizado em 21 set 2023, 17h42 - Publicado em 8 set 2021, 10h53

Desde cedo escutamos que a alimentação tem papel fundamental na nossa qualidade de vida: caprichar no peixe para a memória nunca falhar… Gengibre para ajudar a acelerar o metabolismo… Reduzir o açúcar… Apostar na cúrcuma… Comer verduras. Mas e se tudo isso for relativo?

Sua necessidade de comer verduras, por exemplo, pode não ser tão grande quanto para outros por conta de um fator: a genética.

Claro, os benefícios dos alimentos não são questionáveis, mas a sua necessidade de investir em uma dieta a base de peixes pode não ser tão grande quanto para outros por conta de um fator: a genética.

Cada indivíduo possui um DNA e polimorfismos (variações genéticas como predisposição a diabetes, pressão alta etc) únicos que demandam alimentos e nutrientes (ou até mesmo suplementos) específicos para sua saúde.

Pode parecer difícil ter essa resposta exata, mas não é impossível. A ciência da nutrigenética e nutrigenômica vem nos últimos anos estudando a maneira como o DNA e os polimorfismos interagem com os hábitos alimentares, fazendo com que seja possível, hoje, fazer um teste de DNA para verificar como modificar esses hábitos e influenciar o genoma conforme a necessidade do indivíduo.

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Ou seja, através do teste de genética é possível descobrir se uma pessoa tem predisposição a doenças cardiovasculares, obesidade, pressão alta, depressão, se possui intolerância a lactose (entre outras diversas variações genéticas) e tentar evitá-las, através da alimentação, antes mesmos dos problemas se manifestarem.

Tudo isso apenas apenas passando um cotonete na parte interna da bochecha!

O que é nutrigenética e nutrigenômica

Apesar de estarem interligadas, nutrigenética e nutrigenômica possuem definições diferentes. A nutrigenômica estuda como alimentos, nutrientes e compostos bioativos ingeridos influenciam o genoma e, consequentemente, nas funções bioquímica e fisiológicas das pessoas.

A nutrigenética é a ciência que estuda como o DNA e os polimorfismos (variações genéticas) respondem aos nossos hábitos alimentares, sendo a parte “prática” do estudo nutrigenômico.

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As pessoas têm respostas diferentes frente às modificações da dieta, graças aos polimorfismos do nosso DNA (menos de 0,1%). Com isso, surgiram as dietas personalizadas conforme o perfil genético de cada pessoa”, explica Giovanna Mainardi, nutróloga pós-graduada em Nutrologia e em Prática Ortomolecular e Nutrigenômica.

O que isso quer dizer? Que por conta dos nossos genes, nem toda dieta ou alimento (por mais benéfica que seja) irá nos ajudar a suprir todas as necessidades de nosso corpo de maneira específica.

Uma pessoa  decide consumir Omega 3 com DHA e EPA pois viu na internet que é bom para a saúde e memória. Ela possui uma condição onde seu fígado não tem uma boa metilação e não desenvolve enzina, não conseguindo metabolizar as gorduras de maneira correta, mas sua memória está fraca. Ela pode precisar (e deve) ingerir o DHA, mas o EPA seria uma gordura a mais, mesmo boa, a ser metabolizada em seu sistema. Ou seja, apesar de estar suprindo uma necessidade, está prejudicando outra parte de seu corpo.

Emagrecimento personalizado

Outro caso que Andréa Cristina da Cunha, nutricionista clínica e Esportiva com Especialização em Nutrigenômica, menciona, é sobre a perda de peso. “Quando temos dois pacientes bem semelhantes  com o mesmo objetivo, o emagrecimento, mas que respondem de forma diferente a uma prescrição dietética bem parecida! Esse emagrecimento será muito mais efetivo e direcionado para o PERFIL GENÉTICO, identificando riscos, nutrientes mais adequados para alcançar o objetivo traçado”, explica.

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“O exame mostrará os polimorfismos ou variações genéticas que podem interferir nas necessidades nutricionais e a suscetibilidade a deficiências nutricionais de cada indivíduo. Por esta razão, os testes Nutrigenéticos auxiliam muito para um planejamento alimentar personalizado, preditivo, preventivo e participativo” e reforça a importância de conhecer cada variação genética em pacientes.

Evitando doenças

Ao estudar nossos genes e descobrir as pré-disposições hereditárias que podemos ter (como problemas cardíacos, alzheimer, diabetes, depressão, pressão alta) através da alimentação, nutrientes e composto bioativos é possível controlar, adiar ou até mesmo erradicar a possibilidade de desenvolvê-las no futuro. 

Andréa Cristina completa “Qualquer intervenção dietética baseada no conhecimento das necessidades nutricionais, estado nutricional, genótipo individual, herança, preferências alimentares, estilo de vida, queixas do paciente, será útil para prevenir, diminuir ou curar uma doença crônica”, conta a nutricionista. “Mas vale ressaltar que apesar do cuidado e a alimentação ser precisa, ela não garante que aquela pré-disposição jamais se manifestará. “Tenho uma paciente que pela parte materna possuía histórico de câncer na família e ela me perguntou se conseguiria, através do através de um Plano Alimentar Personalizado, de acordo com o exame genético dela, se poderia evitar que desenvolva a doença no futuro. É algo que podemos protelar, mas nada garante que a doença não se desenvolva, não podemos prometer isso” finaliza a profissional.

Aptidão para esportes

Outro ponto trabalhado na nutrigenética é a aptidão para esportes que cada indivíduo tem. Com o teste genético, você consegue saber a qual tipo de exercício seu corpo tem mais aptidão (resistência ou força), acelerando (e garantindo) um melhor resultado. Mas isso não significa que, caso a pessoa tenha uma maior resposta em uma área que deva apenas investir nela. Em casos de atletas profissionais, Andréa diz que o teste é interessante para saber a facilidade que o mesmo terá em realizá-lo, fazendo com que o treinador possa focar em áreas específicas visando o melhor condicionamento, e resultado, do atleta.

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Por ser considerada uma “ciência nova” a nutrigenética ainda possui um vasto campo a ser explorado, no qual Lorena Lima Amato, endocrinologista  se vê esperançosa. “A genética é uma ciência muito promissora que tem se desenvolvido rapidamente, e em breve, não somente dietas, mas até mesmo tratamentos medicamentosos serão personalizados de acordo com o perfil genético de cada indivíduo. Especulo que poderemos não só saber a qual dieta o paciente responde melhor com bem estar e perda de peso, por exemplo, mas também a qual medicamento responderá com regressão da doença e com menos efeitos colaterais. O futuro chegou”. Sentimento compartilhado por Andréa “Nutrigenética é uma ferramenta de precisão, através da qual podemos oferecer aos nossos pacientes um Plano Alimentar totalmente direcionado e preciso, sem a ‘tentativa-e-erro’. Tenho absoluta certeza de que é a nutrição do futuro”.

fita de DNA montada com alimentos diversos
(AYDINOZON/Getty Images)

 

O teste genético

Andréa explica que, por uma questão de ética (e escolha) o paciente tem o poder de desejar não saber de todos os polimorfismos apresentados no teste, mas apenas aqueles de seu interesse. Há diversos laboratórios especializados em testes genéticos como Centro de Genoma e ConectGene que contam com testes diversos e seus preços variam entre mil e dois mil reais.

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O teste realizado pela ConectGene NutriFit mostra, a partir da análise do DNA, como o organismo absorve os alimentos, sua predisposição a diversos aspectos relacionados à performance física, estresse e sono. O Kit para coleta é enviado por correio para a coleta do material genético (células da bochecha) com instruções para realização do procedimento de forma simples e segura. A amostra coletada é enviada (gratuitamente) pelos Correios para na sede, que redireciona para um laboratório parceiro em Londres (DNAfit).

Após a análise, a pessoa recebe três tipos de relatório incluídos: “Nutrição”, “Fitness” e “Estresse & Sono”, disponibilizados também pelo aplicativo da ConectGene.

Na parte de nutrição, são testados genes que afetam 12 áreas da Alimentação:

  • Sensibilidade a Gordura Saturada: Eficácia do corpo para absorver e metabolizar a gordura consumidaSensibilidade a Carboidrato: Como o corpo responde a diferentes tipos de carboidrato
  • Capacidade de Desintoxicação: Eficácia da remoção de compostos tóxicos da dieta e do ambiente
  • Necessidade de Antioxidantes: Influência genética na eficácia da neutralização dos radicais livres
  • Necessidade de Ômega 3: Os genes determinam a resposta inflamatória natural, definindo sua necessidade de Ômega- 3
  • Necessidade de Vitamina B: Muitos dos processos do corpo dependem da função das vitaminas do complexo B
  • Necessidade de Vitamina D: Variantes genéticas podem afetar o aproveitamento da vitamina D
  • Sensibilidade a Sal: Risco de desenvolvimento de pressão alta crônica
  • Resposta ao Álcool: Consumo moderado de álcool tem mostrado um efeito positivo nos níveis de colesterol HDL nas pessoas com determinada variante genética
  • Sensibilidade à cafeína: Genes podem interferir na taxa de metabolismo da cafeína e no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e pressão alta
  • Intolerância à Lactose: Variantes genéticas afetam a digestão da lactose na idade adulta e muitas pessoas podem perder a capacidade de digeri-la
  • Predisposição à Doença Celíaca: Indivíduos com certas variantes genéticas têm um risco maior de desenvolver a doença celíaca (condição autoimune que afeta o intestino delgado

Em Fitness, 5 marcadores são estudados:

  • Resposta à intensidade do treinamento
  • Nível de treino aeróbico
  • Predisposição à lesão
  • Perfil de recuperação
  • Necessidades nutricionais de recuperação

E, em Estresse e Sono, 5 marcadores:

  • Tolerância ao estresse
  • Performance sob pressão
  • Bioritmo
  • Qualidade de sono
  • Resposta à cafeína

A nutróloga Giovanna Mainardi explica que, na maioria dos casos, a necessidade de investigação é baseada em uma entrevista feita com o paciente, doenças pregressas, histórico familiar, exame físico e interpretações de exames laboratoriais. “Todos possuímos polimorfismos que na maior parte das vezes não se manifestam. Entretanto, algumas pessoas se beneficiam muito da análise do DNA, entre elas estão indivíduos que necessitam da confirmação de doença genética pré-existente, que temem transmitir doenças hereditárias e que estão em tratamento de doenças crônicas. Também todos os indivíduos que desejam prevenir uma doença multifatorial”.

Carol Gattaz: capa da Boa Forma de setembro
Carol Gattaz: capa da Boa Forma de setembro (Patty Lima/BOA FORMA)

Esse especial faz parte da edição de setembro de 2021 de Boa Forma,
que traz a jogadora de vôlei Carol Gattaz em sua capa. 
Clique aqui para conferir os outros especiais.

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