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Microbiota do útero pode influenciar na fertilidade feminina

A microbiota do útero em desequilíbrio pode dificultar a implantação do embrião no endométrio, além de favorecer o risco de complicações

Por Pedro Del Claro
17 fev 2022, 10h00

Até pouco tempo, falar sobre a presença de microrganismos no corpo, para muitos, era sinal de doenças. Mas, pouco a pouco, estamos entendendo melhor a importância das bactérias que habitam nosso organismo e formam o que chamamos de microbiota.

O conceito de cuidar da microbiota tem se tornado cada vez mais popular, principalmente no caso do intestino e da pele, como forma de garantir a manutenção da saúde desses órgãos. No entanto, apesar de menos comentados, outros órgãos também dependem do equilíbrio da microbiota para funcionarem corretamente.

A MICROBIOTA UTERINA

Ela está diretamente relacionada com a fertilidade feminina e as chances de gravidez. “Sabemos que a mulher possui um conjunto de bactérias saudáveis e também potencialmente patogênicas dentro da cavidade uterina. Estudos recentes mostram que mulheres que possuem um desequilíbrio entre a população de bactérias saudáveis e potencialmente patogênicas podem ter uma maior dificuldade de implantação do embrião no endométrio, isto é, a mucosa que reveste o útero, diminuindo assim a chance de gravidez até mesmo em procedimentos de fertilização in vitro”, destaca o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

PROBLEMAS DE UMA MICROBIOTA RUIM

Segundo o especialista, além de dificultar a implantação do embrião, desequilíbrios na microbiota uterina também estão relacionados com complicações durante o percurso da gestação, com aumento no risco de aborto e ruptura precoce de membranas, o que pode levar ao parto prematuro. “No geral, identificamos um desequilíbrio na microbiota do útero quando há uma diminuição na quantidade de um grupo de bactérias conhecidas como lactobacilos, que são responsáveis por impedir a proliferação de bactérias prejudiciais. Logo, quando não há uma quantidade suficiente de lactobacilos, temos uma disbiose da microbiota uterina com maior proliferação de agentes patógenos que prejudicam a implantação do embrião. Isso explica muitos casos de falhas em tratamentos de reprodução assistida em pacientes onde tudo parecia favorável para o sucesso da gravidez. Na verdade, cerca de 20% das falhas de implantação na Fertilização In Vitro são causadas por fator endometrial, o que pode incluir a disbiose da microbiota da região” alerta o médico.

Por isso, caso você esteja tentando engravidar há mais de um ano sem sucesso, é recomendado visitar um especialista em reprodução humana para verificar o estado da microbiota uterina. “Felizmente hoje já existem testes capazes de verificar o estado da microbiota uterina, como é o caso do exame EMMA (Análise Metagenômica do Microbioma Endometrial) e ALICE (Análise de Infecção por Endometrite Crônica), ambos realizados a partir da biópsia do tecido endometrial, que é feita de forma rápida, simples e segura no consultório médico”, destaca o médico. “Enquanto o exame EMMA é capaz de analisar o perfil completo do ambiente microbiano endometrial para verificar se é favorável para a implantação embrionária, o exame ALICE visa identificar microrganismos comumente associados à endometrite crônica, uma inflamação do endométrio causado por uma infecção no útero por bactérias patogênicas. E o melhor é que ambos os exames podem ser realizados com a mesma amostra utilizada para o teste ERA, muito comum em procedimentos de reprodução assistida, já que tem como objetivo justamente avaliar a receptividade endometrial.”

Uma vez diagnosticada a disbiose endometrial, o médico poderá recomendar o tratamento mais adequado para o seu caso antes de dar continuidade aos procedimentos de reprodução humana. “O tratamento do desequilíbrio na microbiota do útero vai variar de acordo com a quantidade de cada tipo de microrganismo na região. Por exemplo, em caso de infecção já estabelecida, podemos fazer uso de antibióticos. Além disso, podemos repor as bactérias saudáveis da região por meio de suplementos com probióticos e através de óvulos vaginais, que são medicamentos semelhantes a supositórios destinados a administração por via vaginal. É importante também investir na adoção de uma alimentação balanceada para melhorar a microbiota intestinal, que pode interferir diretamente na microbiota do útero”, finaliza o Dr Rodrigo Rosa.

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