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“Venci a compulsão alimentar em apenas 4 sessões de mindful eating”

Nossa colaboradora conta como a técnica mudou a relação dela com a comida em apenas um mês

Por Nina Calil (colaboradora)
7 jun 2021, 09h00

Durante anos, encarei meus pratos e doces favoritos como grandes inimigos. Para me manter a salvo do perigo, evitava qualquer interação social que envolvesse comida – aniversários, casamentos, happy hours… Eu tinha medo de começar a comer “só um brigadeirinho” e não conseguir mais parar. Tinha certeza de que poderia perder o controle a qualquer momento.

E não era bem um exagero: por muitas vezes, eu realmente só parei ao me sentir cansada, com a barriga doendo ou prestes a vomitar. Demorei a entender que sofria de um distúrbio alimentar e, embora já houvesse buscado ajuda especializada, ainda não tinha descoberto uma nova forma de lidar com a comida quando topei um desafio: experimentar a mindful eating, técnica que prega o “comer com atenção plena” e é considerada uma das estratégias auxiliares no tratamento de distúrbios alimentares como a compulsão (que eu conhecia bem), a bulimia e a anorexia.

Admito que entrei no consultório da nutricionista Manoela Figueiredo, de São Paulo, certa de que a ideia de parar para ouvir meu corpo jamais iria funcionar comigo. Deixar de separar os alimentos como “bons” e “ruins” e entender que a fome é uma sensação saudável e involuntária me pareciam objetivos muito distantes para quem havia vivido inúmeras histórias frustradas com dietas – eu, por exemplo, emagreci 10 quilos e fiquei magra, mas continuei me enxergando gorda. Me enganei. Em um mês, voltei a comer com prazer e sem culpa tudo o que amo e, pela primeira vez em anos de uma suposta vida saudável, entendi o que é viver em equilíbrio.

Sessão 1: Comer sem culpa

Mulher comendo macarrão
(Malkovstock/Thinkstock/Getty Images)

Depois de tantas idas a profissionais especializados em emagrecimento, cheguei ao consultório da nutricionista já prevendo o que iria acontecer: ela me mandaria subir na balança, tiraria minhas medidas e perguntaria se exagero nos doces e massas. Errei feio. Não vi nem adipômetro na sala. Apenas conversamos sobre meus hábitos alimentares desde a infância, as comidas favoritas (que eu acabei estipulando como inimigas), estilo de vida e até sobre a minha estrutura familiar.

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Segundo Manoela, tudo isso influencia na nossa relação com os alimentos. Tive o primeiro insight: desenvolvi a neura de emagrecer depois de ouvir, anos atrás, que eu poderia ser bem mais magra. “Você criou vilões, e, mesmo quando pensa que está se permitindo apreciar 
um bombom ou um pão francês, 
na verdade não está.”

Então saí do consultório com a missão de me deliciar com algo que me despertasse bastante vontade, sem culpa ou julgamentos. Além de anotar, nos sete dias seguintes, os sentimentos que me acompanhavam nas refeições, inclusive nos lanchinhos.

Sessão 2: Diferenciar a fome física da emocional

Cheguei com a lição de casa feita: todas as vezes que tive vontade de comer, registrei como estava me sentindo (triste, tranquila, ansiosa…). Fiz isso por uma semana para que Manoela pudesse me ajudar a distinguir a fome física da psicológica e, agora, não tenho dúvida: todas as tardes em que devorei um saquinho de 300 gramas de pão de queijo numa tacada só não tinha nada a ver com necessidade física, e sim com a tentativa de aplacar a ansiedade. E o que vinha depois – arrependimento (por que não parei no segundo ou terceiro pãozinho?) e culpa (você falhou de novo!) – me deixava ainda pior. Hoje, sento e penso sobre o assunto todas as vezes antes das refeições – é um exercício que demanda energia e empenho, mas acaba virando um hábito importante para você comer só o necessário, mesmo nos dias em que as emoções não estão muito a seu favor.

Sessão 3: Reconhecer os sinais do corpo

Uma enxaqueca forte e persistente (tomei dois analgésicos e nada de melhorar) me acompanhou na terceira sessão. Manoela perguntou o que eu comeria para aliviar 
o mal-estar. “Nada”, respondi. Eu estava enjoada, sem fome e não conseguia nem pensar em mastigar. Ela voltou a questionar se eu não estava evitando algo por medo de sentir culpa. Então fechei os olhos e falei em um tom de quase confissão (e já esperando a bronca): “Daria tudo por um refrigerante com gelo e limão (tática que minha mãe usava para amenizar minha ansiedade quando eu era criança)”.

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O que ouvi em seguida me deixou surpresa: “Assim que você sair daqui, passe numa padaria e tome a bebida com calma”. Fiz isso e começaram a surgir lembranças da infância que me trouxeram a sensação de alívio e conforto. “Existem certas situações que fogem do nosso controle, mas o equilíbrio está justamente em como reagimos a elas”, disse Manoela. Mais três ou quatro goles no refrigerante e o mal-estar desapareceu, assim como a ideia de que algumas comidas são minhas inimigas mortais.

Sessão 4: Exercício final

mulher comendo doce
(Vlad_Lazutin/Thinkstock/Getty Images)

Nas duas semanas que antecederam a quarta e última sessão (a mais longa delas), não tive nenhum episódio de compulsão. Melhor ainda: voltei a participar (e gostar!) da happy hour com as amigas e dos encontros de família – eventos que sempre envolvem comida e, portanto, de que eu tentava escapar. Isso me fez chegar radiante ao consultório e pronta para mais um exercício que tem o objetivo de trabalhar o controle mental e emocional.

Para isso, Manoela pediu que eu levasse um lanche do qual eu gostasse muito. Escolhi um pote de açaí, que tantas vezes evitei por achar que as pessoas iriam me recriminar. O primeiro passo foi olhar o pote com afeto e, em seguida, cheirar o açaí para estimular as papilas gustativas e salivar – só então levei 
o creme gelado à boca. Saboreei todo o conteúdo aos poucos, descansando o talher na mesa entre uma colherada e outra para afastar a pressa. Assim que terminei, Manoela me perguntou como eu estava me sentindo. “Satisfeita e feliz.” Feliz por
ter conseguido estabelecer uma relação positiva com a comida e me permitir matar minhas vontades em situações pontuais e com controle – isso tudo em um mês!

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