Giovanna Lancellotti: a tríade entre carreira, saúde mental e aceitação
Capa de Boa Forma de outubro, a atriz comenta sobre a volta às novelas e a maneira como encontra equilíbrio além da vida profissional
Brilhando nas telas desde muito jovem, a atriz Giovanna Lancellotti atravessou muitas fases diante do olhar do público e da mídia.
Para se proteger contra as pressões externas, os cuidados com a saúde mental sempre foram prioridade em sua rotina. “A saúde mental é a base fundamental para você não deixar o que vem de fora te atingir”, conta, à Boa Forma de outubro.
Lancellotti revela que, especialmente no início de sua carreira, passou por várias “brigas” com o espelho. “Quando estava começando a entrar na mídia, eu via outras pessoas e era praticamente impossível não me comparar. Muitas coisas me incomodavam em mim.”
Hoje, aos 32 anos, Giovanna avalia que a maturidade transformou (e continua transformando) o jeito como ela trata a si mesma. Agora, com uma perspectiva mais carinhosa e respeitosa, ela comemora suas conquistas, aceita suas vulnerabilidades e procura se conectar com o que realmente importa. “Eu acho que a maturidade te traz um processo de aceitação, você começa a valorizar mais as coisas reais do que as superficiais.”
Confira e entrevista na íntegra a seguir!
Autoestima sempre em construção
O que você faz para se manter blindada contra as pressões externas?
Você se manter fiel tanto aos seus princípios quanto ao que você acredita é uma luta, é um exercício. E a saúde mental é a base fundamental para você não deixar o que vem de fora te atingir.
Então, é preciso fazer coisas que te deixem bem, conviver com pessoas que te deixam bem, que não te vibrem na competitividade e na comparação, e sempre valorize as suas próprias conquistas. Eu me mantenho muito fiel ao que eu sou, ao que eu acredito, e isso, com certeza, me ajuda a me blindar desse tipo de pressão.
Muita coisa que eu leio, eu não levo para mim. Ter saúde mental ajuda a filtrar do que você vai deixar se abalar e do que você só vai ler, rir, se irritar e deixar para lá.
Como você enxerga a relação entre autoestima e maturidade?
Eu acho que elas estão altamente ligadas. Eu acho que a maturidade te traz um processo de aceitação, você começa a valorizar mais as coisas reais do que as superficiais.
Eu acho que isso traz junto uma autoestima no sentido de uma confiança, de você se sentir segura em quem você é, de assumir as suas vulnerabilidades.
Assumir os seus pontos fracos, e não se intimidar por eles. É reconhecer e saber lidar. A maturidade está muito ligada ao bem-estar e ao autoconhecimento.
Teve algum momento na sua vida em que você brigava com o espelho?
Sim, principalmente no início da minha carreira, quando eu comecei na televisão, aos 17 anos – um período marcado pela transição para a vida adulta.
Eu estava morando sozinha, saindo da casa dos meus pais, começando a praticar atividades físicas que antes não praticava, mudando a minha alimentação. Então, todos os meus hábitos mudaram naquela época.
Eu me lembro que eu me incomodava muito com o meu próprio corpo quando eu fazia a novela “Gabriela”, quando eu tinha 19 anos. Lembro que teve uma figurinista que uma vez falou para mim que se eu não tomasse cuidado eu ia ficar uma “porpetinha”. Eu nunca esqueci dessa palavra. Isso me marcou muito.
Atualmente, a gente fala muito mais sobre a questão da pressão estética, sobre a saúde mental, sobre a autoaceitação, mas, se for pensar em 6 anos atrás, as coisas não eram tão assim.
Quando eu estava no início da minha carreira, começando a entrar na mídia, eu via outras pessoas e era praticamente impossível não me comparar. Muitas coisas me incomodavam em mim.
Você sente que a maturidade mudou sua relação com seu próprio corpo?
Sinto. Acho que antigamente eu sentia mais essa pressão externa e, hoje em dia, algumas coisas que me afetavam já não me afetam mais. Isso veio com a experiência.
Eu estou há quase 16 anos de uma carreira pública, então, a gente vai passando por situações que vão deixando a gente blindado.
Além disso, eu estou com 32 anos, então, muitas coisas que eu pensava, por exemplo, “Ai essa gordurinha me incomoda”, hoje, não tenho nem tempo de olhar.
Você tem muitas outras coisas mais importantes no dia a dia, que realmente valem a sua atenção. Minha autoestima e a minha confiança melhoraram muito com a maturidade.
O que significa o autocuidado para você?
O autocuidado vai muito além do que um skincare, do que hidratar o cabelo. Para mim, hoje, ele está presente desde eu separar uma hora do dia para ficar com os meus cachorros até eu fazer uma máscara de argila à noite.
Ele entra em muitas partes do meu dia. Às vezes, eu estou muito cansada e tenho um dia de folga, em vez de ir resolver mil coisas, eu me respeitar, assistir a um filme…
Em uma rotina tão agitada quanto a nossa, o autocuidado é procurar refúgio para você conseguir baixar a sua frequência, conseguir ter aquela energia mais limpa e se conectar com a sua espiritualidade.
Às vezes, você está com tanto barulho na cabeça, pensando em tanta coisa, que você não consegue enxergar os sinais que o seu corpo e sua vida dão.
Movimento como válvula de escape
Quais são as suas atividades físicas favoritas?
Eu nunca fui uma pessoa que gosta de fazer sempre a mesma coisa. Eu sempre fui muito dinâmica. E a prática de atividades físicas é uma válvula de escape para mim, que tem me ajudado muito em todos os sentidos, tanto na minha vida pessoal quanto até mesmo na profissional.
A escada é um exercício que se tornou um queridinho meu. Eu tenho uma escada em casa e, todos os dias, eu coloco 40 minutos e aí vou lendo os capítulos da novela e, quando eu vejo, já acabou e eu já decorei meus textos todos. Ou seja, é um momento em que eu fico completamente focada, eu não consigo me distrair, e isso tem sido meu vício.
Mas, no geral, eu gosto de fazer treinos dinâmicos. Gosto de fazer musculação, mas gosto de fazer aulas com professores diferentes, gosto de ir mudando os estímulos. Não sou muito adepta de uma rotina tão certinha.
Como o movimento transforma o seu bem-estar?
É impressionante porque, às vezes, quando eu estou na academia, eu percebo o quanto eu consigo pensar melhor, sem nenhuma pressão, sem nenhum outro estímulo externo.
Eu moro em uma casa, então, eu tenho minha academia em casa e também costumo fazer exercícios ao ar livre. Isso me recarrega, me deixa muito concentrada em mim mesma.
Eu vejo que atividades como yoga, por exemplo, me ajudam a encarar momentos de muita intensidade.
Recentemente, estou vivendo uma personagem que sofre um estupro na novela “Dona de Mim”, então, são situações muito tensas, muita tristeza, muito choro, muito desespero, uma alta carga emocional.
E, antes de gravar essas cenas, eu gosto de realizar uma aula de yoga. Se eu tivesse que estar no estúdio de gravação às 08h da manhã, acordava às 06h e fazia uma aula de yoga. Isso me ajudava a ficar mais tranquila para conseguir receber essa carga emocional, essa sensibilidade.
Você sempre gostou de se exercitar ou isso foi se desenvolvendo com o tempo?
No começo, eu não gostava. Eu era aquela pessoa que ia meio que por obrigação. Cumpria ali as três vezes da semana e rezava para o tempo passar rápido.
Hoje, é impressionante como o exercício realmente está ligado a minha saúde e vai muito além da minha parte física. É diferente quando você consegue criar o hábito, quando você sabe que você precisa, quando você quer se sentir bem.
Giovanna além das telas
Qual foi seu maior aprendizado para não se perder em meio ao turbilhão da vida de atriz?
Primeiro de tudo, ter em mente que todo trabalho é passageiro. Eu costumo dizer uma frase para muitas pessoas, principalmente jovens que falam que estão na primeira novela.
Eu sempre falo: “Não acredita. Nem no sucesso, nem no fracasso. É um trabalho normal, vai passar. Ele sendo muito bom ou muito ruim, vai passar. A gente tem que aproveitar ao máximo, se entregar ao máximo, mas nunca deixar uma coisa momentânea te enganar”.
Então, eu acho que o que eu mais tento fazer é sempre me manter em mim, sempre voltar para a Giovanna.
Em “Dona de Mim”, por exemplo, com as cenas de muito choro e desespero, é difícil chegar em casa depois de ter ficado angustiada o dia inteiro e falar: “Ó, corpo, é brincadeira, viu? Agora, a gente vai ver um filme e dar muita risada”.
É muito difícil se desvincular. Existe um estado de espírito que fica preso ali. A gente tem que ir aprendendo a usar artifícios a nosso favor.
O que te ajuda a encontrar o equilíbrio fora das câmeras?
Eu já tive vários momentos de barulhos ansiosos e mais inquietos na minha mente. Isso é algo que acontece com todo mundo várias vezes ao longo da vida.
E, para lidar com tudo isso, a terapia tem feito toda a diferença na minha vida. Eu sei que ela não é acessível para todo mundo, mas todos que pudessem fazer, deveriam realmente fazer.
Além disso, realizar exercícios que me conectam com a natureza, gastar tempo com as coisas que eu gosto, ficar com a minha mãe também me trazem para o meu equilíbrio emocional.
Eu gosto muito de organização de casa, por exemplo. Se eu estou com o tempo livre, eu vou reorganizar minha casa. Também adoro pintar. O segredo está em ir descobrindo as coisas que te desliguem de um estado de ansiedade.
Futuro e a volta às novelas
Como você avalia a sua trajetória até aqui profissionalmente?
Eu sou muito grata pela minha trajetória até aqui. Assim, eu tenho 15 anos de carreira. Nesse tempo, eu sinto que eu consegui ser bem diversa nos projetos, nos segmentos, seja novela, série, filme… Teatro eu ainda não explorei tanto, mas consegui ter alguma experiência também.
Eu fico feliz de ver que, na minha carreira até aqui, eu fiz muitas coisas diferentes. Personagens diferentes, gêneros diferentes… Acho que isso é um dos pontos mais legais da vida de um ator, você ter essa diversidade de personas.
Claro que ainda tem muita coisa que eu quero conquistar, tem muito personagem que eu quero fazer, mas eu sou extremamente feliz com a minha carreira, com as coisas que conquistei até aqui.
Essa novela que eu estou fazendo agora, “Dona de Mim”, também foi um grande acerto. Eu estou amando fazer a personagem Kami.
É uma personagem que traz debate, que traz tantos diálogos. Isso é tão proveitoso enquanto sociedade, eu acho que é um aspecto super positivo. Além disso, é uma personagem que traz de volta um público de televisão aberta, da qual eu estava há 7 anos afastada.
O que te motivou a voltar para as novelas depois desse tempo afastada?
Eu estava com saudades. É muito diferente você fazer uma obra que passa todos os dias na casa de uma pessoa de você fazer um filme ou uma série, por exemplo.
Na novela, a sua personagem está todos os dias na casa do telespectador, a pessoa se sente mais íntima, ela vai acompanhando a história, diferentemente de um filme, em que você já tem a obra fechada, já sabe exatamente o que vai acontecer. Na novela, você também vai se surpreendendo,
A questão do estupro em “Dona de Mim”, por exemplo, para mim, foi uma novidade, me surpreendeu, me fez recalcular a rota, me fez repensar em como eu iria agir com aquela personagem dali em diante, em como que iria ser essa transformação.
A novela é um ótimo exercício para o ator. É um exercício diferente de tudo. Você tem que estar com o corpo disponível para qualquer mudança que aconteça e aberto à escuta do público, que pode te amar ou te odiar. Ela traz um feedback diferente, uma aproximação de público diferente.
A novela também carrega um apelo muito popular que causa muita identificação, ou seja, o público acaba se sentindo muito mais próximo.
A Kami, de “Dona de Mim”, é uma personagem diferente de tudo que eu já fiz. Ela é uma mulher real, uma mãe solo. Ela representa a realidade de muitas mulheres do nosso país.
É uma mulher que, apesar de ser mãe, não abre mão de fazer as coisas que ela gosta de fazer, de viver a vida dela, de ter os relacionamentos dela. Isso abre muitos debates para a nossa sociedade.
Eu avalio a Kami como um desafio, que me proporciona uma descoberta de sentimentos muito diferentes.
A violência contra a mulher é uma realidade muito gritante, de todo dia, e mergulhar nesse tema, com a questão do estupro em “Dona de Mim”, foi algo muito profundo para mim. Nunca tinha feito uma personagem que tivesse passado por algo assim. É um aprendizado como pessoa.
Então também me fez entrar num mergulho muito profundo, fiquei assistindo a muitos filmes e documentários e séries, conversando com pessoas, com amigas que eu sei que já foram abusadas e tal, então é um é um aprendizado assim no no geral para mim como pessoa também.
O que vem por aí?
Olha, eu tenho alguns projetos dos sonhos, sendo que um deles eu espero realizar no ano que vem. É um filme que eu estou produzindo pela primeira vez.
Eu não posso falar muito dele ainda, mas é algo que eu queria muito fazer. Eu vou atuar nele também, mas é a primeira vez que eu vou estar produzindo.
Styling: @sannyelias
Beleza: @cleidearaujo
Foto: @saullomoreira
Acompanhe o nosso WhatsApp
Quer receber as últimas dicas e matérias incríveis de Boa Forma direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp.
Dicas para afinar a cintura: exercícios e alimentação em harmonia
Como o treino de força pode reduzir sua idade biológica em até oito anos
Horóscopo semanal: de 13 a 19 de outubro de 2025
Descanso e hipertrofia: como a recuperação potencializa seus ganhos na musculação
Cuidados essenciais com o coração antes de iniciar a prática de exercícios
