Mito ou verdade: canetas emagrecedoras estão ligadas à gravidez?
Especialista em fertilidade explicam fatores do suposto efeito colateral de medicações

As chamadas canetas emagrecedoras, como o já conhecido Mounjaro, se tornaram tema nas últimas semanas, devido à liberação da ANVISA para o tratamento de obesidade e sobrepeso. Mas, uma polêmica nas redes sociais indica que mulheres teriam sofrido um efeito colateral inesperado: ficaram grávidas.
Mas, até que ponto as canetas emagrecedoras podem estar ligadas à gravidez? Isso é Mito ou Verdade? Boa Forma conversou com dois especialistas sobre o tema: Dr. Waldemar Carvalho, médico ginecologista e obstetra, especializado em reprodução humana pela Portland Fertility Center, de Londres, Inglaterra,sendo referência em Fertilização Assistida, preservação da fertilidade feminina e laparoscopia/histeroscopia, e também a Dra. Mariana Cocuzza, médica Ginecologista e Obstetra formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com pós-graduação no Hospital das Clínicas da FMUSP, especialista em cirurgia minimamente invasiva e laparoscopia na mesma instituição, realizando capacitação em cirurgia robótica em San Jose, nos EUA. Veja as respostas a seguir:
Mito ou verdade: canetas emagrecedoras facilitam engravidar? Por que?
Dra. Marianna Cocuzza: “É verdade, mas não da forma que muitas pessoas estão pensando. Na minha prática clínica, vejo com frequência como o emagrecimento saudável pode transformar a relação da mulher com o próprio corpo, inclusive no que diz respeito à fertilidade. As canetas emagrecedoras não agem diretamente no sistema reprodutivo, mas ao melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir processos inflamatórios, elas ajudam a reequilibrar o ciclo hormonal, a ovulação e o metabolismo como um todo. Para mulheres que sofrem com síndrome dos ovários policísticos (SOP), ciclos irregulares ou dificuldade para ovular, isso pode fazer uma diferença real. Não se trata só de peso, trata-se de saúde metabólica, quando conseguimos regular o nosso organismo, tudo flui corretamente e as chances de engravidar acabam sendo maiores”.
Dr. Waldemar Carvalho: “As chamadas “canetas emagrecedoras”, como o Mounjaro, podem sim indiretamente facilitar a gravidez. Isso porque o excesso de peso está ligado a alterações hormonais, inflamação crônica e resistência à insulina, fatores que afetam negativamente a ovulação, a qualidade dos óvulos e até o ambiente uterino. Ao ajudar na perda de peso e restaurar o equilíbrio metabólico, essas medicações podem melhorar significativamente as chances de concepção, tanto de forma natural quanto em tratamentos como a fertilização in vitro (FIV)”.
Qual o motivo das pessoas associarem as canetas emagrecedoras com a gravidez?
Dra. Marianna Cocuzza: “Porque, na prática, muitas mulheres engravidam depois de usá-las. Mas o ponto não é a “caneta”, mas sim, o que ela representa. Para muitas mulheres, ela é o primeiro passo num cuidado que vinha sendo adiado: a retomada da saúde metabólica, a volta de ciclos regulares, a percepção do próprio corpo funcionando de forma mais harmônica e até mesmo o próprio emagrecimento. É aí que a fertilidade melhora. Estudos mostram que mulheres com sobrepeso ou obesidade têm até 30% menos chances de engravidar em um ano, e isso está relacionado a inflamação crônica, resistência à insulina e desregulação hormonal. A caneta ajuda nesse ajuste, mas não é fórmula mágica. Ela é um recurso que precisa ser usado com consciência e acompanhamento médico.”
Dr. Waldemar Carvalho: “Essa associação acontece porque muitas mulheres que estavam tentando engravidar há tempos acabam conseguindo após emagrecer com a ajuda da medicação. E isso não é coincidência: o emagrecimento saudável pode melhorar a ovulação e o funcionamento do sistema reprodutivo como um todo. Ou seja, o foco não está na caneta em si, mas na melhora do corpo como um todo a partir da perda de peso”.
Pelo contrário, as canetas podem de alguma forma afetar futuramente uma gravidez?
Dra. Marianna Cocuzza: “Não, desde que utilizadas com responsabilidade. O que muitas mulheres não sabem é que essas medicações devem ser suspensas caso a gestação aconteça. Elas não foram desenvolvidas para uso durante a gravidez e o seu uso nesse período não é seguro. O problema está no uso sem orientação, na pressa por emagrecer e na medicalização excessiva do corpo feminino. Usar uma caneta para emagrecer sem olhar para o resto: ciclo, alimentação, estresse, sono, sexualidade, é tratar o sintoma, não a causa. Saúde da mulher é muito mais do que balança e ovulação. E o papel do médico é garantir que cada decisão seja tomada com consciência, segurança e autonomia”.
Dr. Waldemar Carvalho: “É importante deixar claro: essas medicações não devem ser usadas durante a gravidez. Se a gestação acontecer espontaneamente, o uso deve ser interrompido imediatamente. Além disso, em tratamentos como a FIV, o medicamento precisa ser suspenso pelo menos 21 dias antes da coleta dos óvulos (por conta da anestesia) e novamente antes da transferência do embrião. Ou seja, elas podem ser aliadas antes da gestação, mas precisam ser retiradas do protocolo no momento certo. Por isso, o acompanhamento médico é fundamental, sempre”.
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