Camila Pitanga: “Eu amo beleza. O problema é quando você coloca tudo na imagem”

Capa de abril da Boa Forma, a atriz conta como ter grandes referências ao longo da vida foi fundamental para se tornar a mulher que é hoje

Por Ana Paula Ferreira
7 abr 2025, 12h00
camila pitanga
Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)
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Camila Pitanga é dona de um currículo de peso, que reúne centenas de trabalhos de sucesso em seus quase 40 anos de carreira – fato que a fez viver sempre sob os holofotes. Como lidar com a fama desde a infância sem sucumbir às pressões? “À base de muita terapia, de boas amigas e de muita conversa”, conta a atriz, que acaba de conquistar (mais uma vez) o Brasil todo com sua atuação, dessa vez dando vida à vilã Lola da novela Beleza Fatal, da Max.

 

“Ao longo da minha vida, sempre consegui entrar e sair desse universo do mainstream, da imagem. Eu ando de ônibus, de cara lavada, e me sinto bem assim. Não é algo que eu faça para poder dizer alguma coisa legal para alguém. É algo que me faz bem, que me dá o compasso de quem eu sou”, contou a nossa estrela da capa de abril.

Envolvida por inteiro no universo da beleza e do glamour com sua personagem mais recente, Camila não descarta os procedimentos estéticos como aliados do autocuidado, mas sabe que os hábitos que adota em sua vida falam muito mais alto.

“Acho a estética um estímulo que pode ser muito saudável quando o eixo da sua vida não está nisso. O problema é quando você coloca tudo na imagem – porque não é a beleza a questão, é a imagem”, disse a atriz. “O procedimento é caro, é para poucas pessoas, mas tem hábitos que são mais acessíveis. É você considerar quão importante é você cuidar da sua vitalidade através da alimentação, de bons hábitos, da saúde”, completou.

 

Não à toa, esses conceitos de beleza e autocuidado começaram a ser construídos por Camila ainda na infância, baseados das fortes referências que a acompanharam ao longo da vida. Diante do shooting poderoso feito para a capa de Boa Forma, a estrela afirma que sua ancestralidade foi fundamental para que, desde jovem, ela se orgulhasse de ser uma mulher negra e admirasse sua beleza real.

“Sou filha de Antônio Pitanga, enteada de Benedita da Silva e filha de Vera Manhães. Tenho um panteão, uma base ancestral muito poderosa e sempre minha vida e meu cotidiano evocaram essas referências. Zé Zé Mota, Ruth de Souza, Lea Garcia…  São mulheres que convivi desde menina e que sempre representaram uma postura estética muito importante”, apontou a atriz.

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A seguir, você confere nosso bate-papo completo com Camila Pitanga, onde ela compartilha sua visão sobre beleza, os cuidados com o corpo e a mente, sua relação com causas sociais e a vida como profissional.

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Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)

Exaltar a beleza interior e exterior

Como você enxerga sua beleza? Você lida bem com as mudanças que o passar do tempo traz?

Eu venho lidando bem, sim. À base de muita terapia, de boas amigas e de muita conversa. Acho que, na sociedade, se por um lado a gente tem, sim, uma radicalização do culto à beleza, também tem a emergência de uma crítica  a isso, que às vezes salva algumas pessoas, às vezes não.

Eu amo beleza. Acho a estética um estímulo que pode ser muito saudável quando o eixo da sua vida não está nisso. O problema é quando você coloca tudo na imagem – porque não é a beleza a questão, é a imagem. O que essa imagem significa para os outros? E para você? A beleza, como beleza em si, é do encantatório, é da exaltação. Ela não é um problema em si. O problema é que a gente tem o ideal de beleza, um ideal de imagem, de performatividade, de status, que a beleza e a imagem fazem, e que eu acho que acaba por aprisionar as pessoas, por deixá-las sem a dimensão importante dos vínculos afetivos, dos valores de vida, do desejo de vida.

Então, a pessoa não tem conexão com o afeto, com o amor, com o desejo, e investe tudo numa imagem meio padronizada. A riqueza da singularidade fica um pouco achatada, escanteada. Eu não sou contra a beleza. Sou a favor dela, mas que ela tenha como elo o afeto, a vida interior, a cabeça, o desejo, para que a vida seja rica e não fique pautada por uma única coisa. Por isso falei da terapia, porque ela ajudou a me pensar em todos esses aspectos para não ficar refém única e exclusivamente da imagem.

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Desde muito menina, você cresceu em meio a uma profissão que exige toda uma produção.  Você acredita que isso tenha influenciado em sua forma de se enxergar ao longo do tempo?

Fui criada indo na praia, de pé descalço, podendo ser moleca, podendo ser alguém que anda de bicicleta, que transpira, dança na festa, que não está tão preocupada em agradar ou desagradar as pessoas. Acredito que, pelo fato de eu ter vivido coisas tão difíceis, como a separação dos meus pais que foi delicada, essa questão da adolescência, que fica um pouco pautada pela imagem, não tinha muito espaço. Eu estava vivendo o auge da minha alegria em estar conectada comigo na totalidade.

Ao longo da minha vida, sempre consegui entrar e sair desse universo do mainstream, da imagem. Eu ando de ônibus, de cara lavada, e me sinto bem assim. É algo que me faz bem, que me dá o compasso de quem eu sou, de como sou ao longo do tempo. Claro que muitas vezes é difícil. Na pandemia, por exemplo, comecei a fazer pão e engordei, fiquei inchada, meu metabolismo mudou, então eu não conseguia mais voltar àquele ritmo que eu tinha, porque mudou tudo.

E aí vi que o esforço dos 40+ para manter a forma que eu tive a minha vida inteira. Eu estava querendo ter um diálogo com aquela Camila da vida inteira e não tem como ser. É um processo de aceitação permanente que a gente tem não só a respeito da beleza, mas a respeito dos comportamentos, do mundo psíquico que se modifica, porque somos seres em movimento. A gente não é uma coisa só. A cada momento, somos convocadas a se pensar de um jeito diferente.

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Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)

Você é uma mulher que se mostra muito ao natural. Como é sua relação com procedimentos estéticos, que estão tão populares hoje em dia?

Já tem, pelo menos, quase 20 anos que tenho como grande aliada da vida minha dermatologista e amiga, Denise Luna Barcelos. Ela sempre teve como caminho de singularidade do próprio trabalho dela, de agenciar tudo que tem de mais alto na tecnologia, mas de não desconsiderar coisas que estão muito ao alcance, de algo muito mais democrática do que só os procedimentos.

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O procedimento é caro, é para poucas pessoas, mas tem hábitos que são mais acessíveis. É você considerar quão importante é você cuidar da sua vitalidade através da alimentação, de bons hábitos, da saúde. É cuidar da saúde. A Denise fala disso como uma prática na vida dela, que junto com essas tecnologias, faz muita diferença.

Eu faço estímulo de colágeno, mas entendo que é tão importante quanto o que eu como, como eu durmo… Mas num país desigual como o nosso, quanto a essa coisa mais inatingível dos preços desses procedimentos, acredito que a acessibilidade equilibra um pouco quando levamos em consideração que os atos alimentares são importantes.

A gente vê tanta gente linda, maravilhosa, com a pele boa, e que tem a ver com a postura na vida também. É como a pessoa se cuida, do ponto de vista psíquico, físico. O procedimento estético não dá garantia de beleza. Se você não tem bons hábitos, não cuida da cabeça, não se nutre de boas energias, não há lipo nem botox que vá trazer uma cara de vitalidade se essa pessoa não tem. A gente vê isso no fundo do olho das pessoas. A gente transpira saúde, bem-estar. Então tem que cuidar da cabeça, da alma, da espiritualidade. Acho que é um patamar muito importante.

Nas fotos de capa, dá para ver seu orgulho de sua negritude também enquanto beleza , dando ênfase ao cabelo. Sempre foi assim? Você tinha referências de beleza negras desde a infância?

Sempre tive essas referências. Pensa só: sou filha de Antônio Pitanga, enteada de Benedita da Silva e filha de Vera Manhães. Eu tenho um panteão, uma base ancestral muito poderosa e sempre minha vida e meu cotidiano evocaram essas referências. Zé Zé Mota, Ruth de Souza, Lea Garcia… São mulheres que eu convivi minha vida inteira, desde menina, e que sempre representaram uma postura estética muito importante.

Talvez eu tenha demorado a trançar meu cabelo, mas sempre me reconheci e sempre me orgulhei muito de ser uma mulher negra. Isso você pode ver na capa da revista Raça, por exemplo. Eu ali, com 17 ou 18 anos, em uma capa linda com meu pai, dizendo: “Tenho orgulho de ser negra”. Eu ainda muito nova. Sempre entendi desse esse meu lugar no mundo, então não é novidade nenhuma. Sempre me reconheci na minha ancestralidade.

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E com toda essa bagagem e referências, como foi quando você se tornou mãe? Você passou tudo isso para sua filha?

É na naturalidade, na vida, na rotina… Não é algo programático, algo que você escolhe falar e pensar sobre. Aqui na minha biblioteca você vai ver bell hooks, Audre Lorde, Djamila Ribeiro, Beatriz Nascimento. Isso está aqui na nossa vida, no nosso modo de ser.

Sendo ela neta de Benedita da Silva e de Vera Manhães, sendo da família que ela é, é inescapável que isso seja um trilho de vida. Independente de precisarmos ou não falar sobre isso especificamente, nunca foi necessário como uma aula, uma lição. É vida, é dia a dia a gente se ver negra, se pensar negra e entender como é isso nesse mundo, que ainda precisa alcançar léguas e tem muitos passos adiante na superação do racismo brasileiro.

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Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)

Cuidados com corpo e mente

Você tem cuidados com a sua saúde mental?

Sim. Fiz terapia minha vida inteira. Hoje, faço duas vezes por semana. É sagrado o entendimento que isso me dá. É o espaço de me pensar na atualidade, de poder fazer elaborações do “arco da velha”. Quando você acha que já arrumou todas as gavetas, não arrumou nada. Vem uma nova gaveta explicando: “Quantas coisas parecem inatas, parecem naturais, que vêm lá de trás”. Então mantenho minha terapia em dia porque é o que me faz muito bem.

A conexão com a natureza também é algo fundamental na minha vida, então sempre faço alguma prática outdoor, seja bicicleta, nadar no mar ou, às vezes, só dar um mergulho no mar, como fiz alguns dias atrás. Isso me retroalimenta. E também não perder de vista que não adianta você ficar elaborando tudo na cabeça. Tem que saber dançar, ter amigos, farrear, ter festa, curtir a vida.

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Ser uma pessoa privilegiada como eu, que tem trabalho, uma carreira, uma vida mais privilegiada, me dá chance de poder viver tudo isso. Eu poderia me acomodar e achar que isso está em terceiro plano, mas não. Entendo, com a maturidade dos meus 47 anos, que tão importante quanto ter seriedade, fazer terapia, fazer coisas sérias, é ter uma vida saudável, de amizade, festa, curtição. Isso, para mim, é um direito humano que todos os brasileiros deveriam ter. Por isso que advogo tanto pela jornada 5 por 2, porque acho que todo trabalhador brasileiro tem que ter folga, descanso, escolha, e não ficar se matando de trabalhar. Isso é algo que a Erika Hilton tem batalhado muito, e não somente ela. Acho que isso é um pleito de jeito de vida, de podermos trabalhar, ralar e ser feliz.

Você comentou que gosta de praticar atividades outdoor. Que tipo de exercício faz parte da sua vida hoje em dia?

Sou uma pessoa que muda a cada momento. Na atualidade, estou malhando em casa. Por causa da pandemia, comprei alguns aparelhos e me equipei. Agora me agenciei ao Felipe, que é meu personal, e malho praticamente todo dia em casa. Também faço aula de dança com a Cris Moura, que é o lado lúdico que alimenta a minha atriz, e Gyrotonic [método de exercícios que visa melhorar a flexibilidade, mobilidade articular, força e equilíbrio].  Ano passado eu estava pedalando pelo menos três vezes por dia, com jornadas de 48 km a 72 km, ou fazendo natação no mar. Então mudo a cada momento.

Acho que o fundamental é estar com o corpo em movimento. Gosto de me exercitar, não faço somente porque quero ter boa forma. Faço o que me traz vitalidade, porque preciso suar. Sou uma formiguinha atômica, então preciso da serotonina, preciso botar para fora as toxinas. Por isso que gosto de malhar de manhã. Seja bicicleta, natação ou ginástica, mas preciso gastar cedo para poder estar no meu regime básico de vitalidade. Me acorda. Gosto porque me faz bem, porque agora com 47, não dá para ser três vezes semana. [risos] Tem que ser de quatro a cinco. E tem uma frase que uma amiga me falou que é: “Você não escova os dentes? Não toma banho? Então você malha”. É isso. É tão básico quanto qualquer outro cuidado do meu dia a dia. É um cuidado com a minha vitalidade. Tenho que malhar, seja do jeito que for.

Já sou 40+ e entendi que meu metabolismo mudou. Está tudo mais lento. Antigamente eu fechava a boca por três, quatro dias e pronto. Gosto de comer, então quando comia de maneira descompromissada, fechava a boca dois, três dias – não de fazer jejum, mas de comer menos –, e voltava ao meu peso. Agora não é assim. Se não ralo ou não mantenho uma rotina mais disciplinada, de cuidados comigo… Seja pelo lado da estética ou da vitalidade. É como eu disse: gosto de acordar e malhar. Pode ser 6 horas da manhã, mas não abro mão.

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Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)

Quando você pensa em bem-estar, o que lhe vem à cabeça?

Dançar. Sou filha de uma bailarina. Minha mãe dava aula de jazz e tem formação de balé clássico, então uma coisa que sempre foi comum para mim, desde pequena, é ficar dançando em casa. Eu adorava fazer isso, era uma prática da minha infância, sozinha. Sou aquela menina que ficava pingando de suar, dançar, curtir a vida através da dança. Por isso que é a primeira coisa que me vem à cabeça quando penso em bem-estar.

Bandeiras importantes da vida pessoal

Como surgiu o interesse em se envolver em pautas sociais, políticas, feministas e raciais?

Naturalmente, por ser filha de quem sou, é inescapável eu não me enxergar como cidadã e exercer a minha cidadania pensando em questões como a luta antirracista, ou não me importar com a desigualdade social no nosso país. Como é que vou viver de boa com tudo que conquistei, como minha casa e a tranquilidade financeira, se aqui na porta, cruzando um pouco, tem uma pessoa passando muita necessidade? Seja por questão de droga,  por falta de oportunidade de trabalho ou por falta de oportunidade de vida.

Meu engajamento na vida da política partidária, eu ser uma mulher de esquerda e uma mulher feminista tem a ver com eu me importar com esse Brasil que acho que pode ser tão melhor, tão mais democrático, tão mais amigo de todos.

Como surgiu a oportunidade de se tornar embaixadora nacional da ONU Mulheres? Como é o trabalho nessa função?

Partiu do convite deles e de eu me convencer que poderia ocupar esse papel, porque confesso que às vezes fico meio insegura. Vejo mulheres como Erika Hilton, Taís Araújo, Sueli Carneiro, que têm uma visão do que é ser uma mulher preta, do que é viver nesse país, que falo: “Será que posso ocupar esse lugar?”. Mas a caminhada que venho traçando como embaixadora tem relação com uma representatividade que inspira mulheres, que pode dar luz. É aproveitar da minha visibilidade para poder dar luz a projetos e ideias que possam promover a emancipação da mulher brasileira, promover um bem-estar de humanidade no nosso país.

Quando falamos em cuidar de meninas e mulheres, também estamos cuidando do Brasil. Quantas famílias são lideradas por mulheres, mulheres pretas, que se desdobram em cuidar de suas famílias, suas casas, e ainda trabalham fora? Pensar nessas mulheres é pensar numa força de trabalho, na força do cuidado brasileiro. Então não é só pelas mulheres, é pelo Brasil.

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Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)

Desde nova você precisou lidar com a exposição causada pela fama. Como é isso para você hoje em dia?

Eu tenho amadurecendo isso, porque são ondas. Têm momentos que você tem mais visibilidade, outros que tem menos. Há momentos que a vida te convoca mais, como por exemplo nas eleições. Fui convocada a me manifestar, não tinha como  não me manifestar. E têm momentos em que acho que sou mais madura, menos madura, consigo me comunicar melhor, pior… É uma vida em movimento.

Sua relação com uma mulher foi um assunto que repercutiu muito. Foi uma situação tranquila para você abrir essa parte da sua vida publicamente?

Sim, porque eu estava falando de amor. O problema está na cabeça das pessoas, não na minha. Na minha, eu estava vivendo um grande amor. Sou a favor do amor, da liberdade do amor. O que tem de conservador na cabeça das pessoas, elas é que precisam resolver. A minha terapia me deixa bem livre.

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Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)

Carreira ativa

Você está voltando agora para as novelas depois de um tempo afastada. Por que houve essa pausa?

Por inúmeros fatores. Primeiro por oportunidades mesmo. Não tinha nada que me iluminasse os olhos, que fizesse muito sentido, nessa magnitude. Não tinha uma Lola na minha mão. Mas tive Olga, de “Aruanas”, que foi um personagem que fiz com todo meu amor, entrega e paixão. Também fiz peça de teatro, a “Matriarquia em Processo” em 2021. Então nunca parei, mas na cena artística temos momentos de maior e menor projeção, e isso dá uma impressão de um hiato que está muito mais aos olhos da visibilidade do que da ação prática.

Eu parei sim um ano, após a tragédia com Domingos Montagner. Ali foi necessário mesmo, foi uma escolha pessoal de respeito ao que eu tinha vivido. Mas depois de um ano, quando voltei a trabalhar, voltei a fazer muitas coisas com toda a entrega que tenho para todos os trabalhos.

Como foi ir para o streaming e deixar as novelas “de lado” por um tempo?

A maior diferença é que temos todo o arco da personagem. Temos todos os episódios, todos os capítulos na nossa mão. No caso de Beleza Fatal, são 40. Então recebi todos com muita antecedência e pude aproveitar dessa oportunidade para me preparar mesmo, estudar as cenas, decorar com antecedência, pesquisar personagens para pensar o corpo, o jeito de falar… Lola é um tipo de gente muito específico, muito fora da minha realidade de valores.

Mas também vejo um barato incrível da novela como obra aberta, porque minha grande escola foi essa. Essa maratona que estar em diálogo com o público, e ele estar sentindo, transformando e azeitando o personagem ao passo que está assistindo.

Então, de fato, são métodos muito distintos, especialmente o desamparo do início do trabalho, que é ir para a sala de ensaio e falar: “Meu pai, como é que eu vou fazer isso daqui igual?”. Mas seja no streaming, no teatro, não importa. É sempre um grande susto, um grande medo, um grande frio na barriga.  Você sempre está recomeçando. Eu posso estar agora vivendo essa coisa maravilhosa com “Beleza Fatal”, mas quando fui fazer a Ellen na participação especial em “Dona de Mim” [próxima novela das sete da Globo], é começar tudo de novo. O sucesso de Lola não importa em nada em como vou fazer a Ellen. Tenho que começar do zero.

Claro que tem uma coisa muito legal, que é o carinho do público. Sinto que tenho uma torcida muito querida, muito aguerrida, que nunca me deixou ao longo da minha vida inteira. Mas mesmo para eles que gostam de mim, e até para mim mesma, é um desafio novo. Você não pode achar que está tudo resolvido, “Conquistei esse momento, ganhei o prêmio APCA e agora está tudo no trilho”. Está nada. É começar tudo de novo.

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Make: Carla Biriba | Stylist: Thiago Ferraz (Foto: André Nicolau/BOA FORMA)

Em 40 anos de carreira você já fez centenas de trabalhos, com mocinhas, vilãs, personagens com um tom de comédia… Existe algum tipo de personagem ou trabalho que você ainda espera fazer?

Tenho! Eu adoraria fazer um filme de ação, uma detetive, algo bem cerebral, que pedisse outro tipo de interpretação. Quero fazer muitas coisas diferentes, mas acho que é porque agora fiz uma assassina, essa coisa de perseguição, e adorei. Então, quero mais cenas de ação, perseguição ou aventura. Algo como um thriller, bem psicológico, uma personagem como Judy Foster em “O Silêncio dos Inocentes”. Alguma coisa que exigisse um outro jeito de ser Camila.

O que podemos esperar de Camila profissional nos próximos meses?

Tenho um longa metragem de terror chamado “Carniça”. Se tudo der certo, vou filmar no final do segundo semestre. Tem também o lançamento de “Malês”, filme que meu pai dirigiu, e uma peça de teatro que estou correndo atrás de patrocínio. Então, para todos os lados, tenho muito trabalho.

 

Fotos: André Nicolau
Make: Carla Biriba
Stylist: Thiago Ferraz

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