Como saber se a sua saúde intestinal está boa

Considerado o segundo cérebro, o intestino produz serotonina, absorve os nutrientes e prepara o resíduo que será eliminado pelo nosso corpo

Por Amanda Ventorin
Atualizado em 21 out 2024, 16h30 - Publicado em 13 dez 2021, 14h00
mulher segurando cartaz com desenho do intestino
 (Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Você já se perguntou sobre a importância do intestino para nossa saúde e qualidade de vida? Sendo muito mais que apenas um órgão, ele é considerado o segundo cérebro de nosso corpo.

Isso por ser um produtor de serotonina (hormônio da felicidade). “O intestino, além de ser um órgão que está extremamente relacionado ao bem estar da pessoa (tanto é que usamos adjetivos como ‘enfezado’ para quando o intestino não funciona e a pessoa fica chateada), é basicamente chamado de segundo cérebro por conta da alta produção de serotonina, que é fundamentalmente utilizada pelo cérebro para preencher diversas situações do dia a dia”explica o gastroenterologia e cirurgião do aparelho digestivo Leandro Peradin de Castro.

As funções do intestino são vastas e vão desde absorver os nutrientes até preparar o resíduo que será eliminado pelo ânus. Porém, ele também é considerado um órgão de defesa do organismo, sendo colonizado por uma grande quantidade de bactérias, fungos e vírus, fazendo uma barreira de defesa para que patógenos (organismos que são capazes de nos causar doenças) não agridam o corpo. Ele também apresenta forte influência nos genes e na inflamação, podendo auxiliar na modulação do humor, além de ser responsável pela produção de nutrientes, aminoácidos e neurotransmissores. Quanta coisa, não?

Ó QUE É MICRIBIOTA INTESTINAL?

Desenvolvida no nosso nascimento, a microbiota é a composição de todos os micro-organismos (bactérias, fungos, vírus) que vivem no intestino e estômago e é moldada por fatores genéticos, ambientais e alimentares. Muitos deles nos ajudam na defesa do organismo, formando um equilíbrio entre os que são bons (que matam ou impedem bactérias ou vírus nocivos de se proliferarem, ajudam fazendo a digestão de alimentos que nós não digerimos e possibilitam absorver vitaminas ou outros nutrientes que nós precisamos) e os ruins, que muitas vezes são os causadores de doenças.

“A microbiota intestinal apresenta uma importante função na produção de vitaminas como a K e complexo B, aminoácidos essenciais e serotonina-hormônio do prazer e felicidade” conta Flávia Rodrigues, nutricionista. E completa que estudos recentes sugeriram que o microbioma intestinal desempenha um papel importante na modulação do risco de várias doenças como: dermatite atópica, diabetes tipo 2, obesidade, aterosclerose, dentro outras.

COMO SABER SE MINHA SAÚDE INTESTINAL ESTÁ BOA

Segundo Leandro, problemas intestinais podem ocorrer por uma má digestão devido a intolerâncias ou mesmo a ingestão de um alimento que não lhe caiu bem, causando sintomas como:

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  • náusea;
  • vômito;
  • dores intestinais, sejam cólicas ou dores como uma “pontada”, que são um pouco mais fortes;
  • sensação de estufamento;
  • fezes fora do normal (veja o quadro abaixo).

A escala de Bristol, método de avaliação foi desenvolvido pelo Dr. Ken Heaton na Universidade de Bristol e publicado no Scandinavian Journal of Gastroenterology em 1997, e é um modo de analisar a saúde intestinal, segundo Flávia. “O ideal é que as fezes estejam entre 3 e 4″, conta a nutricionista.   

Ilustração escala de bristol
(Escala de Bristol/Divulgação)

Além disso, é importante ficar de olho nas alterações. Está perdendo ou ganhando peso? A frequência de evacuação teve alguma alteração? Há dores? Estes, de acordo com os profissionais, são os grandes sinais que podem indicar alterações da saúde intestinal. “Também é importante estar sempre atento ao sinal de sangramento, seja pela boca, em vômitos ou saindo também nas fezes. São sinais muito importantes e claros de que a saúde intestinal não está boa” finaliza Leandro.

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ESTILO DE VIDA E INTESTINO

  • prática de exercícios

Alguns estudos demonstraram que praticantes de exercício físico apresentam micro-organismos diversificados na microbiota, tendo uma prevalência das bactérias benéficas, auxiliando na permeabilidade intestino, ajudando no manejo da inflamação

Outro grande beneficiário das atividades físicas é o cólon. “O cólon, que é a parte final do intestino, tem como principal função, como eu disse, a absorção de água e o preparo desse bolo fecal, para sair na forma de fezes.  Uma analogia que foi feita pra mim, e eu gosto bastante dela e de transmitir isso aos meus pacientes, é que cólon é como se fosse um tripé, então ele precisa de três coisas fundamentais para que ele funcione bem: água, fibras e atividades físicas. Ele precisa se mexer”, explica Leandro. “Então, toda vez que a gente anda e que a gente faz uma atividade física, a gente melhora o funcionamento intestinal. A atividade física, para mim, é absolutamente fundamental para o bem estar da pessoa”.

  • estresse
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O estresse também pode alterar o funcionamento do intestino. As células neurais estão presentes no intestino e alterações de humor podem desencadear problemas intestinais, assim como eles também podem afetar o humor, por conta da ligação de neurotransmissores presentes no órgão. “Lembra quando nós falamos que ele era o segundo cérebro? E que ele fazia a produção da serotonina? Mas quem aumenta ou diminui a capacitação dessa serotonina é o próprio cérebro. É ele que comanda se você capta mais ou menos. E conforme você ocorre o ajuste na captação deste hormônio, você vai ter uma alteração da funcionalidade do intestino que vai desde alteração simples,  por exemplo: agora estou trabalhando, estou no meio do dia, estou com muita adrenalina e acabo não evacuando. Já, para situações onde pessoas ficam extremamente ansiosas, nervosas, ou vai entrar em uma reunião e tem vontade de evacuar, são fezes mais amolecidas”, explica Leandro, “Isso é o que vamos compreender como uma doença que tenha acometido muitas pessoas que é chamada de “síndrome do intestino irritável”, onde o intestino se altera conforme o funcionamento emocional do paciente, e esse funcionamento emocional vai alterar também a função alimentar. Assim, aquilo vai virando uma bola de neve que não fica bem para o paciente”, conclui.

  • forma que nos alimentamos

Um outro fator que causa problemas intestinais é a forma que nos alimentamos – comendo o que dá, na hora que dá, de maneira rápida rápido, mastigando mal, engolindo a comida muito rápido. Isso pode acabar criando três tipos de problemas “Quando nós acabamos comendo ou exagerando em certos tipos de alimento e temos má digestão, essa sensação de estufamento, sensação de que a comida não está sendo bem digerida. Em segundo lugar, um problema bastante comum do intestino é o paciente que acaba tendo muita cólica e muita diarreia, muitas vezes motivado por situações emocionais, então ter um equilíbrio emocional vai ajudar muito esse intestino a funcionar adequadamente. E o terceiro grande problema é a constipação, o chamado intestino preso, que na maioria das vezes está relacionado com falta de água, falta de fibras em quantidades adequadas ou atividade física”, explica Leandro.

COMO A ALIMENTAÇÃO AJUDA O INTESTINO

Sendo o ponto fundamental, a alimentação pode ser uma grande aliada quando estamos falando sobre a saúde do intestino. “Além de identificar se existe alguma alergia ou intolerância aparente a algum alimento, o ideal é que o consumo de açúcares, alimentos refinados, excesso de gorduras saturadas, gorduras trans, carnes vermelhas e adoçantes artificiais sejam reduzidos” diz Flávia.

Dar preferência para alimentos mais naturais como frutas (banana, abacate, mamão, maçã), vegetais (couve, repolho, espinafre, alface), legumes (abóbora, abobrinha, berinjela, brócolis) e a carne (que deve compor apenas 25% da dieta) é indicado pois uma alimentação colorida terá vários tipos de nutrientes, que são importantes para que se tenha uma boa função do intestino. 

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Além dos alimentos é de extrema importância aumentar o consumo de água para que o trânsito intestinal funcione corretamente.  Flávia ensina um cálculo que ajuda a saber se es está consumindo água de maneira adequada

“Pegue o seu peso e multiplique por 35, o valor total será a quantidade em mL que você deve consumir no dia. Ex: 60kg X 35mL =2 litros e 100 mL“.

Pré-bióticos e Probióticos

prato de yogurte com flocos e frutas no topo
(Julius David / Unsplash/Divulgação)

Pré-bióticos são alimentos muitas vezes utilizados para ajudar na defesa do intestino, no seu funcionamento e que ajudam as bactérias boas do órgão a terem um melhor funcionamento, promovendo um equilíbrio entre elas e as bactérias ruins. São um grupo de carboidratos não digeríveis, mais comummente conhecidos como: Fibras. “As  fibras são componentes da nossa digestão que nós não absorvemos, mas elas são usadas tanto para formação do bolo fecal – um bolo fecal melhor, mas eficientes – quanto por outras bactérias intestinais para aumentar sua eficácia. Nós temos vários outros tipos de pré-bióticos que vão nos ajudar normalmente, e nós vamos encontrá-los em frutas, verduras, legumes e assim por diante”, explica o médico.

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Já os probióticos são micro-organismos vivos que, quando utilizados da maneira adequada, podem ajudar na regulação intestinal. “Porem é de extrema importância que sejam utilizados de acordo com o sintoma, doença, objetivo. As cepas seriam os tipos de micro-oganismos adequados, bem como as quantidades” conta a nutricionista. Além de serem manipuláveis, pode-se encontrar algumas cepas de probióticos em alimentos, principalmente em fermentados como: iogurte natural, kombucha e kefir.

“Hoje existem diversas discussões sobre pró-bióticos, se nós devemos usá-los em tempo integral. Principalmente alguns tipos de laticínios acabam contendo esses pró-bióticos – eles nos ajudam em diversas funções, inclusive tem muitos trabalhos dizendo que é por causa de alterações da microbiota intestinal que existe um ganho de peso – talvez ainda seja uma grande discussão, mas sem dúvida nenhuma, a ingestão de pró-bióticos leva a uma melhora do funcionamento intestinal, leva a uma melhora da digestão como um todo, então eles são muito benéficos para a nossa saúde” completa Leandro.

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