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Nutrição sem restrição, com Marina Nogueira

A nutricionista Marina Nogueira, do @naocontocalorias, fala sobre alimentação, comportamento, ciência e saúde

O peso da balança

Por Marina Nogueira
Atualizado em 21 out 2024, 22h28 - Publicado em 14 jun 2021, 20h15
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Não deixe o número te privar dos prazeres da vida  (puhhha/Thinkstock/Getty Images)
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Uma balança no banheiro é objeto obrigatório pra muita gente. Acordar, fazer xixi, tirar a roupa e subir para saber para onde o visor aponta. Algumas pessoas também se pesam de noite – e observam, quase que sem exceção, a variação do peso. 

Se pesar diariamente tem pontos positivos ou negativos. Há quem se beneficie em subir na balança com frequência, já que isso pode auxiliar a pessoa a se manter num peso que ela julga interessante. Geralmente essa pessoa tem uma boa relação com a comida, não vive de dieta, entende que todos temos pequenas variações de peso e vive uma relação de neutralidade com o próprio corpo. Se você é essa pessoa – ou seja, não sofre pra se pesar, não se escraviza pelo número e mantém o peso sem grandes oscilações de número e comportamento – siga no seu hábito. 

Mas se a balança determina sua alimentação, e seu humor e suas atividades físicas: hora de repensar o hábito. Há vários comportamentos comuns entre as pessoas que se pesam muito e vêem o peso oscilando – para cima ou para baixo.  

Muita gente vê o peso aumentando e começa restrição – ou abre mão do cuidado alimentar de vez; ao passo que, quando observa o peso diminuindo, libera geral – ou aperta o cerco de maneira excessiva. Ou seja: subir na balança com frequência pode provocar ansiedade e te levar a tomar decisões sem muito sentido. 

Outro problema da balança é a referência. Tem gente que gostaria de estar com um peso menor, com um corpo menor, mas não se pesa há anos. Tem na memória aquele número de anos atrás, quando a vida era diferente. Ao subir na balança e ver que esse número mudou, o sofrimento é intenso. Para uns, tão intenso que decisões drásticas são tomadas baseadas num número que simboliza um momento muito diferente de vida.

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Quando se pesar?

Não há uma fórmula certa para se pesar: 1 vez por semana, 1 vez por mês, todos os dias… Subir e olhar o número no visor pode afetar muito ou nada – depende de cada um. Mas de maneira geral, eu não julgo fundamental uma frequência tão constante.

Uma vez que subimos na balança e ficamos presos num peso objetivo, esquecemos do nosso corpo. Damos lugar a um número ao invés da nossa consciência corporal. Quem nunca se sentiu melhor na própria pele mas ao subir na balança não viu mudança e se sentiu frustrado? E quem nunca está satisfeito, apesar de toda as coisas ao redor estarem muito boas?

O hábito de se pesar é aprendido desde cedo. Conforme os números mostraram, grande parte aprendeu a se pesar vendo os pais se pesando. Tratar o vínculo com o número da balança como algo normal pode ser perigoso. 

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Uma pesquisa feita pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, em 2014 mostrou um resultado alarmante: num grupo de meninas e mulheres entre 10 e 24 anos, 46% delas afirmaram crer que pessoas magras são mais felizes. A pressão para emagrecer, a ideia de que viver de dieta é normal é aprendida desde cedo, através da mídia e também dentro de casa. E uma das formas de viver isso desde sempre, é vendo os pais subindo na balança. 

Converso muito no meu consultório sobre as cobranças relacionadas ao peso e hábitos de dieta. A maioria das pessoas começou cedo nessa vida, influenciadas por pais que também acreditavam na necessidade do corpo padrão e numa alimentação perfeita. Sempre falo que não dá pra voltar no tempo e explicar para esses pais que, mesmo agindo com zelo, essa cobrança poderia trazer consequências ruins. E não dá para culpá-los: na grande maioria eles estavam com boas intenções. Porém, dá pra pensar no que vamos ser daqui para frente.

Se você chegou no final desse texto e reconheceu que sua luta diária com a balança (e com o corpo) é uma herança familiar, te faço um convite: você pode não conseguir desconstruir e reconstruir tudo isso de maneira completa. Mas você pode mudar a sua forma de pensar e sua relação com peso e corpo a partir daqui.

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Comece a entender que, na maioria das vezes, o que você busca é uma boa sensação estética, que independe do mundo. E que classificações de peso utilizadas atualmente são bem discutíveis. No próximo texto, prometo contar um pouco sobre o IMC, assim você vai considerando se continua ou não com esse hábito diário de se pesar.

Ah, e claro. Se você tem algum transtorno alimentar ou acredita ter, converse com o especialista sobre o assunto. 

Até a próxima!

Marina

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