Adultos também podem ter cáries?

Sim! Apesar de menos frequentes, descuidos com a saúde bucal e o alto consumo de açúcares pode gerar cáries em qualquer fase da vida

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 21 out 2024, 16h40 - Publicado em 16 mar 2022, 08h00
cérie em adultos
 (Pavel Danilyuk / Pexels/Divulgação)
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Quando criança, ter cáries não só parece normal como é esperado. Com todos aqueles docinhos de festa e as guloseimas da infância, como não desenvolver uma cárie ou outra, certo? Mas… e os adultos? Para eles, parece que, depois de certa idade, as pessoas não desenvolvem mais cáries e essa passa a ser conhecida apenas como uma condição reservada aos pequenos. Será? 

Qual não foi a minha surpresa, há alguns meses, quando fui ao dentista e descobri que, sim, eu estava com um princípio de cárie. Logo eu, que escovo os dentes três vezes ao dia e consumo pouquíssimo açúcar no meu dia a dia. Mas lá estava ela, uma cárie de esmalte – ou seja, superficial -, não só em um, mas em dois dentes. 

Resolver essas cáries, ainda bem, foi muito mais simples (e indolor) do que eu imaginei. Mas a surpresa de ter que lidar com cáries na vida adulta foi tanta que decidi pesquisar se isso é mesmo comum e como eu posso evitar esses desconfortos no futuro. 

O QUE SÃO CÁRIES? 

Para quem não sabe, a cárie é considerada uma doença multifatorial, que depende principalmente da falta higienização adequada dos dentes e da frequência do consumo de açúcar, principalmente de sacarose ou alimentos que combinam a sacarose com outros tipos de açúcares, como a glicose e a frutose. 

“O desequilíbrio desses fatores desencadeia uma mudança ecológica na chamada placa bacteriana, ou biofilme oral, que se acumula constantemente na superfície dos dentes”, explica do Prof. Dr. Ricardo Amore, doutor em odontologia pela UNESP. “Isso leva à perda de minerais da estrutura dental e provoca o início das cáries.”

Esses processos de perda ou ganho de minerais dos dentes, isto é, a desmineralização ou remineralização, são considerados dinâmicos e constantes na cavidade oral. Porém, com o desequilíbrio a longo prazo do biofilme oral, a desmineralização pode prevalecer a ponto de gerar cavidades nos destes – as chamadas lesões de cárie. 

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“A cárie dentária é o nome da doença e a lesão cariosa é a consequência e a manifestação visível da doença, os seus sinais e sintomas”, continua o médico. “É a lesão de cárie propriamente dita que provoca destruição do dente e sintomatologia dolorosa.”

OS DIFERENTES TIPOS DE CÁRIES

Como se não bastasse todo esse processo complexo, as cáries ainda são divididas em tipos de diferentes. Existem as de evolução rápida, lenta, de localização diferente no dente e de extensões variadas. 

Para entender essas distinções, vamos lembrar um pouco sobre a composição do dente: cada um é constituído por uma parte radicular e uma parte coronária (a coroa do dente, ou seja, a sua parte visível). 

A coroa do dente é composta pelo esmalte, a dentina e a polpa dental. O esmalte é a estrutura mais mineral do nosso corpo, 98% da sua composição é mineral. Já a dentina suporta o esmalte dental e pode ser considerada uma estrutura “viva” com composição, aproximadamente, 60% mineral (inorgânica) e 40% tecidual (orgânica), pois recobre, protege e se comunica com a polpa dental.

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A polpa dental, mais conhecida como o nervo do dente, é composta por um tecido com vasos sanguíneos e fibras nervosas, responsável pela vascularização, inervação e hidratação dos dentes.

“Quando falamos em gravidade da cárie, deve-se relacionar à extensão da lesão da cárie, sendo que quanto mais profunda, mais próxima da polpa, e, consequentemente, maior a destruição dental e dor”, diz o médico. 

É por isso que visitar o dentista com frequência é tão importante. É ele que vai identificar os desequilíbrios do biofilme oral antes do aparecimento das lesões e, assim, tomar medidas preventivas e de controle da atividade da cárie. 

No entanto, caso a lesão da cárie já esteja instalada, o cirurgião-dentista vai determinar o melhor tratamento, sempre pensando no formato mais conservador e com menos consequências possíveis para o dente e para o paciente. Afinal, ninguém quer sentir dor na cadeira do dentista, certo?  

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“Isso quer dizer que cavidades mais superficiais, ainda em esmalte, têm um prognóstico mais favorável com menor destruição dental e geralmente sem sintomatologia dolorosa”, explica. “A medida que a lesão de cárie avança pela dentina em direção à polpa dental, a destruição é maior e mais rápida por tratar-se de um tecido mais orgânico e solúvel em relação ao esmalte, além de geralmente vir acompanhada de dor.”

AFINAL, ADULTO TEM CÁRIE?

As crianças costumam ter mais cáries porque os seus dentes, sejam de leite ou permanentes, são mais sensíveis aos ácidos produzidos pelas bactérias que fermentam os açúcares. Fora isso, os pequenos não negam o quanto gostam dos doces e consomem mais esses alimentos, além de terem uma dificuldade maior a seguirem os protocolos de higiene dental. Crianças que adoram escovar os dentes, assim como tomar banho, costumam ser raras. 

No entanto, apesar das crianças estarem mais sujeitas ao aparecimento das cáries, isso não significa que um adulto não pode desenvolvê-las também. Os adultos que consomem muitos doces e não cuidam da higiene bucal com cuidado podem, sim, acabar na cadeira do dentista para fazer os tratamentos contra as cáries ou contra outras complicações, como doenças das gengivas. 

“Os adultos são menos sujeitos às cáries por apresentarem dentes maturados com maiores níveis de minerais, como cálcio, fosfatos e fluoretos. Quanto mais mineral for a estrutura do dente, mais resistente à dissolução ácida, mas não completamente protegido”, continua o Dr. Ricardo. 

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Além disso, adultos costumam ser mais disciplinados quanto à escovação dos dentes, o que também torna a incidência das cáries menor – mas não impossível. Por isso, se o objetivo é evitar que as cáries apareçam, é importante: 

  • Manter a higiene bucal adequada, com escovação dos dentes e, de preferência, uso do fio dental. 
  • Evitar o consumo exagerado de açúcares no dia a dia. 
  • Agendar uma consulta com um dentista pelo menos uma vez ao ano. 

QUAL É O TRATAMENTO PARA CÁRIE? 

Assim como as cáries possuem graus de seriedade diferentes, os tratamentos acompanham essa tendência. 

“Tratar e proservar a lesão cariosa significa controlar os sintomas da doença; a cavidade propriamente dita e eventual sensibilidade dolorosa”, continua. 

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Ao contrário do que acontecia no passado, não é preciso mais remover a cárie completamente e restaurar o dente com uma ‘massinha’. Hoje, existem técnicas que interrompem a atividade da doença e evitam a sua progressão sem a necessidade de remoção. 

“É possível deixar cárie na cavidade com o objetivo de reduzir o desgaste dental e, principalmente o risco de exposição da polpa dental durante a remoção de cáries profundas, por meio de selamento adequado da cavidade. Vamos mais longe: em alguns casos específicos, nenhuma cárie necessita ser removida, mas isso apenas o cirurgião-dentista tem a capacidade de avaliar” diz.

Ah, e vale o aviso: a restauração de uma lesão de cárie não elimina o risco de uma nova cárie. As margens de uma restauração não são invioláveis, assim como o próprio material restaurador está sujeito a desgaste ou mesmo fratura. Por isso, as restaurações também devem ser avaliadas rotineiramente pelo cirurgião-dentista.

Em paralelo, os pacientes podem e devem controlar a cárie dental todos os dias adotando as medidas preventivas citadas acima. “Sim, é trabalho diário desorganizar o biofilme oral e manter o seu equilíbrio. Nada melhor do que uma técnica adequada e produtos de boa qualidade para a higiene oral”, finaliza.

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