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Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.
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O poder do próximo passo

Por Samorai
15 dez 2021, 20h46

Hey, folks! Ano chegando ao fim e já estou no clima de festas. Eu, particularmente, adoro o Natal, assim como o Ano Novo. Gosto tanto que até trabalhar nessa época fica mais difícil. Eu quero sair com os amigos, comprar presente, imaginar a pessoa querida recebendo o presente, mandar mensagens bacanas, comer panetone. Enfim, Natal não combina com trabalho, mas com todas as outras coisas. Entretanto, não nascemos com a vida ganha, então mãos à obra. Uma das coisas muito comuns nessa época do ano são as retrospectivas. E é com esse olhar para trás que vou abordar a minha coluna desta semana. E quando olhamos para este ano, um tema obviamente é comum a todos. A pandemia.

Creio ser impossível alguém concluir que ficou indiferente e não mudou nada nesse período. Ninguém passou ileso. Algumas pessoas lidaram melhor com esse momento, acredito que eu tenha sido uma delas, usei esse momento para sair melhor do que entrei, mas também tiveram pessoas que lidaram muito mal com essa fase. Não cabe a mim julgar nenhuma forma de comportamento, se é certa ou errada. Estou me baseando apenas no que elas mesmas concluíram sobre o período. Algumas cresceram, outras sofreram.

O curioso é que o normal da vida de todos, com ou sem pandemia, é exatamente isso. Às vezes crescemos, às vezes andamos para trás, mas o fato é que nesse mundo não existe nada fixo e nem nada permanente. Porém, quando existe um fator muito marcante como uma pandemia tendemos a crer que esta é causa das nossas dores, e quando isso fazemos, não aprendemos nada e nem podemos fazer nada a não ser lamentar.

Isso posto, quero olhar esse momento sob a luz da tridimensionalidade, ou em outras palavras, sob a ótica do ser humano de corpo, mente e espírito indissociáveis. Quando lidamos com esse ser complexo, uma das premissas é que o corpo afeta a mente, que afeta o espírito, que afeta o corpo, e por aí vai. Tudo está interligado e em uma via de mão dupla. Um bom exemplo para entender isso é observar uma pessoa caminhando. Eu vou criar alguns cenários agora e gostaria que você imaginasse essa pessoa.

Imagine, então, ela caminhando. Agora imagine que ela é muito tímida e que está muito envergonhada. Seu movimento já mudou, né? Agora esquece a timidez e pense que essa pessoa está caminhando, mas está com muita raiva. Ela está indo tirar satisfação com alguém que tratou a filha dela muito mal e de forma injusta. A caminhada mudou também. Pense agora que ela está com muito frio. Agora com muito calor, com muita vontade de ir ao banheiro. Com muito sono. Muito triste ou com medo. Aqui podemos perceber que o movimento a ser avaliado jamais mudou, sempre foi a caminhada, entretanto a forma como ela aconteceu se alterou o tempo todo em função de fatores que não têm relação com a mecânica do corpo, mas principalmente com estados emocionais.

Pensando assim, podemos afirmar que estados emocionais alteram nossa forma de nos mover. E isso é fácil perceber. Entretanto, a grande sacada, e eu já dei um spoiler ali acima, é que o contrário se faz verdadeiro. Por exemplo, se estou com medo provavelmente fico mais fechado e mais ofegante na respiração. Isso seria uma resposta mecânica ao meu medo. Porém, se eu perceber isso e começar a mudar a minha postura corporal e acalmar a minha respiração, a minha percepção de medo também muda, mesmo que para isso eu precise tornar consciente algo que normalmente não é, como a respiração. Aqui fica claro que as relações de corpo, mente e espírito do corpo são sempre vias de mão dupla. E com isso eu concluo que se eu quero mudar algo, eu posso começar por qualquer ponta.

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O mais bacana é que esse aprendizado pode ser transferido para qualquer situação da nossa vida. Se quero que meu chefe no trabalho melhore comigo porque assim eu vou produzir melhor, posso inverter isso, melhorar minha produção e meu chefe melhora comigo. Ou melhor ainda, eu quero que as coisas na minha vida pessoal melhorem para o meu estado emocional melhorar. Também pode ser o oposto, se meu estado emocional melhorar, as coisas da minha vida pessoal também vão melhorar.

Voltando à pandemia. Uma das coisas que me deixa melhor é lutar. E com a quarentena eu não estava podendo fazer isso. Obviamente isso foi, entre outras coisas, sem que eu me desse conta, afetando meu estado emocional. Eu não estava treinando bem porque, como não tinham competições, eu não tinha uma motivação para treinar forte. De alguma forma nada estava saindo conforme planejado e quando isso acontece nos entristecemos. E isso abaixa nosso nível de energia. Vibramos de uma forma mais densa. Perdemos um pouco do brilho, da segurança, da confiança, e assim tendemos a fazer cada vez menos. Sentimos que nesse momento não estamos bem e por isso não vamos fazer algo novo, que exija energia, criatividade. Vamos deixando tudo para depois. E obviamente, se não fazemos nada, nada acontece. E o que fazemos, então? Esperamos esse momento passar.

Nosso pensamento fica mais ou menos assim. Quando isso passar, eu escrevo aquele texto. Quando eu me sentir melhor, levo minha filha para passear. Quando as coisas melhorarem, vou fazer uma comida gostosa. Vou fazer aquele post na rede social que tanto preciso para meu trabalho. Você fica esperando uma energia que nunca vem. Do nada, nada vai acontecer. E quando a gente entende que o corpo (físico, matéria, ação) também afeta o estado emocional (sentimento), podemos começar pelo fazer. E isso inverte essa espiral negativa. E por que não fazemos isso? Porque quando pensamos em fazer algo, pensamos sempre em coisas grandes, criativas, belas, impactantes e em um momento ruim, não é a melhor coisa a se fazer. Porque coisas grandes, belas, impactantes e inovadoras contêm muitos erros na sua trajetória e nesse momento você está sensível demais para cometer e lidar com erros.

No entanto, as coisas pequenas, rotineiras, conhecidas estão sempre ali. Disponíveis para serem a chave da mudança desse cenário. Eu não falo sempre aqui que tudo pode ser um caminho para evolução espiritual? E pode mesmo, literalmente tudo, desde que seja feito com presença plena. Então, quando as coisas não estiverem dando certo, passeie com seu cachorro. Mas não com o celular na mão e fazendo isso de maneira mecânica. Passei com ele. De verdade. Veja o que ele faz. Qual planta ele gosta. Faça um caminho diferente. Mostre para ele o que tem nesse caminho diferente. Converse com ele e tenha orgulho de você por ser um dono melhor do seu cachorro. Leve sua filha para passear. Entretanto, nada muito espetaculoso. Leve-a para dar uma volta. Mas para ouvi-la. Mergulhe nas histórias dela. Faça um carinho na sua mãozinha. Sinta orgulho da mãe ou pai melhor que agora você é.

Não tem pets ou filhos, tudo bem. Foi só um exemplo. Arrume sua cama hoje. Mas hoje ninguém vai arrumar a cama melhor do que você. Você não vai esticar um lençol pensando no trabalho. Você o fará com presença plena. Observando cada cantinho dele. Você vai escovar seus dentes em 5 minutos. Ou até mais. Ninguém escova melhor que você. Vai lavar a louça e nenhuma gordura vai passar ilesa. Depois de lavar, você vai fechar os olhos e tentar achar a gordura com o seu toque e não com os olhos. Vai colocar todos os sentidos para viver com você a experiência de lavar essa louça como só você pode fazer. Porque isso é um fato. Da nossa forma só a gente pode fazer. E sinta a energia que vem da presença plena. E comece por aí. Amanhã, desobedeça ao aplicativo de trânsito e vá ao seu trabalho por outro caminho. E observe. Você já viu quantas flores tem no caminho da sua casa até o trabalho?

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Isso é o próximo passo. Está sempre acessível a você. Sempre te convidando a mudar sua energia. Mas, a gente olha o passo lá na frente. E como sempre caímos ao tentar alcançá-lo, vamos desistindo de caminhar. Porém, um passo após o outro é a única exigência da maratona, que você se sente incapaz de fazer porque está pensando no passo 52.500, que seria o último de uma maratona. Esse passo não existe. Ele só existe para quem está no passo 52.499. Se você está no zero, você só tem que dar o passo um. E se fizer isso, o tempo joga ao seu favor. Todo dia um passo. Como diria Chico Science, “um passo à frente e você já não estará mais no mesmo lugar”. Você muda seu padrão energético a partir do fazer. Não espere ficar bem para fazer algo, faça algo para ficar bem.

Isso acontece no meu trabalho com reabilitação. É muito comum o aluno da reabilitação chegar abalado emocionalmente, sem esperanças, deprimido, receoso, com medo do futuro, e tudo isso contribui, e muito, para a piora do cenário da dor. Por tudo que vimos acima, um grande passo é começar a fazer algo. E esse algo, não é bater o recorde mundial, nem o recorde pessoal, mas o que for possível naquele momento. Algo onde a dor não se manifeste e crie pequenos desafios dentro do que você pode fazer. Dessa forma, a sua energia muda e, ao mudar, ela estimula o corpo a correr atrás dessa reabilitação.

Um fator primordial na reabilitação é a fé de que podemos ter sucesso. Essa fé estimula o corpo e o corpo potencializa a fé. Na mesma via de mão dupla que falei acima. Isso muda sua vibração, que te fará enfrentar esse problema também com outros olhos, como podemos observar a forma como cada um enfrentou a pandemia que, em tese, era a mesma para todos. Como professor eu tenho que guiar o aluno nesse caminho, não deixar que essa dor se torne maior do que é, e que ela não derrube a energia vital dele. Eu tenho que receber, acolher, escutar, porém não deixar o aluno cair nessa espiral negativa de só reclamar e se entristecer. O problema já está aí, ele é concreto, mas seu olhar para ele depende de você. E pode ser de diversas formas. E pode ser manipulado por você também, através do que está bem, do que tem sucesso e da presença plena. O Ano Novo está aí. Como você vai dar o primeiro passo? A escolha é sua. Na dúvida, dê o próximo passo.

Forte abraço,
Samorai

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