Antigamente chamadas de doenças venéreas, em alusão à Vênus, deusa romana do amor e do sexo, as DSTs têm a via sexual como principal forma de transmissão. É o caso da aids, causada pelo vírus HIV, que tem o poder de enganar o sistema imunológico, deixando o organismo vulnerável a moléstias oportunistas. Outro vírus se espalha numa velocidade ainda mais espantosa: estima-se que até 75% da população sexualmente ativa pode travar contato com o HPV (papilomavírus humano) em algum momento da vida. Se no passado ele era associado apenas às verrugas genitais (no formato de couve-flor), agora preocupa por sua relação com o câncer de colo uterino: em 97% dos casos quem desencadeia a transformação maligna é o HPV.
Também de origem viral, o herpes genital provoca bolhas dolorosas e feridas nas partes íntimas, enquanto na hepatite (sobretudo B), o vírus entra por meio de pequenas lesões na mucosa recorrentes do atrito na atividade sexual e ataca o fígado, que fica sujeito a inflamações graves. Relações sexuais também podem transmitir bactérias, como as da clamídia (Chlamydia trachomatis), gonorreia (Neisseria gonorrhoeae) e sífilis (Treponema pallidum), bem como o protozoário da tricomoníase (Trichomonas vaginalis), que ocasiona corrimento esverdeado e espumoso, além de dor ao uninar.
Flagrante precoce
Nem todas as DSTs produzem aquelas feridas horrorosas que ilustram os livros de medicina. Muitas atacam à surdina. Mesmo não havendo sinal da presença do HPV, o vírus pode se instalar nas lesões cervicais microscópicas flagradas durante o exame ginecológico. A sífilis costuma provocar uma lesão inicial, que some espontaneamente, depois fica latente. Após a primeira crise, que dura em torno de 15 dias, as feridas do herpes genital somem, mas o víruspermanece no corpo. A clamídia pode passar anos sem se manifestar e só ser descoberta quando já acarreta dor, inflamação e aderência das trompas. Daí a importância de ir todo ano ao ginecologista e fazer exames para detectar esses inimigos silenciosos antes dos estragos.
De acordo com o patologista Hélio Magarinos Torres Filho, presidente da regional do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, há testes capazes de identificar a clamídia e a gonorreia na secreção colhida para o papanicolau (para análise de células cervicais ao microscópio). Uma técnica genética denominada PCR procura o DNA dessas bactérias e também pode localizar o vírus HPV e informar se é dos tipos 16 e 18, que oferecem maior risco de câncer. Há também testes sanguíneos para detecção desífilis e HIV. “Além do papanicolau anual, seria importante pedir de vez em quando testes específicos, sobretudo para clamídia, às mulheres sem parceiro fixo que têm entre 17 e 28 anos de idade”, recomenda Márcio Coslovsky. Portanto, vá ao ginecologista uma vez por ano e sempre que surgirem sintomas como coceira,
corrimento, ardência, feridas ou dor nos genitais.
Tratamento correto
Quanto antes uma DST for diagnosticada e tratada, maiores as chances de evitar complicações. Sífilis, gonorreia, clamídia e tricomoníase podem ser curadas com a administração de antibióticos apropriados. Existe tratamento para hepatite; o HIV e a herpes genital podem ser mantidos sob controle; há meios de combater as lesões por HPV na fase pré-cancerosa. “Mas nada de usar remédio por conta própria”, adverte Ivo Castelo Branco. Aliás, o tratamento deve se estender ao parceiro (ou parceiros) para afastar a possibilidade de a mulher voltar a se infectar numa transa futura. Mas é difícil saber quem pegou de quem: o homem pode ter se contaminado antes de ter conhecido a atual parceira ou ela ter contraído a doença em um contato sexual anterior. Algumas DSTs podem ficar anos em estado latente e se manifestar em períodos de stress e queda na resistência.
Sexo seguro
A maneira mais eficaz de você se proteger (e de quebra evitar uma gravidez indesejada) é usando camisinha nas relações sexuais. Só existe vacina contra hepatite B, fornecida gratuitamente nos postos de saúde até os 29 anos de idade, e HPV, disponível apenas nas clínicas particulares, em três doses, cada uma custando entre 300 e 400 reais (a indicação é entre 9 e 26 anos; se passou dessa idade, discuta com seu ginecologista se vale a pena). O uso da camisinha é incentivado mesmo não oferecendo 100% de proteção, pois não impede o contato com verrugas e feridas em áreas não cobertas como a virilha e a bolsa escrotal. “Se todo mundo usasse o preservativo do jeito certo – antes de qualquer contato e não só na penetração – a maior parte do perigo seria afastada”, esclarece Márcio Coslovsky.
Ele sugere evitar a multiplicidade de parceiros e o consumo excessivo de álcool (que leva ao descuido da proteção). E se houver apenas um parceiro? Quatro em cada dez jovens disseram que a camisinha é dispensável em relacionamento estável, conforme pesquisa recente que ouviu 1208 brasileiros entre 18 e 29 anos de 15 estados, feita com o acompanhamento do Ministério de Saúde. Mas, antes de parar de usar, o infectologista Ivo Castelo Branco lembra: “O tempo mínimo de incubação de um vírus como HIV ou HPV contraído anteriormente é de seis meses”. Passado esse período, a sugestão dele para aumentar a segurança de ambos os parceiros, é os dois se submeterem a uma bateria de exames (o antigo pré-nupcial) que exclua a possibilidade de uma DST.