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Jornalistas são assediadas na Rússia e isso precisa parar de acontecer

Além de resultados imprevisíveis nos jogos, Copa do Mundo é marcada por agressões sexuais a repórteres de vários países

Por Luiza Monteiro, Daniela Bernardi
Atualizado em 26 jun 2018, 17h24 - Publicado em 25 jun 2018, 17h00

Júlia Rodrigues, Barbara Gerneza e Julieth Therán. Essas três jornalistas – de nacionalidades brasileira, russa e colombiana, respectivamente – têm mais coisas em comum do que a profissão e a experiência única de cobrir uma Copa do Mundo. Infelizmente, elas são algumas das mulheres que foram assediadas por torcedores enquanto trabalhavam.

O caso de Júlia, repórter da Rede Globo, aconteceu no último domingo (24). Ela se preparava para entrar ao vivo no programa Esporte Espetacular quando um torcedor tentou dar um beijo no seu rosto.

Júlia reagiu e respondeu, em inglês: “Não faça isso. Nunca mais faça isso de novo, ok? Eu não permiti que você fizesse isso. Nunca. Isso não é educado. Isso não é certo. Nunca faça isso com uma mulher. Respeito!”. Em entrevista ao Globo Esporte nesta segunda-feira (25), a repórter disse que essa não foi a primeira vez durante a Copa. “Eu nunca passei por isso no Brasil, mas que fique bem claro que é por sorte mesmo, porque acontece muito, já vimos várias vezes com colegas da imprensa. Estou vivendo isso muito aqui na Rússia, desde olhares agressivos até cantadas em russo, que obviamente eu não entendo, mas sinto”, declarou.

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Até quando as mulheres vão ter que passar por situações desrespeitosas como essa em seu ambiente de trabalho? Dessa vez, a repórter @jujuguimaraes25 foi assediada por um torcedor não identificado enquanto se preparava para entrar ao vivo antes da partida entre Japão x Senegal, que aconteceu hoje (24). A profissional reagiu, pedindo que o homem não repetisse mais isso. BF também torce para que casos como esse não se repitam mais – nem na Copa do Mundo nem por aqui. #regram @deixaelatrabalhar

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Já o episódio de Barbara ocorreu no dia 19. Enquanto ela gravava uma entrevista para o portal iG, do qual é correspondente, um grupo de torcedores brasileiros a abordou e começou a cantar uma música com conotação sexual. Além disso, um dos homens tentou beijá-la.

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E com a colombiana Julieth, repórter da agência de notícias alemã Deutsche Welle, não foi diferente: no dia 15 de junho, a jornalista estava em uma transmissão ao vivo quando um homem deu um beijo nela e colocou a mão em seu seio. “RESPEITO! Não merecemos ser tratadas assim. Somos igualmente valiosas e profissionais. Compartilho da alegria do futebol, mas devemos identificar os limites do afeto e do assédio”, escreveu Julieth em seu Instagram.

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¡RESPETO! No merecemos este trato. Somos igualmente valiosas y profesionales. Comparto la alegría del fútbol, pero debemos identificar los límites del afecto y el acoso.

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#DeixaElaTrabalhar

Todos esses casos têm repercutido bastante na imprensa de todo o mundo e deixam muito claro que esse tipo de comportamento é inaceitável – não importa se a mulher está trabalhando ou não. No Brasil, situações como essas levaram jornalistas a criarem, em março deste ano, a campanha #DeixaElaTrabalhar, cuja proposta é exigir respeito às mulheres nos estádios, sejam elas jornalistas, torcedoras, árbitras…

No dia 13 de março, após a partida entre Vasco e Universidad de Chile, a repórter Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, estava em uma transmissão ao vivo quando um torcedor deu um beijo nela e saiu dando risada. “Na hora, fiquei sem reação, mas depois escrevi um desabafo na internet para que as pessoas vissem como eu me senti”, disse em entrevista a BOA FORMA.

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A cena ganhou manchete no país e o homem gravou um vídeo pedindo desculpas. Porém, justificativas como “Estava bêbado”, “Foi só uma brincadeira” e “Veja o vídeo com calma: não foi na boca!” mostram que o cara não entendeu a mensagem. “Não somos nós que precisamos nos envergonhar, mas eles”, afirma Bruna.

Pouco depois, ela e outras jornalistas esportivas, como Fernanda Gentil e Carol Barcellos, da Rede Globo, gravaram um vídeo pedindo o fim do assédio sexual e moral. “Quando estou no estádio, os torcedores xingam, fazem gestos que simulam sexo oral, abaixam a calça…”, conta a apresentadora Taynah Espinoza, também do Esporte Interativo, que teve a ideia de gravar o movimento #DeixaElaTrabalhar. “Já tentei ignorar, já fiquei encarando, já respondi… Não adianta. Precisamos abrir um debate sobre as agressões que sofremos – e que, inclusive, não partem só da arquibancada, mas também de técnicos, jogadores e outros jornalistas”, denuncia.

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Nas próprias redações, o machismo rola solto sem nenhum constrangimento – 70,4% das profissionais já ouviram cantadas, de acordo com uma pesquisa da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) com 500 mulheres. “A pior agressão vem dos próprios colegas de profissão. É comum escutar que só conseguimos uma notícia exclusiva porque transamos com alguém”, relata Renata Medeiros, repórter da Rádio Gaúcha, que, no início de março, foi insultada e levou um soco de um torcedor do Internacional, também em frente às câmeras.

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“Ele foi expulso do estádio, mas o clube não tomou nenhuma outra medida. Eu tive que encarar sozinha a dificuldade de registrar o boletim de ocorrência. E olha que eu tinha vídeo e mais de 500 testemunhas… Imagine como funciona com quem sofre violência em casa pelo marido”, questiona a jornalista, que vê no movimento um espaço para que as mulheres se fortaleçam para conscientizar a sociedade.

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