Estilo de Vida

Comportamento compulsivo na quarentena: como identificar

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por Thieny Molthini Atualizado em 28 jul 2020, 07h00 - Publicado em
28 jul 2020
07h00

A quarentena — e todas as suas incertezas — tem mexido com a cabeça de muita gente. Algumas estão com mania de limpeza, outras não param de buscar comidinhas no armário e, mais algumas, vivem olhando os sites de compras e gastando com coisas que, de fato, poderiam esperar mais um pouco. Como identificar quando isso se torna um comportamento compulsivo e como lidar?

Em primeiro lugar, uma breve olhada no cenário: o país vive uma pandemia de dimensões nunca antes vistas (são mais de 1.180 milhão de casos); centenas de pessoas perderam as suas fontes de renda (economia do país deve ter queda de 7,4% neste ano); milhares de famílias tiveram que dar adeus a parentes queridos (são mais de 54 mil óbitos registrado) e ninguém sabe dizer quando tudo vai voltar ao normal. Então, para início de conversar, está tudo bem não estar tão bem. Sem julgamentos, ok?!

Sentimentos aflorados

Comportamento compulsivo na quarentena: como identificar

Durante esse período de isolamento, os problemas sociais ganham maior proporção, podendo agravar questões emocionais ou servindo como gatilho para o surgimento de questões que estavam adormecidas. Nesse sentido, as compulsões podem surgir como forma de lidar com essas angústias”, explica Lívia Beraldo de Lima Basseres, mestre em psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPQ-FMUSP).

Além disso, com a quarentena, a rotina mudou e todos precisaram se adaptar. Mas não quer dizer que, ao se adaptar, as coisas ficaram mais fáceis. “Todo mundo teve a sua rotina impactada por um vírus que a gente não conhece. Ninguém tem controle sobre isso e essa situação causa muita angústia”, ressalta Talitha Nobre, psicóloga do grupo Prontobaby.

Para tentar lidar com essa nova situação, cada pessoa acaba procurando por atividades que possam aliviar essa angústia. “Fazer faxina várias vezes por semana e comer demasiadamente, por exemplo, são formas de ocupar o tempo e preencher o vazio causado por essa sensação. Afinal, se eu estou o dia inteiro fazendo alguma coisa, não há tempo para pensar no que está acontecendo”, salienta Talitha.

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Hábito ou compulsão?

Não é porque algo está diferente que, necessariamente, existe um problema. Tenha calma!

Diferencie um hábito de um quadro de compulsão: Um hábito é algo que você faz com frequência, como escovar os dentes antes de dormir ou tomar um cafezinho após o almoço. Se um hábito não faz mal, não há motivo de mudá-lo. A compulsão, no entanto, está vinculado à uma sensação de obrigatoriedade e ansiedade

“O hábito pode ser flexibilizado, pode ser deixado de lado algumas vezes ou pode ter sua ordem invertida com tranquilidade. A compulsão, por sua vez, é rígida, deve ser realizada sempre da mesma forma, caso contrário o indivíduo não consegue se concentrar e se sente incomodado e ansioso até realizar o ato da compulsão”, explica Eduardo Perin, psiquiatra especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

De acordo com Lívia Beraldo, comportamentos compulsivos são hábitos aprendidos e seguidos por alguma gratificação emocional, como alívio de um quadro de ansiedade. “Falamos que são hábitos mal adaptativos, porque, apesar do seu objetivo de proporcionar algum alívio de tensões emocionais, eles não causam bem-estar mental pleno, levando ao sofrimento.”

Além do mal-estar emocional, podem ocorrer ainda problemas físicos, como pessoas que lavam as mãos compulsivamente e acabam por machucá-las. 

Dessa forma, se um hábito está te fazendo mal, busque ajuda!

“É preciso identificar a função dessa compulsão, porque ela sempre tem um significado na história desse sujeito e é nessa direção que vamos trabalhar”, acrescenta Talitha Nobre.

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Atenção aos seus hábitos

Não paro de comer, e agora?

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(Isaac Taylor/Pexels)

No caso da comida, questione o que você está buscando. A dica da nutricionista Gabriela Cilla, da Clínica NutriCilla, é ter em mente sempre um alimento que você só come se estiver com fome. Quando sentir vontade de comer, pergunte a si mesma se optaria por esse alimento. Por exemplo, se você só come peixe se estiver com fome, quando tiver vontade de comer, pergunte a si mesma: “Eu comeria um peixe agora?”. Se a resposta for “não”, então a sua fome é emocional.

“É preciso identificar se é fome ou vontade comer. Compulsão alimentar é um transtorno que deve ser validado por um especialista”, pondera a nutricionista. 

E uma cervejinha, pode?

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(Alex Knight/Pexels)

Você bebe vez ou outra, enquanto assiste à uma série e se sente bem com isso? Ou bebe com frequência e, no final, só fica o mal-estar? No caso da bebida existem os quadros de compulsão e dependência. “A compulsão se caracteriza pela repetição, a pessoa repete a ação e nunca está satisfeita. A dependência é quando a pessoa precisa daquele artifício para se satisfazer”, explica Talitha. 

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Também é importante estar atenta a demais transtornos relacionados ao álcool.  “Se a pessoa passa a beber cada vez mais, se quando deixa de beber fica ansiosa, irritada, com insônia e, quando tenta controlar, não consegue, é preciso ficar atenta para outras condições”, ressalta Eduardo Perin.

Mas é só uma blusinha…

Compras em excesso também podem ser perigosas, sobretudo para o bolso

Assim como a comida, fazer compras também acaba funcionando como uma tentativa de se sentir bem. “É como se a pessoa só conseguisse sentir prazer através da bebida, do sexo, da comida, das compras… Mas esse prazer não vem. Por exemplo: se você come um pedaço de bolo agora, a sensação será uma. No entanto, se comer em outro momento esse mesmo bolo, a experiência será outra, porque a situação e o cenário serão diferentes. O compulsivo tenta repetir essa satisfação inicial, mas essa sensação anterior nunca vai se repetir”, explica a psicóloga Talitha Nobre.

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Crie bons hábitos

Como dito anteriormente, o problema não está em comer, beber, limpar ou comprar, mas no excesso dessas ações. E, fique tranquila, porque um deslize aqui e ali são normais, sobretudo agora. 

A gente tem que entender que esses comportamentos na quarentena podem não ser uma compulsão. Diante dessa angústia e desse cenário que estamos vivendo, é natural”, afirma Talitha. Se observar um comportamento compulsivo, busque um médico.

Diversifique

Agora, a dica para lidar com essa repetição é aumentar o seu repertório. “É preciso buscar outras formas de sentir prazer. Por isso, tantas pessoas estão descobrindo outras habilidades durante a quarentena”, completa. 

Criar novos hobbies, como treinar, praticar yoga ou cuidar de plantas também é a orientação do psiquiatra Eduardo Perin.

Animais de estimação são outros protagonistas neste momentos. Nos Estados Unidos, inclusive, alguns abrigos ficaram vazios devido ao aumento de adoções durante a pandemia. Mas seja responsável, porque estamos falando de outras vidas aqui, ok?!

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Fique bem!

Resumindo, é normal um excesso ou outro em um momento tão atípico como agora. Mas cuide da sua saúde. Se alguma atitude sua está fugindo muito do normal, busque por um profissional! Alguns planos de saúde já têm atendimento por vídeo. Há também grupos de apoio com atendimento psicológico online gratuito, como o Instituto de Psicologia da USP e o Grupo Creare. Busque ajuda! Você não está sozinho.

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