Intestino: saiba por que ele é importante para a sua saúde e como protegê-lo

Acredite, ele faz muito mais do que participar da digestão e da absorção de nutrientes.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 out 2024, 19h22 - Publicado em 27 abr 2014, 22h00
Olga Penteado - Edição: MdeMulher
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O ecossistema que habita o intestino é tão importante que chega a ser considerado uma espécie de novo órgão.
Foto: Reprodução revista BOA FORMA

 

A relação entre o que comemos e o equilíbrio da saúde do organismo em geral foi um dos destaques do encontro GUT Microbiota for Health – um evento organizado pela Sociedade Europeia de Neurogastroenterologia e Mobilidade (ESNM) e Associação Americana de Gastroenterologia (AGA), que reuniu especialistas do mundo todo em Miami (EUA), em março de 2014. “O intestino deixou de ser reconhecido apenas como um órgão de digestão e absorção para assumir um importante papel imunológico. Afinal, ele tem grande participação na defesa contra as agressões do meio externo”, explica Bruno Barreto, especialista em alergia e professor adjunto da Universidade do Pará, em Belém. Quem está por trás desse sistema de defesa é a microbiota – palavra que substitui o tradicional termo “flora intestinal”.

Conheça melhor o elo entre saúde, alimentação e o bem-estar do seu intestino.

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A importância da alimentação

Para que a saúde e a boa forma sejam garantidas, precisa haver um equilíbrio entre as bactérias do bem e as agressoras. “Quando há o aumento dos micro-organismos patogênicos e a diminuição das bactérias protetoras, surgem doenças inflamatórias do intestino, diarreia, intolerância e alergia a alimentos, como glúten e lactose – isso ficando apenas no campo das doenças gastrointestinais”, diz Flávio Quilici, professor titular de gastroenterologia e cirurgia digestiva da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas (SP). A dieta tem uma importância fundamental nessa história. “É comendo e digerindo a comida que alimentamos os micro-organismos protetores que vivem em nosso intestino”, diz o professor Francisco Guarner, do Hospital Universitário Valld’Hebron, na Espanha. E não é só o sistema digestivo que sai ganhando. “Estudos sugerem que obesidade, diabetes e até distúrbios comportamentais, como autismo e depressão, podem estar relacionados ao desequilíbrio da microbiota”, acrescenta o professor.

Em alimentos como legumes, verduras, frutas e grãos são encontrados, naturalmente, os prebióticos, que nutrem as bactérias do bem. Os vilões, por sua vez, seriam fritura em excesso e gordura animal, que têm potencial inflamatório. Cuidado ainda com o açúcar e os produtos muito processados. “Eles também prejudicam a microbiota, assim como a baixa diversidade de nutrientes disponíveis na dieta ocidental”, diz Guarner.

 

A relação com a obesidade

Você não exagera à mesa, faz exercício quase todos os dias e, ainda assim, não consegue emagrecer? A explicação pode estar no desequilíbrio das bactérias que vivem no seu intestino. “Estudos feitos com camundongos e seres humanos mostram a relação entre esses micro-organismos e o peso extra. A microbiota intestinal parece contribuir na extração, no estoque e no gasto de energia obtida dos nutrientes dos alimentos”, diz Dan Waitzberg, professor associado do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Traduzindo: você pode estocar mais ou menos calorias de acordo com os tipos de bactéria presentes em maior ou menor quantidade no intestino. Segundo um estudo em andamento, os antibióticos também podem ser uma ameaça, pois matam as bactérias do bem. “A nossa microbiota se forma na infância e a exposição a medicamento nessa fase pode provocar um desequilíbrio considerável, alterando o metabolismo para sempre e causando obesidade”, explica a pesquisadora Laura Cox, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.

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Doenças com os dias contados

O GUT de 2014 também abriu novas perspectivas para o diagnóstico e tratamento da Síndrome do Intestino Irritável (SII). Antes, acreditava-se que a SII, um problema que afeta principalmente mulheres jovens e ansiosas, era uma condição essencialmente psicológica. “A doença, que provoca dor abdominal, evacuação muito ou pouco frequente e inchaço, não tem causas anatômicas nem lesões que a justifiquem”, informa Fábio Atuí, cirurgião do aparelho digestivo, de São Paulo. “Agora surgem evidências fortes de que a microbiota influencia no surgimento da SII e de outras doenças com origem não totalmente esclarecida, como a constipação crônica (prisão de ventre) e a flatulência (excesso de gases)”, diz Maria do Carmo Friche Passos, gastroenterologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Isso mostra que a microbiota tem participação na comunicação entre o sistema nervoso central e o intestino. Se ela não estiver saudável, pode desorganizar informações transmitidas por neurotransmissores, como a serotonina, para o cérebro. Vale lembrar que 95% da serotonina é produzida no nosso intestino. Por isso, o órgão passou a ser chamado de “segundo cérebro”.


Aliados naturais da microbiota

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O iogurte é uma das principais fontes de probióticos.
Foto: Getty Images

 

Prebióticos
As fibras que passam intactas na digestão servem de alimento para as bactérias benéficas. Confira as principais delas e em que alimentos são encontradas: inulina (alho, cebola, aspargo, chicória, batata yacon), fruto-oligossacarídeos (alho, cebola, banana, tomate, aveia, trigo, mel), pectina (frutas cítricas, maçã, cenoura, aveia, soja, lentilha, ervilha) e ligninas (linhaça, gergelim, amêndoa, soja).

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Probióticos
São micro-organismos que chegam vivos ao intestino e promovem benefícios à saúde. Os mais comuns são as bactérias Lactobacillus e Bifidobactererium, que podem ser acrescentadas aos alimentos (iogurtes, leite fermentados – confira no rótulo), suplementos e medicamentos.

Bactérias transplantadas
Retiradas das fezes de um doador saudável, as bactérias do bem são introduzidas no paciente. A técnica também é conhecida como transplante de fezes (as bactérias são separadas e apenas elas são utilizadas). “A técnica tem sido empregada para tratar uma doença grave, a colite pseudomembranosa”, informa Flávio Quilici. “A terapia, que vem sendo bastante estudada, poderá ser útil em breve para tratar os problemas relacionados à microbiota.” Entre eles, obesidade, diabetes, SII e doenças inflamatórias.

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