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Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.
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A maior causa das lesões

Por Samorai
Atualizado em 21 out 2024, 22h28 - Publicado em 10 ago 2021, 21h12
Dor nas costas? Onde está doendo não está a causa, mas o sintoma: procure em outro lugar
 (Benjamin Wedemeyer on Unsplash/Divulgação)
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Hey folks, como expliquei com mais detalhes na minha última coluna, as lesões não acontecem por acaso, elas sempre têm uma ou mais causas. Muitas vezes, uma cadeia de causas e, para reabilitar, é necessário abordar essas causas e não os sintomas por elas gerados ou não obteremos êxito.

Para exemplificar, uma hérnia de disco lombar tem por sintomas dores nas costas que irradiam para as pernas, dificultando muito a rotina do dia a dia. Entretanto, a hérnia de disco, muitas vezes, entendida como a causa das dores, é apenas um sintoma. Ela não nasce espontaneamente, mas a partir de algum fator que desequilibre a harmonia do corpo. Uma das possibilidades, e muito comum, é uma pisada alterada, por exemplo, os pés rodados para fora ao caminhar.

Esse movimento que aparentemente é inofensivo gera uma reação em cadeia desde o chão que faz com que a lombar tenha que fazer mais movimentos de rotação do que ela normalmente faz. Essa rotação excessiva produz uma lombalgia, uma protrusão discal e, posteriormente, uma hérnia de disco, que gera todos os sintomas que citei acima. Se pensarmos no sintoma, vamos tratar a lombar com massagem, ultrassom, choques, quiropraxia, fisioterapia, fortalecimento e nunca solucionaremos o problema porque nenhuma dessas ações interfere na pisada, que é a real causa. Elas podem até aliviar um pouco temporariamente, mas na semana seguinte está tudo igual. Isso porque a causa está ali, inalterada, gerando a cada passo o mesmo estresse na coluna. Se você tem uma hérnia lombar, você sabe disso melhor do que eu.

Agora me diga, nobre leitor. Mesmo que você seja leigo. Se você entender que a causa das suas dores vem do fato de você pisar com os pés para fora, o que você faria para melhorar isso? Corrigiria a pisada. Como? Pisando reto até que seus pés se adaptassem a essa maneira de pisar. E automatizassem essa pisada ao ponto dela se tornar a pisada normal dele, e… bingo! A coluna não sentiria mais o estresse excessivo com o qual ela tem que lidar. Por não ter esse estresse, a inflamação desaparece, visto que o ator responsável por essa inflamação não está mais presente e a melhora na sua dor nas costas acontecerá muito rápido. E melhor, duradoura. Até porque sua ação não é paliativa, mas corretiva, ou em outras palavras, você não atua mais no sintoma, mas na causa.

Atento como você é, já entendeu que a pergunta de um milhão de dólares relacionada a qualquer lesão é: qual é a causa dessa dor? E aqui já deixo uma dica. Onde está doendo não está a causa, mas o sintoma. Procure em outro lugar. Não obstante, nem sempre uma causa é tão evidente como uma pisada para fora. Muitas vezes, você tem que testar seu corpo a ponto de ver onde sua harmonia foi quebrada. Onde se dá essa falta de recurso ou algum padrão alterado, que por reação em cadeia, vai provocar dor ou lesão em algum lugar. Em mais de 20 anos trabalhando com reabilitação, posso lhe garantir que existem infinitas possibilidades de causas para lesões. Por isso, a partir de hoje começarei uma série que vai abordar essas causas para facilitar a quem tem dor ou a quem trabalha com reabilitação a buscar os verdadeiros responsáveis por uma lesão. E para começar essa série, vamos observar qual a maior causa de dores e lesões do ponto de vista estatístico.

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Quando pensamos 3Dimensionalmente, levamos sempre em consideração o corpo, a mente e o espírito, ou seja, o ser complexo. E isso só não basta. Precisamos entender a trajetória desta pessoa, sua história, seus hábitos, sua condição sociocultural, e tudo mais relacionado, porque somos o resultado de uma construção ao longo da vida. Quando olhamos dessa forma e classificamos todas as lesões em função de vários fatores, uma coisa salta aos olhos como uma causa que aparece em grande escala. A maior causa de lesões é uma lesão prévia. Isso quer dizer que após o surgimento de uma lesão, a probabilidade de você ter outra aumenta significativamente quando comparado às pessoas que não tem lesão. Se você acompanha algum esporte já percebeu que alguns atletas não saem do departamento médico após se machucarem pela primeira vez. E alguns atletas nunca se machucam. O curioso quando observamos essas análises é que essa lesão que ocorre após outra lesão pode ser no mesmo lugar ou em lugares diferentes. E acontecem não muito tempo depois da primeira lesão.

Você pode chamar isso de coincidência ou até mesmo de obviedade, mas também pode escolher olhar isso por um olhar mais aprofundado. E é disso que quero tratar hoje. Após uma lesão é comum acontecer duas coisas. A mesma lesão voltar ou uma lesão nova em outro lugar aparecer. Ou as duas coisas. Diversas vezes sem causa muito aparente. Já expliquei esse mecanismo neste post. Vou detalhar ambos os casos.

Quando a lesão aparece no mesmo lugar, é muito provável que a abordagem foi no sintoma. Ou seja, você olhou e tratou o sintoma e, obviamente, a causa continua ali. Voltando ao exemplo da hérnia, a pessoa sentia dor em função da pisada. E costumava correr. Ao sentir dor, parou a corrida e fez alguma terapia na lombar para aliviar a dor. Como ela parou de correr, a dor diminuiu ao ponto até de não mais existir. Isso a encorajou a voltar a correr. Porém, assim que voltou e uma vez que a causa – pisada inadequada – ainda estava lá, a dor voltou a aparecer. Isso passa a ser tão constante que a tendência é ela parar de correr. Muitas vezes instruídas por profissionais de saúde. E tudo isso se dá por não saber onde está a causa. Pense agora no estado emocional dessa pessoa, imaginando que o que ela mais ama é correr. Por isso é importante entender esse processo. Aqui também é importante reforçar que até se ela tivesse feito uma cirurgia e colocasse uma prótese no lugar do disco lesionado, ainda assim, por não observar a causa, é bem provável que ela desenvolvesse uma hérnia em um disco acima ou abaixo. Isso acontece com muita frequência.

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Do ponto de vista estatístico, quando a lesão é recidiva, não costumamos correlacionar essa lesão a uma lesão prévia. Por ser no mesmo lugar, é mais uma questão de não ter solucionado o caso. Mas, quando aparece uma outra lesão, pode haver, sim, uma correlação direta. Aqui, novamente reforço esse olhar. Se observarmos o sintoma, não correlacionamos as lesões, a menos que a relação seja muito óbvia. Então, para elucidar essa análise vou começar por uma correlação óbvia e depois partir para as não tão óbvias assim.

Imagine que você tem uma dor no joelho direito e por causa disso você passe a usar mais a perna esquerda do que usaria. É possível que você sinta alguma dor nessa perna e a causa tenha sido o uso excessivo desta perna para preservar a outra. Essa relação é fácil de observar. Entretanto, outra coisa que poderia acontecer é você mudar seu padrão de movimento em função dessa dor no joelho direito. Talvez pisar de outra forma. Como já vimos, pisar torto pode ser a causa de uma hérnia lombar, mas também pode ser a causa de uma hérnia cervical. Por uma lesão estar tão longe uma da outra não correlacionamos essa hérnia cervical à lesão do joelho. Contudo, se você estudar o corpo como uma reação em cadeia e de forma integrada, na qual uma parte afeta o todo e vice-versa, você observa essa relação. E atua na causa.

Para efeitos estatísticos, podemos colocar como causa dessa lesão uma lesão prévia. Ou seja, se não houvesse a lesão no joelho, talvez você nunca tivesse uma hérnia cervical. Às vezes, essa disfunção que gera a segunda lesão tem causa no tratamento da primeira. Por exemplo, uma pessoa é diagnosticada com uma hérnia lombar e faz um modelo de tratamento que, por não entender o funcionamento correto do corpo, preconiza uma retificação da coluna. Essa retificação, por ser disfuncional, começa a gerar um estresse lombar que, no final, desenvolve uma lombalgia, que não aconteceria se ela não tivesse uma hérnia cervical e um tratamento inadequado.

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Como pudemos observar, a partir de uma lesão um processo se inicia e, se não observamos o corpo com os óculos 3D, corremos o risco de passar o resto da vida remediando problemas que poderiam ser resolvidos definitivamente. Somos complexos e integrados. Uma parte afeta o todo, mas também somos uma reação em cadeia, não só no corpo, mas na nossa história. Nossas ações, escolhas e decisões promovem resultados e têm consequências. Nunca posso desprezar isso. Ou em outras palavras, nunca posso abrir mão de um olhar 3Dimensional.

Forte abraço,

Samorai

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