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Como funciona a cirurgia para enxaqueca?

Por Larissa Serpa
Atualizado em 21 out 2024, 22h28 - Publicado em 7 set 2021, 12h29
Mulher com dor de cabeça
A dor muito vezes pode ser desabilitante, mas há tratamentos (Wavebreakmedia/Thinkstock/Getty Images)
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Segundo estimativas, a doença crônica Migrânea, conhecida popularmente como Enxaqueca, afeta cerca de 15% da população brasileira, sendo que a faixa etária dos 20 aos 45 anos é a mais acometida.

Mas o que poucos sabem é que existe há 20 anos um procedimento chamado Cirurgia de Enxaqueca, realizado hoje por diversos cirurgiões plásticos ao redor do mundo e em mais de uma dezena das principais universidades americanas, como Harvard. Os resultados positivos e semelhantes das publicações dos diferentes grupos comprovam a eficácia e a reprodutibilidade do tratamento.

A cirurgia é na cabeça mas é pouco invasiva, realizada em ambiente hospitalar, sob anestesia geral e tem o objetivo de descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo e occipital, envolvidos nos pontos de dor. Os ramos periféricos destes nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressões das estruturas ao seu redor. Isto gera a liberação de substâncias (neurotoxinas) que desencadeiam inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, causando os sintomas de dor intensa, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz a ao som.

As Cirurgias podem ser de sete tipos principais nas seguintes regiões: Frontal, Temporal e Occipital (nuca).

O procedimento é indicado para pacientes que têm diagnóstico de Migranea (Enxaqueca) feito por um neurologista e que não conseguem bom controle do quadro com as medicações.

Qual a eficácia da cirurgia?

Com relação à evolução pós-operatória da Cirurgia de Enxaqueca, existem três possibilidades: melhora completa dos sintomas, melhora parcial e ausência de resposta.

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Cerca de 80% a 90% das pessoas apresentaram sucesso com o procedimento

Os trabalhos científicos publicados ao longo dos últimos 20 anos levam em consideração para que a cirurgia tenha tido sucesso quando há uma melhora de no mínimo 50% na intensidade, frequência e duração das crises de enxaqueca. De acordo com as pesquisas, cerca de 80% a 90% das pessoas apresentaram sucesso com o procedimento, sendo que em torno de 30% a 40% apresentaram melhora completa das crises. Como em qualquer tratamento, existe uma minoria, em torno de 10% a 15% que pode não responder ao procedimento. As pesquisas atuais caminham no intuito de se reduzir cada vez mais este número.

Além de melhorar os sintomas de dor de cabeça, a cirurgia também está associada a uma redução significativa no uso de medicamentos, principalmente no caso de pacientes que sofrem com dores crônicas e debilitantes. Um estudo recente da Harvard Medical School, publicado em junho no Plastic and Reconstructive Surgery, confirma essa tese.

2/3 dos pacientes diminuem o uso de medicamentos e 23% não precisaram mais tomar medicamento algum

Pacientes com dores de cabeça crônicas sofrem de dores debilitantes, que frequentemente levam ao uso de vários medicamentos. A cirurgia surgiu como um tratamento eficaz para pacientes com cefaleia. Este estudo comparou o uso de medicamentos no pré e pós-operatório de pacientes submetidos ao procedimento e constatou que mais de 2/3 deles diminuíram o uso de medicamentos prescritos, sendo que do total de pacientes que passaram pelo procedimento, 23% não precisaram mais tomar medicamento algum.         

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Na pesquisa, 96% dos pacientes descreveram tomar medicamentos prescritos para a dor de cabeça. O tipo de medicamento variou entre os pacientes, mas incluiu preventivo, de resgate (para aliviar crises), antiemético (para evitar náuseas), além de opioides (com efeito analgésico mais potente). Mas, segundo o estudo, a cirurgia da enxaqueca tem mudado essa realidade. Após 12 meses da operação, 68% dos pacientes relataram diminuição do uso de medicamentos prescritos. Os pacientes relataram também uma redução de 67% no número de dias em que tomaram a medicação; além disso, metade dos pacientes relataram que a medicação para enxaqueca, após a cirurgia, os ajudou mais em comparação com o período pré-operatório.

Financeiramente, vale a pena?

Só quem sofre com Enxaqueca sabe dimensionar o impacto no bem-estar, na qualidade de vida e na rotina que esse problema causa. Sabendo que uma crise de enxaqueca pode durar até 72 horas, aparecer mais de 15 dias por mês e apresentar sintomas como dor intensa e pulsátil em um ou nos dois lados da cabeça, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz ou ao som, conviver com isso é enfrentar crises sérias, que esbarram na vida social e econômica do paciente.

Existem dois principais tratamentos para a Enxaqueca na atualidade: a cirurgia e a aplicação de anticorpos monoclonais. Um estudo recente, publicado em fevereiro no The Journal of Craniofacial Surgery, destaca que a cirurgia tem um custo benefício melhor e os custos da aplicação da medicação, a partir de um ano, ultrapassam e muito os do procedimento menos invasivo. Este é um artigo importante por comparar os dois tratamentos e também pelo fato de ter sido feito em colaboração entre os departamentos de Cirurgia Plástica e o de Neurologia de duas universidades americanas. A cirurgia é realizada uma vez, enquanto que a medicação é para o resto da vida.

RESPONDIDO POR:

DR. PAOLO RUBEZ: Cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS) e da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), Dr. Paolo Rubez é Mestre em Cirurgia Plástica pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. O médico é especialista em Cirurgia de Enxaqueca pela Case Western University, com o Dr Bahman Guyuron (em Cleveland – EUA) e em Rinoplastia Estética e Reparadora, pela mesma Universidade, e pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP. https://drpaolorubez.com.br/

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