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Manu Gavassi: a constante busca por equilíbrio

A atriz, cantora, roteirista e diretora fala sobre seu amadurecimento diante e atrás das câmeras

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 21 out 2024, 16h49 - Publicado em 9 jan 2023, 08h00
Manu-Capa-Ilustracao
 (Manu-Capa-Ilustracao/BOA FORMA)
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Manu Gavassi na capa de Boa Forma
Manu Gavassi, com ilustração por Anamaria Sabino e foto por (Lorena Dini/BOA FORMA)

Manu Gavassi não se lembrava que essa era a nossa segunda conversa como entrevistadora e entrevistada. Pudera, com uma carreira como a dela, com entrevistas que acontecem com uma frequência absurda, não é de se espantar. Mas a primeira vez que conversamos foi em 2015, quando ela interpretava Vicki na novela teen Malhação: Sonhos, da Tv Globo. 

De lá para cá, muita coisa aconteceu. Não só no mundo, mas na vida de Manu: foram muitos álbuns e singles lançados, muitos filmes feitos, participações em séries e novelas, um reality show… E, aliás, que reality show!

Manu se consagrou como um fenômeno da internet quando revolucionou a maneira de usar redes sociais enquanto estava confinada no Big Brother Brasil 20, o mesmo que serviu de conforto enquanto, do lado de fora, todo mundo também se via confinado por causa da pandemia de coronavírus

Por isso, conversar novamente com Manu foi uma viagem no tempo. Muito mais madura, com uma visão totalmente diferente de como lidar com a internet, uma carreira múltipla e muito bem estabelecida e novos projetos incríveis a caminho, Manu tem muito a dizer — e nós, a ouvir. 

 

Manu Gavassi para Boa Forma
“Eu nunca seria 100% feliz sendo só cantora” Manu Gavassi por (Lorena Dini/BOA FORMA)

Você tem uma carreira múltipla. Você sempre pensou em seguir esse caminho ou isso aconteceu naturalmente? 

Eu acho que nem tinha essa dimensão. Eu vejo hoje como os meus pais sempre viram isso em mim, eu sempre gostei muito de várias coisas, mas eu precisei em algum momento decidir por uma. E a música acabou acontecendo mais cedo, profissionalmente, embora desde pequena eu sempre fizesse testes de atriz. Eu lembro dessas minhas vontades desde nova, mas o que se manifestou antes foi a parte musical.

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Mas eu sempre “atirei para todos os lados” e, hoje, eu vejo que penso de maneira mais organizada, eu tenho todas essas vertentes e tento organizá-las, mas nunca foi um plano, foi algo que foi acontecendo naturalmente. 

Agora parece que você está se concentrando mais na atuação.

E acho que é por aí. Eu fiz Malhação, cheguei a fazer pontinhas em filmes, mas nunca era algo que eu conseguia me dar o tempo de me dedicar, logo a percepção das pessoas era “ela não é atriz”, “acho que ela brinca de fazer isso às vezes” e, agora, com esses trabalhos recentes, como Maldivas [série da Netflix], as pessoas começaram a entender, “a Manu trabalha também nisso”, e anda de igual para igual com a minha carreira de cantora. 

Eu me sinto incompleta sem um dos lados. Eu nunca seria 100% feliz sendo só cantora, eu adoro inventar, ser outras pessoas, estudar e pegar personagens mais desafiadores.

Mas, claro, é impossível tirar a música da minha vida, é a minha essência, a maneira como eu me comunico e muitas coisas começaram para mim pela música – até essa coisa de direção, começou muito através dos meus experimentos com a minha carreira musical. Hoje eu acho que tô num lugar de trabalhar com força.

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Manu Gavassi para Boa Forma
“Eu quero fazer no futuro um Acústico MTV que homenageie a minha própria discografia” Manu Gavassi por (Lorena Dini/BOA FORMA)

Você recentemente gravou um filme com o Rafael Infante, o ‘Não Tem Volta’. Pode contar um pouco da experiência? 

Eu acabei de finalizar o filme, foi uma gravação rápida, de menos de dois meses. É uma comédia romântica de ação, foi surpreendente! O diretor [Cesar Rodrigues] deu muita liberdade para a gente criar em cima do texto, e criar em cima desse casal, foi muito legal mesmo. Eu estava com muita vontade de fazer um filme assim. 

Ele queria uma comédia real desses dois atores, e muita coisa acabava saindo dessa naturalidade da gente improvisar. Acabava sendo uma graça verdadeira. Apesar de o tema ser completamente louco: um cara que contrata uma empresa para matá-lo porque ele não tem coragem de fazer isso. Esses momentos desse casal acabam sendo muito reais. Eu acho que cresci muito como atriz. 

Você também gravou um Acústico MTV em homenagem à Rita Lee… ela é uma influência para você?

Sempre foi, quanto mais eu descubro dela, mais é! Eu fui descobrindo que ela tinha um programa na MTV, foi uma das primeiras VJs, e isso era além da carreira dela de cantora. Eu fui achando coisas na carreira da Rita e falando “caramba, a gente é parecida”.

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Ela também sempre gostou muito de atuar, de moda, de uma maneira que ela foi extremamente inventiva no jeito que ela construiu a carreira dela, desde os Mutantes… eu acho a Rita muito criativa, ela sai de todas as caixinhas, é a artista feminina mais diferente e já era compositora num momento em que não tinham muitas mulheres compositoras ainda. Ela sempre foi feminista de nascença e falando sobre a história dela, sobre sexo quando ainda era tabu, eu sempre achei ela muito corajosa, sempre foi referência. 

Quando rolou esse convite, a gente teve essa ideia, eu e o Felipe Simas, nós pensamos “Por que não fazer disso uma homenagem?”. Eu acho que ainda tenho muito para fazer na minha carreira musical e eu quero fazer no futuro um Acústico MTV que homenageie a minha própria discografia, mas por que não aproveitar essa oportunidade, sobre o meu disco favorito da Rita? Eram composições de outras pessoas, eu me senti mais livre, tirei um pouco do peso. Para mim, foi algo que eu encarei como uma homenagem de alguém que ama esse álbum e que quer celebrar esse álbum… essa foi a magia, foi um projeto muito lindo e no final das contas ficou um híbrido do que é o meu universo e o da Rita. Eu usei roupas que eu usei em Gracinha também, reciclagem de roupas que eu já tinha usado em outros momentos, chamei uma banda 100% feminina… 

Manu Gavassi para Boa Forma
“Com o BBB tudo aumentou. Mas, como pessoa, eu continuo exatamente a mesma” Manu Gavassi por (Lorena Dini/BOA FORMA)

Manu, você já era uma pessoa pública antes do BBB, mas com o reality… parece que a sua presença na internet explodiu! O que mudou depois do programa? 

Mudou muita coisa em termos de proporção. [Com o BBB] Tudo aumentou, existe um conhecimento maior de quem eu sou, mais oportunidades de trabalho em consequência disso, as oportunidades que eu tenho hoje são maiores. Mas, como pessoa, eu continuo exatamente a mesma, eu sou a mesma garota que sempre fez um pouco de tudo, sempre é um pouquinho mal-compreendida! 

Eu continuo sendo muito parecida, mas eu acho que o que mudou foi a minha amplitude, eu ampliei os meus resultados, não tem nem o que falar. Foi um plano muito bem-sucedido, mas a minha essência continua sendo a mesma, eu continuo sendo essa menina mulher que continua a mesma. 

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Também deve ter sido um momento muito doido para você, porque vocês estavam na casa quando a pandemia de coronavírus começou… 

Não dá para saber. Será que o programa teria sido tão assistido? Teria tido o mesmo peso na vida das pessoas? É louco pensar que foi um período muito específico. 

Manu Gavassi para Boa Forma
“Eu quero que a minha carreira reverbere mais que a minha persona celebridade” Manu Gavassi por (Lorena Dini/BOA FORMA)

Acho que não teve uma pessoa antenada no programa que não viu o que você fez nas redes sociais… Depois daquele momento tão marcante, como é a sua relação com a internet hoje? 

Hoje eu sou muito mais cuidadosa do que era. Tudo o que eu falar, agora é vezes 10. Se antes eu fazia uma piadinha, tinha um peso, depois do BBB tem outro peso, virou uma enxurrada de notícias e eu lembro que isso me assustou. Eu pensei que teria que aprender a me resguardar um pouco mais, porque se eu quero que a minha carreira reverbere mais que a minha persona celebridade, e se eu ficar fazendo disso um grande espetáculo, as pessoas sempre vão querer mais disso. 

A minha presença online é um pouco menor por isso, foi algo que eu decidi. Eu já tenho um distanciamento e foi a melhor decisão mesmo, e eu to muito feliz com os convites que vem até a mim e o respeito que eu recebo, até da mídia. Eu tenho posto um respeito com a minha atitude e é assim que eu me sinto tratada. Eu sou muito grata à internet, é uma plataforma que eu sei que sempre vou ter ideias novas e que vou saber usar independente do que estiver acontecendo, mas a internet sempre me ajudou muito a realizar as minhas ideias. 

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Amigos meus do meio e pessoas com quem eu trabalho, falam para mim: “O que você faz no seu dia a dia? Porque pra mim você fica no alto de um castelo, penteando o cabelo e meditando e de repente desce pra trabalhar!” Eu que vivo a minha vida sei o quanto é caótica, eu tenho muitas ideias, questionamentos, eu não consigo ficar parada, preciso aprender a tirar momentos de descanso, porque eu fico sempre pensando… então, é muito engraçado essa imagem zen porque eu não exponho. 

Você começou na Capricho, já como filha da internet, e desde então se firmou como artista. Como você se sente ao ter crescido em um ambiente que supervaloriza a aparência? Seja na TV, na internet ou no meio musical, isso é bastante cobrado, né?

Cara, acho que são fases e fases, é uma cobrança que meio que não muda. Agora a gente tem mais vozes, a gente caminha para questionamentos, existem vozes mostrando o que é ser diferente e que isso é normal. A gente tem mais vozes por causa da internet, mas a cobrança sempre vai existir porque é uma maneira de controlar. 

Sempre existiram obstáculos para gente nunca conseguir atingir o nosso potencial, eu vejo isso até hoje. A nossa luta está sendo mais vista e as gerações mais novas já vêm com informações que eu não tinha. Quanto a mim, eu sempre me senti cobrada, mas eu sempre tive uma base, um pezinho no chão, não que não tenha cometido erros, estéticas que eu vivi, decisões que não eram minhas… eu falei do meu explante de silicone.

Você tem que pensar com a sua própria cabeça, mas é muito complicado falar isso, porque é estranho para a gente entender o que faz bem e não faz, o que tá cortado por uma vivência. Eu acho que o exercício é tentar descontaminar: que parte de mim está insatisfeita com minha aparência ou só insegura com a percepção do outro? Eu sou infeliz com o meu corpo ou tão me falando isso? Eu acho que, hoje em dia, mais velha, eu me questiono. Talvez mais nova eu fosse mais impulsiva. Por que eu não posso ir experimentando? E eu continuo me descobrindo, porque a gente continua vivendo essa pressão, é uma constante. 

Manu Gavassi para Boa Forma
“Que parte de mim está insatisfeita com minha aparência ou só insegura com a percepção do outro?” Manu Gavassi por (Lorena Dini/BOA FORMA)

E como é sua rotina de cuidados com beleza? 

Eu cuido muito da minha pele, foi a maior libertação quando eu entendi que, se eu cuidasse da minha pele, eu poderia me sentir bonita sem maquiagem, eu não seria refém de um artifício… mais nova eu precisava dela, eu queria esconder a pele, eu não me sentia bonita, crescida, mulher, eu usava muito mais. Hoje, é raríssimo eu usar maquiagem no meu dia a dia, eu gosto de usar para sair, mas cuidar da minha pele me deu liberdade de me aceitar mais, eu gosto de mim do jeito que eu sou. 

O lance do meu cabelo também. Eu praticamente raspei a cabeça na época que eu estava gravando Gracinha e eu fui deixando ele crescer sem nenhuma pressão sobre a textura, volume… O fato de eu deixá-lo crescer naturalmente foi uma libertação muito grande, eu passei por todas as fases por um cabelo crescendo, que eu não lembrava mais como era. E eu via comentários muito duros, “ela tá na fase mais feia dela”. E eu pensava “Dane-se! Tá sendo tão legal!”, tão libertador! Quando você não tem isso como um símbolo de beleza, você começa a ver beleza em tantas outras coisas… para mim, foram vários experimentos. 

Por mais que você decida usar o cabelo assim ou não, você não tem mais medo, você sabe lidar, o que você gosta e não gosta, para mim isso é o mais importante e isso me deixou muito mais segura! Eu sei quem eu sou!

Você também costuma cuidar do seu corpo?

Meu sonho é ter uma rotina de exercícios. Como a minha vida é muito maluca, tem períodos que eu começo a filmar às 5h da manhã, e toda a minha energia vai pro trabalho. Eu tenho dificuldade de ter uma rotina, mas tem alguns exercícios que eu descobri que me fazem bem: Ioga, pilates… Eu gosto de funcional quando não é algo que agride o meu corpo, que é a mais do que eu consigo aguentar.

São essas coisas que me fazem bem, que me fazem sentir que o meu corpo tá vivo e saudável. 

Manu Gavassi para Boa Forma
“Foi a maior libertação quando eu entendi que, se eu cuidasse da minha pele, eu poderia me sentir bonita sem maquiagem” Manu Gavassi por (Lorena Dini/BOA FORMA)

Como é a sua alimentação?

Eu sempre gostei muito de comer e de comer bem. Eu sempre gostei muito de comida feitinha em casa. Crescendo, sempre foi uma realidade para mim e era natural. E hoje em dia eu tento cuidar muito da alimentação. Eu entendi coisas que inflamam o meu corpo e eu sei dosar. Não quer dizer que eu não vou comer mais, mas eu vou tirar do dia a dia e deixar para ocasiões especiais. Eu entendo o que eu posso comer no dia a dia e o que não, eu consigo ser flex nas minhas decisões, mas na minha casa eu não como carne. 

Eu cuido bastante da minha alimentação, principalmente quando eu trabalho muito. Eu ficava muito desequilibrada e eu entendi que. se colocasse uma regra de dormir e comer bem, mesmo com todas as horas do dia estando preenchidas com trabalho, eu rendia muito mais, conseguia ficar muito mais equilibrada, isso virou um hábito. 

Por fim: o que é bem-estar para você? 

Para mim, bem-estar é você estar feliz com você mesma, mas isso vem muito de um equilíbrio físico e mental. Fazer exercícios obsessivamente, pensando no físico nunca vai te deixar bem. Agora, encontrar um exercício que você goste, que faça você se sentir viva e encontrar alguma coisa mental que seja espiritualidade, qualquer vertente que faça você se sentir bem com a sua mente, isso é bem-estar.

Você estar equilibrado com o seu corpo e mente. E isso é uma luta para vida inteira. Não quer dizer que todo momento eu consigo estar equilibrada, às vezes você tá ansiosa demais… O que eu tento hoje para ter bem-estar é me perguntar: o que eu tô negligenciando? O que eu preciso cuidar pra me sentir bem e disposta comigo? 

Você pode saber exatamente a forma e não conseguir por meses, porque a vida acontece! E aí você acaba deixando de lado uma parada que faz tão bem. Eu fiquei meses sem meditar, aí eu voltei a ter umas crises de ansiedade, e pensei “o que tá acontecendo?”, até que conclui “é claro, eu nunca mais fiz uma coisa que me faz bem”.

É se observar constantemente. 

Manu Gavassi para Boa Forma
“Eu entendi que, se colocasse uma regra de dormir e comer bem, eu rendia muito mais” Manu Gavassi por (Lorena Dini/BOA FORMA)

 

Foto | Lorena Dini
Assistente de foto | Sthefanny Capelos
Tratamento | Marcela Dini / Estudio Baleia
Ilustração | Anamaria Sabino
Beleza | Helder Rodrigues
Styling | Carol Roquete
Assessoria de imprensa | Access Midia

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