O que é dismorfia corporal?

A grande insatisfação com o corpo, apontando diversos "defeitos" no mesmo pode ser um sintoma do transtorno que atinge, em sua maioria, adolescentes

Por Amanda Ventorin
Atualizado em 21 out 2024, 16h32 - Publicado em 15 out 2021, 14h00
mulher olhando parte de seu reflexo (olho e sobrancelha) por espelho de mão
 (Dimitry Zub/Pexels)
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Todos, em algum momento da vida, já sentiram que poderiam mudar algo na sua aparência e não há nada de errado nisso, desde que seja feito de forma saudável e sabendo que aquilo não é um defeito ou algo que te faz inferior. Mas, em alguns casos, essa busca por melhoras em sua estética podem se tornar obsessivas e desenvolver sentimentos de aversão a característica que desejam mudar, fazendo com que a pessoa se submeta a diversas intervenções (como cirurgia, treinos excessivos, alimentação restrita) para “concertar esse defeito”. Quando o desejo de mudança se torna algo perigoso para a pessoa pode indicar dismorfia.

Dismorfia é um transtorno psicológico onde a pessoa apresenta uma preocupação excessiva pela sua imagem, percebendo defeitos “graves” em alguma região como nariz, pés, bochecha, pé, entre outros. E há a dismorfia especificamente corporal. “São aquelas pessoas que devido a uma pressão maior por determinado padrão de corpo sentem seu corpo ‘gordo’, ‘inchado’, o que pode em níveis mais graves causar prejuízos em sua relação com sua imagem corporal”, conta a psiquiatra Maria Francisca Mauro.

“Na busca por determinadas características de corpo, como muito magro, mais sarado, ou muito seco, a pessoa se torna ‘refém’ do que acredita para ter um corpo ‘admirável’, ou mesmo invejado. Sentimentos muito presente dentre os quadros de transtorno alimentar, tais como a anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar”, finaliza a profissional. 

O distúrbio afeta igualmente homens e mulheres, principalmente durante a adolescência, podendo estar ligada a fatores genéticos, neurológicos e até mesmo ambientais.  A psicóloga Fabiana Fuchs explica que o histórico familiar, a cultura e os exemplos, podem ser considerados uma das principais causas do transtorno, assim como as crenças e traumas que são formadas principalmente na infância. “Exemplos comuns que provocam o TDC são experiências na infância como rejeição, bullying e abusos sexuais”.

Importante enfatizar que os quadros de distorção da imagem, ou transtorno dismórfico corporal não consiste apenas num produto dos tempos digitais atuais. Seus primeiros relatos ocorreram na literatura há cerca de 106 anos, como em livros de Franz Kafka como “Metamorfose” onde retrata um homem que um dia acorda transformado em uma barata. “Até culturas que não valorizam muito a imagem apresentam pessoas com este quadro. De tal forma, marcando o aspecto transcultural deste tipo de sofrimento emocional”, explica a psiquiatra Maria.

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Sintomas da dismorfia corporal

  • Pensamentos obsessivos

Entre os sintomas a se ficar alerto acerca da dismorfia corporal está os pensamentos obsessivos quanto alguma parte do corpo, em que a pessoa acredita ser defeituosa. Isto pode consumir seu dia toda e a impedir de estudar, trabalhar e sair de casa. “Não é apenas algum incomodo, mas o pensamento quanto ao defeito invade a mente da pessoa o dia todo, prejudica a realizar suas atividades diárias e a limita a sair de casa ou conviver em grupo”, conta Maria Francisca.

  • Comportamentos compulsivos
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Comportamentos compulsivos também são um sinal de alerta. Para esconder esse defeito, a pessoa realiza ações compulsivas como se olhar no espelho inúmeras vezes, sempre trajando bonés, bandanas ou qualquer outro acessório que disfarcem ou escondam esse “defeito”, assim como maquiagens, e também perguntar, de maneira excessiva, a terceiros se estão percebendo esse defeito.

  • Automutilação e cirurgias

“Para além, dos pensamentos obsessivos que invadem a mente daquela pessoa  e os atos de repetição compulsivos, as pessoas que sofrem com uma dismorfia corporal podem usar em alguns quadros mais graves tesouras, estiletes, ou mesmo, passarem a realizar sozinhas procedimentos cirúrgicos como preenchimentos ou outras intervenções. Não é aquela busca pelo dermatologista, odontólogo, ou cirurgião plástico de forma pontual, mas isto se torna uma busca desenfreada que pode até gerar problemas econômicos, ou mesmo endividamento para obter aquilo que acredita que irá resolver seu problema”, finaliza a profissional.

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Fernando Amato, cirurgião plástico, lembra que o diagnóstico deve ser feito por um psiquiatra, e questionários podem ajudar a identificar. “Como cirurgião plástico utilizo um questionário que me ajuda a identificar esses casos, e quando alterado, encaminho para um especialista na área”. 

Tratamento e prevenção

“Não é no dermatologista, no odontólogo ou cirurgião plástico. O tratamento deve ser realizado pelo psiquiatra”, dispara Maria Francisca. O tratamento é realizado através da psicoterapia, com a ressignificação de crenças e a busca da satisfação consigo mesmo. Dependendo do grau do transtorno, é indicado o acompanhamento psiquiátrico e o uso de antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina. Fabiana Fuchs prescreve também a prática de exercícios rotineiros para fortalecimento da mente e da saúde emocional.

A prevenção desse transtorno se dá com autoconhecimento e consciência corporal e fortalecimento da identidade do ser humano. “Saber quem eu sou, quais são os meus valores e o que faz sentido para mim, me faz me ver mais dentro da realidade do que quando eu tenho feridas na minha identidade e nem sabia quem sou eu ao certo… A cura da ferida na identidade fortalece a auto estima, ressignifica crenças e desfaz traumas que podem fazer toda a diferença na vida de uma pessoa”, finaliza Fabiana. 

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