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Espiritualidade prática, com Debora Pivotto

Espiritualidade e autoconhecimento conectados com a nossa saúde física e mental, com o coletivo e com a vida prática
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Simone Biles e a coragem de quebrar expectativas

Por Debora Pivotto
Atualizado em 19 ago 2021, 12h46 - Publicado em 29 jul 2021, 10h32

Nesta segunda semana dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020/21 , o mundo foi surpreendido com a decisão da ginasta americana Simone Biles, considerada uma lenda viva do esporte, de desistir das principais modalidades da competição. A notícia vem causando discussões e decepções por dois motivos. Primeiro porque ninguém espera que uma grande campeã desista de competir – o imaginário popular espera que os atletas deem o sangue por uma medalha olímpica e escolham competir mesmo quando estão gravemente lesionados. E segundo porque poucas pessoas compreendem e acolhem o motivo de sua desistência: querer cuidar de sua saúde mental.

Como assim cuidar da “saúde mental”? Mas os atletas não são seres super sônicos capazes de superar qualquer limite? Nos filmes de Hollywood pode ser, mas na vida real, somos todos muito mais humanos e complexos.

Simone Biles já havia dado sinais de que não estava muito bem. Depois de ter tido um desempenho abaixo do esperado nas primeiras provas e ser muito criticada, ela escreveu em uma rede social: “Eu realmente sinto que às vezes tenho o peso do mundo sobre meus ombros. Eu sei que eu ignoro e faço parecer que a pressão não me afeta, mas às vezes é difícil, hahaha! As Olimpíadas não são brincadeira ”. Ela seguiu mais uns dias na competição mas decidiu sair depois de ter tido novamente um desempenho no salto abaixo de sua própria média na prova. Dá pra imaginar o tamanho da pressão interna e externa que ela vive dentro dela?

Ah, mas não é covardia preferir abandonar uma Olimpíada em vez de competir e talvez ter um desempenho abaixo do esperado? Não necessariamente. Na verdade, no caso dela, considero um ato de grande coragem por muitos motivos.

Biles foi super corajosa ao ser sincera sobre o real motivo de sua desistência: ela quer cuidar de sua saúde mental. Ela poderia ter facilmente inventado uma desculpa de lesão física grave, que é muito mais comum entre os atletas de alto rendimento e mais facilmente aceitável pela opinião pública. Mas quando afirma que não está dando conta da pressão, que está sem confiança e que é vulnerável, ela lembra que mesmo os atletas mais incríveis também sofrem com problemas emocionais e de auto-estima. E que, na verdade, esse alto rendimento esportivo, a fama, a super exposição pública e todo o “glamour” que envolve os super campeões pode ter um custo emocional altíssimo. Ela joga luz num debate importantíssimo para toda a sociedade que, aliás, outras mulheres atletas incríveis vem corajosamente trazendo à tona. Em maio deste ano, a tenista japonesa Naomi Osaka virou notícia ao se retirar do aberto da França dizendo querer proteger sua saúde mental. E foi a atleta escolhida para acender a tocha olímpica na abertura destes jogos de Tóquio.

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A pressão e o incentivo de superar limites é algo normal e até saudável no mundo dos esportes, que tem a competição em sua essência. Mas quando essa pressão fica muito pesada, ela esmaga outros aspectos que são igualmente fundamentais para se ter um bom desempenho como atleta: o prazer de praticar e a confiança. E quando isso acontece, a pessoa perde a vontade de mostrar o que sabe, não performa bem e a competição simplesmente deixa de fazer sentido.

Na final do skate feminino, a gente pode ver como o esporte funciona bem e de forma saudável quando não uma pressão excessiva. Tanto a brasileira Rayssa Leal quanto as japonesas medalhistas, todas bem jovens e super talentosas, estavam concentradas e focadas, mas competiram numa leveza que é rara de se ver numa olimpíada. Margielyn Didal, das Filipinas, caiu no chão várias vezes, mas se levantava rindo e acenando para o público. Elas sabiam que estar ali numa olimpíada já era histórico. Não tinham grandes expectativas sobre elas (ou não tinha noção sobre elas) e vê-las em ação foi incrível. Já as skatistas veteranas, que já sentem o peso da cobrança, não tiveram um bom desempenho. Percebem como a pressão excessiva tira o brilho das atletas?

Por isso que quando uma campeã olímpica resolve abandonar uma competição para cuidar de sua saúde mental, ela deve ser respeitada e honrada. Porque ela mostra ao mundo que não está disposta a tudo para seguir sendo admirada. Ela avisa que é atleta, mas que não topa jogar qualquer jogo e, o principal, que não se sujeita a pressões e expectativas que vão além de seus próprios limites. E isso pode ser decepcionante num mundo patriarcal que confunde vulnerabilidade com fraqueza, mas no campo profundo do autoconhecimento, ela mostra uma força incrível, praticamente conquista uma medalha de ouro.

Sou Debora Pivotto, jornalista, escritora e terapeuta. Trabalhei por 13 anos em grandes redações do país até descobrir que os assuntos que mais me interessavam estavam dentro – e não fora – das pessoas. Apaixonada por autoconhecimento e comunicação, faço uma espécie de “reportagem da alma” com a terapia de Leitura de Aura, ajudo as pessoas a reconhecer e manifestar os seus dons e talentos facilitando um processo de autoconhecimento chamado Jornada do Propósito, e estou me especializando em Psicologia Análitica Junguiana. Adoro compartilhar meus aprendizados em textos, vídeos e workshops. Para saber mais, me acompanhe pelo instagram @deborapivotto.  

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