Cirurgia de tumor cerebral pode deixar sequelas?
A descoberta de um tumor em qualquer parte do corpo, especialmente no cérebro, costuma ser acompanhada de muito medo e apreensão, pois afinal é esse órgão que comanda nosso corpo. Nesse contexto de insegurança, muitos pacientes geralmente questionam se vale mesmo a pena operar e se a cirurgia pode deixar sequelas. De uma forma geral, praticamente todos as lesões que aparecem no cérebro e que nos levem a suspeitar de tumor merecem ser operadas; temos como exceções algumas lesões que são muito arriscadas para serem operadas, alguns tumores muito benignos e pequenos que podem ser apenas observados, e raros tumores mais comuns em crianças que soltam marcadores no sangue e na água que banha o cérebro (líquor) que podem ser imediatamente tratados, pois a cirurgia não gera benefício. As cirurgias costumam ser tranquilas, e existem várias formas de evitarmos que a cirurgia deixe sequelas, assim podemos tranquilizar bastante os pacientes que vão precisar enfrentar o centro cirúrgico.
Geralmente a cirurgia exige muita técnica do médico. O neurocirurgião faz um pequeno corte e chega no cérebro com muita cautela, entrando e sempre afastando gentilmente as estruturas nobres. Geralmente o tumor vai sendo removido com materiais cirúrgicos pequenos, aspirando muitas vezes, e com ajuda de microscópio, além da ajuda de outros médicos, que ficam observando de diversas formas se o paciente apresenta qualquer risco de sequela ou se o cirurgião está próximo de alguma parte nobre, como a área da fala e da visão. Costumam ser cirurgias não muito longas, com uma recuperação rápida que costuma levar um dia na UTI (geralmente mera precaução, zelo) e um a dois dias no quarto antes da alta. Às vezes, pela inflamação que a cirurgia gera, alguma dificuldade neurológica momentânea pode ficar aparente após a cirurgia, mas quase todas elas somem após alguns dias.
A maioria dos estudos demonstra raríssimas sequelas quando a cirurgia foi extremamente segura e bem planejada
Com relação às sequelas, ao decidir operar, os médicos nunca têm como objetivo deixar sequelas. A maioria dos estudos demonstra raríssimas sequelas quando a cirurgia foi extremamente segura e bem planejada, e realizada por profissional bem treinado e com conhecimento em neuro-oncologia cirúrgica. Quando um neurocirurgião entra em campo para operar um paciente é para retirar o máximo de tumor possível sem deixar danos. No entanto, sintomas neurológicos no pós-operatório podem ser comuns, e dependem muito do tamanho do tumor e aonde ele está, mas devem ser transitórios. O cérebro não gosta que alguém toque nele, mexa e movimente ele, além do fato de que a remoção do tumor pode gerar uma inflamação por algum tempo, afetando zonas totalmente saudáveis do cérebro. Na recuperação após a cirurgia, muita coisa acontece, o ar que entra some, sangue é limpado pelo próprio corpo do paciente, o cérebro ‘se ajeita’ novamente, e a inflamação reduz, fazendo com que os sintomas sumam. Pacientes que apresentam sequelas fixas são pacientes que já tinham áreas do cérebro infiltradas pelo tumor, e mesmo que o cirurgião não retirasse, ainda assim teriam um déficit decorrente disso.
DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).
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