Qual é o seu sonho?
Hey, folks! De tanto dizer para ela mesma que não conseguia, ela acabou provando a todos que tinha razão. Essa é uma cena que se repete à exaustão. Muito fácil encontrar uma pessoa ou um cenário no qual os limites de cada um estão muito claros. Você consegue até aqui. Daqui para frente não é para você. Acontece nos esportes, no trabalho, na escola, nos relacionamentos. Quem nunca deixou de convidar aquela garota bonita porque “já sabia” que ela não iria aceitar? Ou não tentou uma promoção porque não era para você? Ou nem prestou na universidade mais difícil porque não é inteligente o suficiente?
Sim, todos conhecemos alguém assim. Muitas vezes nós mesmos. E isso afeta inclusive o processo de reabilitação de dores e lesões. Tudo é possível, mas para isso há uma única condição. Que você acredite que possa melhorar. Sem isso você só vai me convencer de que está certo. É muito comum, durante uma sessão, o aluno assumir que não vai conseguir ou que aquele movimento vai lhe prejudicar sem nem ao menos tentar. Em função disso, bem no meio da sala de treinamento, eu tenho um quadro com a seguinte frase: “se você acha que pode ou que não pode, de toda forma você está certo”.
A frase está atribuída a Henry Ford e serve de alento para todos que se apoiam em uma crença de que não dá. O fato é que tudo dá ou não dá, depende de como você vê e encara esses desafios. Mas um outro grande erro é romantizar o desafio. Acreditar que é possível não é o mesmo que dizer que será fácil, ou até mesmo que você vá conseguir. As coisas difíceis são difíceis mesmo. Não basta eu acreditar que serei campeão mundial que agora é só me inscrever. Existe muita coisa para fazer até que isso aconteça. Porém, se eu não acreditar, aí sim será completamente impossível. Porque nesse caso eu nem me inscrevo.
Se treinamento 3D é corpo, mente e espírito, entender os processos e as limitações que essa tríade nos impõe faz parte do nosso estudo. E entender também que as pessoas não são assim e nem pensam assim porque está no seu DNA. Muitos desses pensamentos são construídos. Se são construídos também podem ser desconstruídos e no lugar deles, pensamentos melhores. E esse trabalho é constante no processo 3D. Deixe-me contar um “causo” aqui, que de alguma forma é fictício, mas representa muito a realidade.
Imagine uma pessoa que tem uma vida normal, joga sua bola e um dia faz um exame para uma apendicite e descobre, meio que por acaso, uma hérnia de disco que lhe é totalmente assintomática. A partir de agora ela recebeu um rótulo. Ela tem hérnia. Agora tem que tomar cuidado com tudo que faz. Ao passar na consulta com o médico, um terrorismo de movimento. Você não pode isso, não pode aquilo… Jogar bola? Nem pensar. Corrida? Está maluco?! 10 sessões de fisioterapia (número cabalístico) e hidroginástica. E muito cuidado ao pegar coisas no chão, ao sentar… Para dormir, precisa de uns cinco travesseiros em todos os lugares possíveis.
A pessoa sai dali chocada. O que será de mim? Minha vida acabou. Agora ela não faz as coisas que a faziam feliz. Não treina mais nada e com isso o corpo perde capacidades. Anda, senta e deita de uma forma antinatural para ela. E óbvio, o que ela nunca teve até então aparece. A dor. E com ela vem a confirmação de tudo que ela já temia. Minha vida acabou. No entanto, o fato é que a dor não apareceu ali pela hérnia, mas sim pela falta de estímulos e de se mover naturalmente. Isso resultou em dor.
Após a dor, tudo é potencializado. Agora nem andar direito anda mais. Evita fazer tudo. Consequentemente, o quadro piora. E um dia ela trava. A dor fica insuportável. Volta ao médico, analgésico fortíssimo, mais terrorismo emocional com os inúmeros “não pode” e uma cirurgia já começa a ser cogitada. Sai do consultório mais desesperançada ainda. Como querer que ela acredite que pode? Mas o fato é que pode. E por mais que pareça impossível, a minha primeira missão é fazer o aluno acreditar nisso. Sem isso, não pode. Contudo, o caminho é pensar sempre no próximo passo. Descobrir qual é o nosso limite hoje e caminhar um passo de cada vez, porque sempre dá para fazer um pouquinho a mais.
Isso é muito mais comum do que você possa imaginar. E pode ter todas as origens. Pode ser um trauma de infância, um professor na escola que te humilhou, os pais, os treinadores, um crush. Todo mundo tem um ponto que acha que não dá. Hoje mesmo, no treino de uma aluna havia saltos sobre uma caixa de madeira. Muito comum quando o tema é salto as pessoas acharem que não dá. Mas sempre dá. Desde que se crie uma progressão. Começa saltando uma linha, depois um palito de fósforo, depois a caixa de palito de fósforo e um dia você chega na caixa de madeira. E hoje era o dia da caixa de madeira. O medo tomou conta. Porém medo nenhum resiste à coragem. Que é o ir mesmo com medo. Medo nenhum resiste ao apoio de um professor que está contigo nesse desafio, respeitando seus limites mas te estimulando a dar sempre seu melhor. E ele estava ali. O medo.
Já de cara ela falou que não ia dar. E os primeiros saltos foram para mostrar para mim que não dava mesmo. Mas ao ver que eu não desistia, o medo foi enfraquecendo. Segurei sua mão. Ajudei no movimento. Ao final do treino foram 100 saltos na caixa e o segundo melhor tempo da história desse desafio na nossa academia. Quando faltava pouco para acabar ela se emocionou. As lágrimas saíram. Mas ela terminou. Quando ela terminou, falei que tinha muito orgulho dela. Que os limites somos nós que estabelecemos. Que você é muito mais forte do que imagina.
Uma salva de palmas de todos os presentes na academia deixou esse momento mais mágico. Para casa ela levou o troféu coragem. Um troféu de posse transitória em que todo mundo que se supera, que vence seus medos, leva para casa. No entanto, tem que trazer na aula seguinte, porque não podemos ficar sem coragem no nosso espaço. Ela é a principal ferramenta, associada ao acreditar, para a solução de problemas.
O acreditar e a coragem nos levam adiante. E aí vem o outro ponto da história. Assim como esse cenário de descrença é uma constante, existe um outro tão frequente quanto. Em toda avaliação que eu faço, eu sempre quero conhecer o cliente que vai entrar nessa jornada de transformação. Então faço uma anamnese muito completa. Todos eles falam com a maior facilidade do planeta sobre o que não conseguem, as dores que têm, os problemas. Mas eis que chega a minha última pergunta e eu já até imagino como será a resposta. Sempre pergunto qual é o seu sonho. E é muito raro alguém me responder com clareza. A pergunta que faço: quando deixamos de sonhar?
Minha filha de 5 anos está sempre sonhando. Por que essa pergunta é tão difícil responder aos 15, 25, 37, 43, 51, 72 anos? E para mim, o mesmo mecanismo que me faz duvidar de mim, me impede também de ter sonhos. Ter sonhos é se frustrar, afinal o que vale a pena sonhar eu não consigo. Podemos conjecturar sobre tudo que nos fez chegar aqui, como uma sociedade que o vencedor leva tudo e o segundo colocado é o primeiro dos derrotados. Uma sociedade na qual temos bilionários e famintos, e isso, e muitas vezes apenas isso, torna uns melhores que outros.
Porém esse não é meu papel aqui. Não neste momento. Meu papel é constatar que essa ausência de sonho se faz presente. E que, muitas vezes, nos impede de saber o caminho que devo seguir. Se a vida é feita de infinitas possibilidades, como escolher o caminho? Sonhando. Sou um profundo defensor dos sonhos. E no meu instituto eu incentivo todas as pessoas a sonharem, começando pelo desconforto da pergunta: qual é o seu sonho? Esse desconforto é um convite à mudança. Um convite ao sonho.
O sonho pode até não ser alcançado, mas tem que ser perseguido. Você precisa querê-lo, mas jamais precisar dele. Ele serve para nos fazer andar, para nos transformar, para sairmos daqui melhor do que entramos. Eu sei meu sonho. E todos os dias da minha vida eu caminho em direção a ele. Se eu morrer agora eu não terei alcançado o sonho de uma vida toda. Mas nada foi em vão. Sou muito melhor hoje porque sonhei. E terminando com Ford novamente: “não existe nenhum homem vivo que não seja capaz de fazer mais do que pensa que pode”. Agora eu te pergunto: qual é o seu sonho?
Forte abraço,
Samorai