Culpa materna: por que ela não define se você é uma boa mãe
A culpa materna não define quem você é. Descubra como se libertar da pressão da mãe perfeita e acolher sua autenticidade na maternidade.

“Será que sou, fui ou serei uma boa mãe?” Essa é a pergunta que não cala na mente de quase todas que vivem a maternidade. Em meio aos momentos de alegria e, principalmente, durante os perrengues e crises, um sentimento é constante: a culpa materna.
Isso que a gente bem sabe que ser mãe não é algo que se aprende em manual de instruções, certo? Mas a pressão para ser perfeita, para dar conta de tudo, para corresponder às expectativas da sociedade, da família e, principalmente, às nossas próprias, é quase uma sentença.
Desde o início da gravidez, no momento da adoção ou até mesmo antes, quando a ideia de ter um filho começa a nos rondar, surge aquela pulguinha atrás da orelha: “Será que vou dar conta do recado?”.
É na busca por uma resposta que, muitas vezes, vivemos uma verdadeira maratona para nos reconhecermos neste novo papel. E é aí que a culpa materna começa a se instalar. Precisamos falar sobre isso.
A maldição da Cinderela e a origem da culpa materna
“Tenha coragem e seja gentil”. (Ganha um par de sapatos de cristal quem adivinhar de onde vem essa máxima!)
Desde a mais tenra idade, somos bombardeadas com contos de fadas que nos ensinam a priorizar o bem-estar dos outros, a sermos boazinhas, a nunca reclamar e a aceitar nosso destino com um sorriso no rosto.
A Cinderela, com sua doçura, abnegação e sem nenhum talento para impor limites, personifica esse ideal feminino que internalizamos sem nem perceber.
E aí, quando cruzamos a linha da maternidade, a coisa fica ainda mais séria. A sociedade nos empurra goela abaixo a imagem da mãe perfeita:
- aquela que está sempre disposta, que nunca se cansa,
- que tem paciência infinita,
- que é presente em todos os momentos
- e, acima de tudo, que não comete erros.
Então, como um passe de mágica, a culpa materna se instala em nossos corações:
- por não estarmos sempre disponíveis,
- por perdermos a paciência (quem nunca?),
- por nos sentirmos exaustas
- ou por não dar conta de ser tudo o que a gente acha que precisaria ser.
A mãe perfeita não existe (e tudo bem!)
Ao olharmos ao redor, percebemos que essa culpa materna não é um gene ou parte do DNA feminino, mas, sim, um fardo imposto por uma sociedade que nos exige o papel de Cinderelas modernas, sorrindo enquanto equilibramos o mundo em nossas mãos, mesmo que estejamos à beira de um ataque de nervos.
A verdade é que a mãe perfeita não existe. E tudo bem. Existe a mãe possível, a mãe real, a que dá o seu melhor dentro das condições que tem.
Ser uma boa mãe não significa ausência de erros, mas, sim, presença de amor, responsabilidade e disposição para aprender e crescer.
Redescobrindo quem você é após a maternidade
É aqui que está o pulo do gato: se ignoramos que essa pressão existe, seguimos presas à fantasia de perfeição e corremos o sério risco de perder de vista a beleza da maternidade — que é justamente a possibilidade de se reinventar, nos conectar conosco e de aprender a rir das nossas próprias dificuldades.
Afinal, sejamos sinceras, a maternidade é uma montanha-russa de emoções, com momentos de puro êxtase e outros de puro suco de desespero.
O nascimento de um filho nos convida a assumir um novo papel, mas sem jamais esquecermos que somos muito mais do que apenas mães.
Nossas paixões, nossos talentos, nossos sonhos e até mesmo aquelas partes de nós que escondemos a sete chaves continuam existindo, mesmo que, por vezes, pareçam estar em segundo plano.
O processo de exercer o papel de mãe não precisa – e nem deveria – anular a essência de quem se é. Pelo contrário: manter-se conectada com a própria identidade é o que permite mostrar aos seus filhos o valor da autenticidade.
Afinal, como ensinar seu filho a gostar de si mesmo, a respeitar seus próprios limites e a buscar a felicidade se você mesma ainda não se permitiu fazer o mesmo?
Autocuidado: um ato de coragem contra a culpa materna
Cuidar de si não é egoísmo, mas uma necessidade. Podemos dizer até que é um pré-requisito da função de ser mãe.
Comprometer-se com o seu processo de autoconhecimento é uma forma poderosa de ensinar, pelo exemplo, que cada um tem um valor inestimável, simplesmente por ser quem é.
Ao buscarmos integrar as diversas facetas de nossa vida – mulher, mãe, profissional, amiga, companheira, amante, cozinheira, faxineira, motorista, professora (ufa!) – mostramos aos nossos filhos que é possível ser “apenas” suficiente.
Afinal, perfeição não é a meta, mas sim a coerência com nossos valores, com nossos desejos e com a vida que queremos construir.
Você é suficiente (e não está sozinha)
Diante de tudo isso, a pergunta lá do início – “Será que sou uma boa mãe?” – pode ganhar uma bela resposta: se você se cuida, se conhece, se aceita com suas imperfeições, se permite errar, se aprende com seus erros e, acima de tudo, se tem a coragem de ser autêntica, pode ter certeza de que está arrasando na maternidade!
E se alguém ousar dizer o contrário, mande-o ler este texto. Quem sabe essa pessoa não repensa seus próprios conceitos sobre o que é, afinal, ser uma boa mãe?
Tatiana Magalhães
Psicóloga clínica e pós-graduanda em psicopatologia.
tmagalee@gmail.com
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