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Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.
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Por que temos dores que aparecem sem nenhuma explicação?

Por Samorai
Atualizado em 21 out 2024, 22h28 - Publicado em 29 jun 2021, 19h52
Dor que surge do nada: o que está por trás dela?
Dor que surge do nada: o que está por trás dela? (Keenan Constance on Unsplash/BOA FORMA)
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Hey folks! Essencialmente, podemos dizer que temos dois tipos de dores ou lesões. Aquelas que sabemos as causas e aquelas que não temos a menor ideia. Para exemplificar vou começar pela primeira. Ela tem causa conhecida. Pode advir de um acidente de carro, uma queda do cavalo, um escorregão, um carrinho por trás no futebol de quinta-feira. Chamamos essas lesões de fatalidades, acidentes. Algo quase inevitável.

Mas existe outro tipo de lesão. Aquela que vem do nada. Você fez tudo que sempre faz, mas, por alguma razão, hoje, você acordou com suas costas doendo. Ou então, você abaixa para pegar uma panela embaixo da pia e seus joelhos reclamam. Ou ainda, você tenta pegar um livro no alto da prateleira e seus ombros gritam de dor.

Você não sabe por que dói, visto que a rotina não se alterou. Porém, nosso cérebro sempre tenta achar uma explicação. E assim nascem várias teorias. Acho que dormi de mau jeito. Deve ser o jeito que carreguei a bolsa. Fiquei muito tempo sentado. Está frio. Tentamos achar um jeito de explicar o inexplicável e qualquer resposta que faça um mínimo de sentido é prontamente acolhida. Mesmo que não faça tanto sentido assim. Quer ver? Vamos analisar essas respostas.

Acho que dormi de mau jeito. Não, você não dormiu de mau jeito. Faz 40 anos que você dorme do mesmo jeito e nunca sentiu nada. Ademais, não existe um jeito errado de dormir (excetuando a poltrona da classe econômica). Uma coisa que é errada, é sempre errada e serve para todos. Por exemplo: pular de cabeça do 10º andar de um prédio. Isso sim é um jeito errado de pegar a comida que foi deixada na portaria pelo entregador. E é errado para todo mundo. Ninguém escapa ileso. Agora dormir de barriga para cima, de lado ou para baixo, não. Milhões de pessoas fazem isso diariamente e não sentem nada. Logo, não podemos afirmar que algumas dessas posições são erradas. Você pode até não conseguir dormir bem assim, mas isso não significa que é errado.

Outra hipótese foi a de que você ficou muito tempo sentado. Mas desde o primeiro dia de aula da 1ª série, você fica sentado por horas. Milhões de pessoas passam horas sentadas todos os dias. Por que hoje doeu e nunca antes tinha doído?

Talvez o jeito que você carrega a bolsa? Bom, o que escrevi acima serve para a bolsa também. Você sempre a carrega do mesmo jeito. A verdade é que você poderia arriscar um palpite em cima de qualquer coisa que fez ontem como explicação. E para todas serviria a observação de que você sempre faz assim, então isso não explicaria porque dessa vez não deu certo.

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Uma coisa em comum sobre essas dores que aparecem do nada é o fato de que do mesmo jeito que elas vêm, elas também vão. Dois dias depois você acorda muito melhor e nem se atenta ao fato de que dormiu do mesmo jeito, mas mesmo assim continua afirmando que aquela dor nasceu por você ter dormido de mau jeito.

Entretanto, sem que você saiba, aqui começou um ciclo. Alguns dias depois essa dor volta. E depois de um pouquinho mais de tempo que a outra vez, ela vai embora. Poucos dias depois ela aparece e perdura por uma semana. E assim vai se sucedendo até que nunca mais ela vai embora. E por você acreditar que foi porque você dormia errado, você se “policia” para dormir em outra posição que não gosta nem um pouco, que não se sente confortável e mesmo assim a dor não vai embora. A partir de agora você já não se move com naturalidade, seus movimentos se tornam mais duros, robóticos e amedrontados. Esse ciclo faz você se movimentar cada vez menos e, com isso, a dor aumentar e gerar outro ciclo de medo, movimentos tensos e robóticos, menos movimentos e mais dores. Chamo isso de espiral negativa.

Mas então, o que causou tais dores? Para entender isso precisamos sempre entender o todo. Quem somos? Seres tridimensionais de corpo, mente e espírito. Todos eles se harmonizam mutuamente e não podem viver isolados. O corpo afeta a mente e o espírito e vice-versa. Então, uma dor nas costas pode ter causa no corpo, na mente e no espírito, e é mais provável ainda que seja nos três. O ser humano é tão complexo que hoje sabemos, no máximo, 15% do funcionamento dele, o que significa que não sabemos 85%.

Como a maior parte está no âmbito do desconhecido, precisamos criar teorias para poder explicar o que acontece. Uma teoria não é uma verdade absoluta, mas a tentativa de explicar um fenômeno. Quando você diz que acha que dormiu de mau jeito está, de alguma forma, criando uma teoria. Uma teoria frágil, mas não deixa de ser uma teoria. Eu criei, então, uma teoria para explicar essa dor sem causa aparente. Chamo essa teoria da performance global do ser.

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Para mim, como já disse nessa coluna A Linguagem da Dor, a dor é uma comunicação. Sempre que algo está errado o corpo nos avisa através da dor. Então, se suas costas estão doendo, isso é uma informação. E se não tem nada que podemos atribuir, é porque essa dor não é resultado de algo muito específico, mas sim uma somatória de muitos fatores em corpo, mente e espírito.

Para entender essa teoria, vamos imaginar esse ser complexo na sua melhor performance. Ou seja, 100% de performance. Com o passar do tempo vamos perdendo performance. Seja ela pelo sedentarismo, envelhecimento, estilo de vida, alimentação, estresse, compensações, medicamentos, drogas ou até mesmo por infortúnios da vida. Todos esses e muitos outros fatores que não listei, alguns por tempo e outros certamente por desconhecimento (não sabemos 85% da função corporal), influenciam na performance negativamente e vão, pouco a pouco, derrubando nossa performance.

Até que em algum momento ela caia tanto que nossa lombar não dá conta da tarefa dela e opera mal. Não por culpa dela, mas porque nessa performance baixa que o corpo se encontra ela não tem recursos para fazer o trabalho dela. E como ela vai te avisar? Se você disse dor, acertou em cheio. Assim podemos dizer que a lombar não é culpada pela dor nas costas, mas sim que ela é vítima. Ela é o resultado de uma performance que desabou ao longo do tempo. Isso explica porque hoje você tem uma dor que não tinha ontem, mesmo fazendo tudo que sempre fez. Fazer o que faz foi, pouco a pouco, derrubando sua performance.

Vamos entender isso na prática. Você acordou com dor nas costas. Se pensar que foi porque dormiu mal, qual a solução que você pode dar? Dormir de outro jeito. Mas você não consegue porque, convenhamos, todo mundo tem uma posição que gosta mais de dormir. E assim que você efetivamente dormir, seu corpo tende a voltar para aquela posição. E mesmo que não volte, possivelmente você continuará com dor, porque mudar a posição de dormir não afeta as outras variáveis.

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Mas também podemos olhar sob a ótica da performance global do ser. Nesse caso, vemos uma pessoa que tem algumas variáveis com baixa performance. Por exemplo, a flexão do quadril. Essa pessoa passa o dia todo sentada. No entanto, como tem pouca flexão do quadril e encurtamento das cadeias musculares da parte de trás do corpo, ela senta mais em cima da lombar do que do glúteo. O que sobrecarrega a lombar. Para ajudar, tem um trabalho muito estressante e justo hoje teve uma sequência de reuniões que não possibilitaram sequer uma pausa para tomar um copo de água e estender os joelhos.

No fim do dia está até com dor de cabeça. Na volta pra casa, ela passa no drive-thru de uma lanchonete e pede um hambúrguer lotado de bacon e um balde de refrigerante. Chega em casa e ainda toma seu whisky, afinal ninguém é de ferro. Já bastante anestesiado, vai dormir, mas o sono não vem, porque a cabeça ainda pensa nas reuniões de hoje e de amanhã. Preocupado com a hora, toma um relaxante e um ansiolítico para pegar no sono e dorme como uma pedra. O sono pesado. Fica a noite toda na mesma posição. Algo que se o sono estivesse leve, oriundo de uma vida saudável, uma alimentação balanceada e nada de drogas ou álcool pra dormir, não teria acontecido.

Em um sono normal, mudamos de posição de tempos em tempos, assim que o corpo se estressa desta posição. Porém, nesse sono artificialmente alterado ficamos muito tempo na mesma posição. Posição essa que após algum tempo gera alguma tensão na lombar, que já estava cansada de ter ficado muitas horas sentado. Logo, ao acordar, a lombar já não acorda 100%. Sua performance não foi recuperada por uma noite reparadora. Então hoje ela tem menos condição que ontem. E terá um dia semelhante. Provavelmente, chegará no final do dia pior do que ontem. E assim sucessivamente. Até que, por todos esses motivos, a lombar não dá conta das tarefas dela, passa o dia sob uma tensão enorme e reclama na forma de dor.

E ela fica assim uns dois dias, até que no dia seguinte seu time ganha o clássico contra o maior rival. Você saiu com o “crush” e comeu em um restaurante japonês. Não bebeu. Teve um dia mais leve no trabalho e tudo isso contribui para o aumento da sua performance global. Nesse dia você não sente a dor. Até dois dias depois, quando a dor aparece. Porque nem a subida nem a descida da performance é linear, visto que sofre influência de diversos fatores. Contudo, dado o estilo de vida e tudo relacionado a ele e também a sua capacidade de movimentação, a média dessa performance é ascendente ou descendente. E em pouco tempo a dor não vai mais embora. Culpar agora a posição de dormir não faz mais sentido, não é?

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QUAL A SOLUÇÃO?

Viver em harmonia de corpo, mente e espírito. Como uma parte afeta o todo, qualquer ganho de performance gerará uma percepção melhor. Nesse exemplo, em específico, poderíamos melhorar a flexão do quadril, para que ao longo do dia de trabalho sentado a lombar não se desgastasse tanto. Poderíamos meditar para entrar em contato conosco e com o universo, tendo assim uma relação melhor com nosso estresse. Praticar uma atividade como o Jiu-Jitsu, onde você gastaria essa energia bélica que você acumulou no dia a dia com o chefe, que muitas vezes você evita falar o que pensa. Poderíamos melhorar a dieta, ler um bom livro antes de dormir, dormir mais cedo, beber mais água. Participar de um trabalho social para entender que é um privilegiado e ser mais grato, melhorando assim sua relação com o mundo a sua volta.

Ou seja, você pode fazer um infinito de possibilidades para que a espiral se inverta e seja agora positiva. Isso que eu chamo de Teoria da Performance Global do Ser. Desde que baseei minha vida e meu trabalho com meus alunos dessa forma, os resultados foram infinitamente melhores e por isso consigo solucionar problemas que os alunos levaram anos sem solução em poucas semanas, porque levamos toda a complexidade desse ser em consideração. E quando nos harmonizamos com o todo e a espiral se torna positiva, o tempo agora joga a nosso favor. E de bônus você ainda ganha um mundo melhor. Esse mundo sempre esteve aí, mas preso na sua espiral descendente você não conseguia ver. A escolha é sua. O caminho se faz caminhando. Para cima ou para baixo. Porque dessa vida o que precisamos é sair melhor do que entramos, em corpo, mente e espírito.

That’s all

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Samorai

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