Claudia Ohana: livre, leve e solta
Capa de novembro de Boa Forma, a atriz conta sobre a construção de sua autoestima e a luta contra o etarismo feminino
Navegar pela vida sem medo das ondas – esse parecer ser o lema de Claudia Ohana. Assim como a água, ela flui: muda, segue o movimento e se reinventa quando deseja. Aos 62 anos, a atriz e cantora não se deixa limitar por padrões, e nem se prende ao que os outros esperam dela.
No entanto, à Boa Forma, Claudia revela que nadar contra a corrente não é simples. “Não vou dizer que nunca me deixei levar. Vivemos em um mundo cheio de opiniões sobre o que é bom, bonito, aceito, respeitado.”
Para a atriz, o envelhecimento foi um ponto de virada. “A maturidade transforma muito a forma como vemos a vida e nossas prioridades. É um processo lento: você vai envelhecendo, vai mudando, vai ganhando clareza sobre o que realmente importa”, conta.
Ativista contra o etarismo feminino, Claudia usa sua voz — e sua imagem — para defender que a idade não significa “prazo de validade” e nem define o valor de alguém.
“Quando fiz 60 anos, percebi o quanto as pessoas ainda veem a mulher dessa idade como velha. Perguntavam: ‘Você vai se aposentar? E sexo, tem sexo aos 60?‘ Foi uma revelação — me colocou numa prateleira, como se houvesse um limite para nós”, desabafa.
Capa da nossa edição deste mês, a atriz mostra que viver livre, leve e solta é muito melhor e que o prazer tem que estar presente em todas as fases.
“Quando eu vou a um baile, faço questão de ser rainha – independentemente da idade ou do que a sociedade espera de mim.” Veja a entrevista completa abaixo!
Livre, leve e solta
Hoje, você defende a autenticidade e o desapego em relação aos padrões. Sempre foi assim?
Eu acho que nunca fui padrão. Fui criada por uma mãe que não seguia padrões, então isso nunca foi algo que eu discutia — apenas vivia.
Nunca me senti igual a todas as pessoas. Hoje em dia, falamos muito sobre isso, provavelmente porque estamos em uma época de expressar o que pensamos e sentimos.
Minha defesa agora é a aceitação de envelhecer. Acho importante lutar pelo respeito à forma como cada um é. Todo mundo precisa ser quem é, e isso é algo muito difícil de alcançar. Ser autêntico é um desafio para todos. Eu apenas quero ser respeitada como sou.
Teve algum momento em que sentiu a pressão para ser diferente do que é?
Não vou dizer que nunca me deixei levar. Vivemos em um mundo cheio de opiniões sobre o que é bom, bonito, aceito, respeitado. Estamos constantemente tentando nos ajustar.
Existe um livro chamado “A Galinha e o Gavião”, que eu adoro porque mostra que todos somos criados para sermos “galinhas”. Quando você quer abrir suas asas e voar como um gavião, se torna alguém diferente, e lutar contra o conformismo é muito difícil.
Não quer dizer que eu nunca tenha cedido à tentação de ser aceita ou de me adequar ao padrão. Todos nós lutamos constantemente para sermos quem realmente somos.
Como você definiria a relação que tem consigo mesma hoje, em comparação à Claudia do início da carreira?
É difícil, mas quanto mais envelhecemos, mais nos aproximamos de nossa essência. Hoje, minha relação comigo mesma é muito diferente do início da carreira. Antes, tudo era novidade, tudo chamava atenção, e eu me distraía facilmente.
Agora, tenho encontros mais profundos comigo mesma. Sempre fui um pouco “velha” para minha idade, gostava de ficar sozinha e viver como um espírito mais maduro.
Para quem se sente preso à necessidade de agradar todo mundo, meu conselho é: todos estamos presos nisso, e sair dessa prisão é difícil, mas possível. O mais difícil, na verdade, é se aceitar.
Quando você se aceita, consegue mostrar ao mundo quem realmente é. Eu acho que a coisa mais importante na vida, chegando na minha idade, é a felicidade. E você só é realmente feliz quando sabe o que quer. E só sabe o que quer quando sabe o que é. Simples assim.
Envelhecer, um privilégio de se conhecer
Como a maturidade transformou a sua forma de ver a vida e as suas prioridades?
A maturidade transforma muito a forma como vemos a vida e nossas prioridades. É um processo lento: você vai envelhecendo, vai mudando, vai ganhando clareza sobre o que realmente importa.
Quando você tem 30, é mais maduro do que aos 15; com 40, mais maduro do que aos 30. E acredito que, aos 70, 80 ou 110, vou olhar para minha juventude e pensar: “Como eu era infantil, como eu era tolinha!” (risos).
A maturidade ajuda a entender melhor nossas prioridades, a nos aceitarmos. Por exemplo, gosto muito de ficar sozinha, mas aceitar isso é difícil, porque a sociedade e as pessoas ao redor dizem: “Não, você precisa sair, precisa fazer isso ou aquilo”. Então, você se questiona: “Será que preciso mesmo? O que eu quero?”.
Ela influencia desde as escolhas mais simples, como o que você vai comer, até as mais profundas, como o parceiro com quem você vai dividir a cama. Tudo: passeios, viagens, amigos, trabalho, exercícios.
Como você encara o olhar crítico da sociedade sobre o envelhecimento feminino?
Sobre envelhecimento, especialmente para mulheres, vejo grandes diferenças. Hoje, ter 60 anos é diferente do que era antigamente.
É preciso se acostumar com a beleza madura — os olhos das pessoas precisam se acostumar a ver alguém envelhecendo. O brasileiro é muito cruel com o envelhecimento feminino.
Outro dia, na academia, uma menina ia fazer 30 anos e disse: “Ai, meu Deus, estou fazendo 30. Agora não posso mais fazer isso, não sei o que fazer porque não tenho carreira sólida”. Ou seja, com 20 anos a crise existe, com 30 também…
O importante é lutar pelo seu espaço. Todos estamos nessa onda de reivindicar o nosso espaço, e eu me incluo.
Para uma atriz, é ainda mais complicado: a beleza muda, você não é mais aquela jovem, e ainda há pouca representação de mulheres maduras. Normalmente, as personagens mais velhas são mães ou tias — histórias centradas em mulheres maduras são raras.
E eu acho que a coisa mais importante na vida chegando na minha idade é a felicidade. E você só é realmente feliz quando você sabe o que você quer. E você só sabe o que que você realmente quer quando você sabe o que que você é. Simples assim.
Que descobertas sobre si mesma você fez ao envelhecer?
Com o passar do tempo e o envelhecimento, aprendi muito sobre mim mesma. Descobri o que realmente quero, o que me faz feliz, e percebi a importância de falar sobre envelhecer. Antigamente, mulheres não diziam a idade. Hoje, podemos falar com orgulho.
Quando fiz 60 anos, percebi o quanto as pessoas ainda veem a mulher dessa idade como velha. Perguntavam: “Você vai se aposentar? E sexo, tem sexo aos 60?”
Foi uma revelação — me colocou numa prateleira, como se houvesse um limite para nós. Mas não somos produtos com data de validade.
Senti vontade de gritar para o mundo que as mulheres não têm prazo de validade. Quero falar sobre isso porque muitas mulheres da minha idade estão sofrendo com a menopausa, com a perda de energia e com a depressão.
Você já não é mais aquela menina com asas nos pés, que entra em uma sala e se sente rainha do baile. Mas, quando eu vou a um baile, faço questão de ser rainha – independentemente da idade ou do que a sociedade espera de mim.
O que a menopausa ensinou a você sobre prazer, desejo e autocuidado?
Quando eu comecei a menopausa, senti uma certa confusão. Confusão não é esquecer as coisas — tem um esquecimento também —, mas é estar em casa e pensar: “Será que eu saio? Será que fico? Será que tenho que telefonar para alguém?” É uma sensação aflitiva, porque você acha que não está bem, que tem algum problema neurológico.
Quando vieram os calores, eu pensei: “Tá, é menopausa. Tudo bem, pode vir.” Eu sou do tipo que deixa o calor passar, mas o grande problema é não ficar acomodada.
A menopausa traz uma baixa de libido, e libido não é só sobre sexo — é sobre ter tesão pela vida, vontade de fazer coisas. Então, você precisa se vigiar para não cair na depressão.
É preciso ir atrás do prazer, do desejo, do que faz bem. Ainda tenho calores, mas a confusão mental passou, graças a Deus. Nem irritação intensa sinto mais.
Mas uma coisa que percebi — e nunca tinha sentido antes — é a vontade de comer doces. É terrível não conseguir resistir. Acabei engordando também.
Quais são seus segredos para cuidar da autoestima em meio à pressão externa?
A minha autoestima é um trabalho constante. Ninguém é 100% todo tempo, né? Primeiro, me cuido. Gosto de coisas belas, de flores, de estética. Cuidar do corpo e da pele faz parte da minha rotina há muito tempo. Mas nunca é tarde para começar.
Não tenho fotos minhas de jovem em casa. Não sou do tipo que fica cultuando o passado. O que me interessa é como estou agora e como vou ficar.
Existem pessoas que vivem angustiadas pelo passado; outras, ansiosas pelo futuro. Eu sou uma ansiosa que se esforça muito para se manter no presente. Faço yoga, meditação, porque o estado de espírito é extremamente importante.
Quando você se sente bonita, qualquer roupa serve, qualquer look funciona. Tudo é questão de olhar — o mundo existe pelo nosso olhar. Meu mundo é o meu olhar.
Hoje, eu posto fotos e vídeos de biquíni. Se eu fosse jovem, nunca faria isso, teria vergonha. Hoje, é quase um ato de transgressão, de diversão.
Cuidar de si mesma do exercício à natureza
Como a atividade física beneficia o seu bem-estar no dia a dia?
Quanto à atividade física, malho todo dia. Faço dança, musculação, e agora estou fazendo sapateado também. A dança é puro prazer para mim, a musculação dá disciplina. Comecei a dançar aos 15 anos e nunca parei. Alternar modalidades ajuda a manter a motivação.
O yoga, por exemplo, é incrível. Eu tinha relutância, todo mundo achava que eu era super yogui, mas nunca fui.
Quando fiz uma novela, meu personagem precisava praticar yoga, e comecei a fazer aula particular. O yoga coloca você em outro estado: paz, paciência e felicidade. Hoje, essa prática faz parte do meu cuidado mental.
A atividade física faz uma diferença enorme no meu dia a dia. Faço exercícios há muito tempo, e quando fico um período sem, sinto falta, meu corpo sente carência.
Mexe com energia, disposição, humor. Por isso, tento encaixar exercícios na rotina, mesmo que às vezes seja difícil por causa de trabalho ou gravações.
A yoga exige paciência, respiração e um bom professor. Eu conheço até uma academia de hot yoga em São Paulo, que é incrível — a sala aquecida potencializa tudo, você sua bastante e sai renovada.
E nos dias em que a motivação e a energia faltam, o que te dá força para continuar se cuidando?
O que me dá força para continuar me cuidando é a sensação que vem do corpo. A endorfina traz felicidade, equilíbrio, autoestima.
Cuidar de mim me dá autonomia, independência e energia para enfrentar os problemas do dia a dia. Tudo isso me motiva a seguir, a ser feliz e a chegar aos 100 anos podendo amarrar meu sapato, dançar e fazer tudo o que eu quero.
O que você considera essencial para cuidar da mente e do corpo?
A saúde mental é complicada, né? Ninguém consegue mantê-la perfeita, mas dá para cuidar dela na medida do possível. Para mim, é todo um pacote: corpo, mente e espírito.
Não sou religiosa, mas de certa forma sou. Eu cuido do corpo, da alimentação, do sono, e tudo isso ajuda a mente.
Faço meditação e terapia. Voltei para a terapia depois de uma perda muito grande de um amigo querido. Fiquei muito mal e percebi como a terapia faz diferença. Não é que você tenha que ser escrava dela, mas às vezes é fundamental. Também ter grandes amigos ajuda muito.
A praia é algo que eu gosto muito. Eu vou muito à praia aqui no Rio de Janeiro. A praia tem muito a coisa do bem-estar. Essa conexão com a natureza ajuda a dar uma ancorada no presente. Eu vou à praia, sei lá, três vezes por semana. Eu jogo frescobol, faço várias coisas lá, é incrível.
Quais são os seus projetos ou sonhos pessoais que mais te animam hoje?
Sobre o futuro, meus projetos me animam muito. Estou escrevendo um livro, desenvolvendo um roteiro para um filme que quero dirigir, e planejando fazer uma peça. Também sonho em ter uma casa na praia.
Foto: @viniciusmochizuki
Make e Hair: @ewertonpacheco
Styling: @garandrastyle
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