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Espiritualidade prática, com Debora Pivotto

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As lições de uma Olimpíada protagonizada por mulheres

Por Debora Pivotto
Atualizado em 21 out 2024, 22h27 - Publicado em 15 ago 2024, 18h28
Rebeca Andrade, Simone Biles e Jordan Chiles no pódio do Solo na Ginástica
Rebeca Andrade, Simone Biles e Jordan Chiles no pódio do Solo na Ginástica (Gabriel BOUYS/AFP/Getty Images)
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Essa Olimpíada desde o início se propôs a ser uma defensora da igualdade de gênero. E de fato, houve uma grande melhora. O número de atletas mulheres não chegou a igualar ao dos homens, mas foi muito maior do que as edições anteriores: tivemos 5455 mulheres, apenas 200 a menos do que os 5655 homens competindo. 

Mas acho que muito mais do que um ganho numérico, essa olimpíada foi muito importante porque as mulheres conseguiram protagonizar os melhores momentos. E acho até que apresentaram um jeito mais humanizado e amoroso de competir e de se colocar como atletas. 

Não à toa, a foto mais emblemática e mais comentada de toda a competição foi a do pódio de Rebeca Andrade, Simone Biles e Jordan Chiles, em que as americanas reverenciaram a brasileira, num gesto bonito de reconhecimento e humildade. Aliás, a americana acabou perdendo o bronze pra a ginasta romena após uma decisão da Corte Arbitral do Esporte, o que me fez pensar como aquele pódio e aquela foto parece que realmente tinham que acontecer. Para ficar registrado na história que é possível sim competir bravamente nos jogos, ser as melhores do mundo, e ainda honrar e reverenciar o talento de seus adversários.  

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Outra grande lição que Rebeca e Biles deram ao mundo foi falar diversas vezes publicamente sobre a importância da terapia na vida delas. A americana falou do quanto o trabalho com sua psicóloga foi essencial para ela poder voltar a competir com confiança e lidar com a pressão que sofre para ter resultados sempre incríveis. Ela faz terapia religiosamente todas as quintas-feiras e conversa com sua terapeuta nas manhãs que antecedem os momentos mais decisivos das competições. 

Rebeca falou no Jornal Nacional o quanto as conversas com a sua psicóloga foram fundamentais pra ela conseguir manter o foco sem se sentir obrigada a trazer mais uma medalha para o Brasil. Falou que estava ali fazendo o que ama fazer e que aprendeu que deve lidar com a ginástica como sendo o trabalho dela, assim como qualquer outra pessoa que tem um emprego – o que a ajudou muito a levar momentos de pura adrenalina com mais leveza. 

O que eu acho grandioso nessas falas e nestas posturas, é ver duas super campeãs olímpicas exaltando a importância do autocuidado e mostrando que conhecer e lidar com as próprias emoções é condição básica para dar o melhor de si nas competições (e na vida né). É tão fundamental quanto a rotina de treino. É sair do velho estereótipo de que atletas são semi-deuses, super heróis ou pessoas que tem um capacidade de superar os seus limites custe o que custar. Isso não é verdade. 

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Pode parecer óbvio, mas não é. O esporte de alta performance ainda é um meio muito masculino, competitivo e que, muitas vezes, impõe um ritmo de treino e performance que pode ser muito massacrante se não vier acompanhado de acolhimento e preparo para lidar com as frustrações. Ainda vemos muitos atletas aos prantos pedindo desculpas por não ter conquistado uma medalha ou se sentindo a pior das pessoas por ter tido um resultado abaixo do esperado. Como foi o caso da judoca japonesa Uta Abe que saiu do tatame gritando de desespero quando perdeu a luta que valia ouro e ficou “apenas” com a prata. 

Então, estamos falando de uma mudança cultural que leva tempo, é gradual. Mas são visíveis os avanços que as mulheres vem trazendo para as competições. 

Além da dupla Rebeca e Simone, outras mulheres também brilharam muito. A judoca francesa Clarisse Agbegnenou conquistou mudanças na Federação Internacional de Judô para poder amamentar a filha durante a frase prepatória e durante os jogos olimpicos. A pugilista argelina Imane Khelif levou ouro levou depois de enfrentar muitos preconceitos por questões de gênero. Teve também a ginasta Kaylia Nemour, nascida e criada na França, que por não aceitar algumas imposições da Federeção Francesa de Ginástica, competiu representando a Argélia, terra dos seus avós – e ganhou ouro nas barras assimétricas, a primeira medalha no esporte para um país africano. O time de futebol brasileiro que fez uma campanha incrível, brigou e resistiu até aos 16 minutos de acréscimo para conquistar a prata e retomar um lugar de destaque que elas merecem.  

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Enfim, foram muitas mulheres maravilhosas e corajosas fazendo história. O que nos enche de muito orgulho e ansiedade para viver os jogos de Los Angeles em 2028.  

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