Desconectar não é suficiente para descansar!
Quando um feriado se aproxima, ou as tão sonhadas férias, vou ficando animada por vislumbrar tempo suficiente para tirar a tomada da parede e simplesmente desconectar de tudo. Já se sentiu assim?
Mas, como eu, talvez você perceba que ficar apenas sem fazer nada não te descansa. Pode ser que você saia do feriado até com mais cansaço do que entrou, sentindo que a bateria não recarregou.
Quando eu gasto todo o meu domingo jogada no sofá maratonando uma série, por mais que seja divertida, a segunda-feira vem com uma ressaca enorme de desgaste físico e mental também.
Eu tinha a intuição de que tirar a tomada da parede não estava sendo tão eficaz assim para recuperar a minha energia, até que me deparei com um estudo científico que foi uma descoberta reveladora.
Nele, as pesquisadoras afirmam que a forma como descansamos é tão importante quanto o tempo que passamos descansando. Basicamente, o que elas apontam é que precisamos tirar uma tomada sim, mas também ligar algumas outras.
Quais atividades você inclui no seu descanso?
Estas outras atividades que podemos incluir no tempo de descanso são aquelas que irão carregar outras áreas da vida, muito importantes para nos adaptarmos melhor às situações estressantes, do trabalho ou da vida, quando elas aparecerem sem aviso. Não existe uma atividade única, mas sim alguns princípios que as tornam revigorantes.
O primeiro princípio é o chamado “desligamento psicológico”, ou seja, deixar de lado as preocupações profissionais – já que não poderemos resolvê-las no feriado ou no fim de mesmo – e se distanciar mentalmente das questões relacionadas ao trabalho. Pode ser desafiador, mas com um pouco de treino é possível.
Outro princípio é trazer para nosso momento de descanso experiências de maestria, atividades que representam um desafio e proporcionam a oportunidade de aprender algo novo. Vivenciei isso em um final de semana em que fui aprender a fazer aquarela em tecido e bordado.
Não só aprendi um hobby novo, mas também expandi meus horizontes e aumentei a confiança na minha capacidade de lidar com desafios. Se você for mais radical do que eu pode querer escalar uma montanha. Se for mais musical, talvez aprender a tocar um instrumento.
É claro que o relaxamento também entra nesses princípios, mas não é ir para o barzinho com música alta até de madrugada. O relaxamento ao qual me refiro são atividades com baixa demanda social e pouca ativação física ou intelectual.
Pode ser uma meditação, ouvir uma música, ler um livro, passar um tempo na natureza ou até mesmo assistir um seriado (desde que essa não seja a única coisa que você faça em todo o seu tempo de descanso).
O quarto pilar para recarregar de verdade é fortalecer sua percepção de autonomia. Uma das coisas mais estressantes na vida é sentir que não estamos no controle, então ter ações que nos dão senso de governabilidade, ajuda a aumentar a capacidade de lidar com o estresse do dia a dia.
O simples fato de escolher quais atividades iremos fazer no tempo de descanso já nos traz essa sensação de controle sobre nossa agenda e a noção de autonomia, tão fundamental para os seres humanos.
Parece um tanto óbvio, mas não custa reforçar, que sair do trabalho para entrar em um ambiente familiar conflituoso, ou uma infinidade de tarefas domésticas estressantes também não ajuda em nada na sensação de descanso. Reservar nem que seja uma parte do final de semana em um ambiente tranquilo e sem demandas ajuda demais.
Eu gosto muito de velas. Tenho das cheirosas, das decoradas, daquelas pequenininhas bem simples mas que ficam em um pote bem bonito. Vou variando qual delas acender a depender do meu dia. Tem dias em que estou acelerada e um aroma de lavanda me ajuda a acalmar.
Tem outros dias em que meus olhos estão cansados e uma chama baixinha está mais de acordo. Tenho pensado no meu tempo de descanso como um conjunto de velas. Se eu apenas apagar uma, fico no escuro. Mas se ao apagar uma, acendo outra, o caminho segue sempre iluminado e a chama se mantém acesa.
Referência:
Fritz, C., Sonnentag, S., Spector, P.E. and McInroe, J.A. (2010), The weekend matters: Relationships between stress recovery and affective experiences. J. Organiz. Behav., 31: 1137-1162. https://doi.org/10.1002/job.672