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Como é a rotina de quem vive do esporte?

Fomos perguntar a uma bailarina, uma lutadora de MMA e uma triatleta. Veja o que elas responderam!

Por Amanda Panteri
Atualizado em 29 Maio 2019, 16h00 - Publicado em 27 Maio 2019, 18h20

Você já se perguntou como é a rotina das atletas que vivem do esporte? Quantas horas de treino elas devem fazer por dia ou se podem sair da dieta regrada (nem que seja só por um dia)? Entrevistamos três profissionais de diferentes áreas para entender relação de cada uma delas com a prática de atividade física que, apesar de ser muito gratificante, exige uma disciplina danada. Veja só:

Poliana Botelho, 30 anos, lutadora na categoria peso-mosca do UFC

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(@polianabotelho_ufc/Reprodução Instagram)

Quando você descobriu que gostava de lutar?

“Meu primeiro encontro com as artes marciais aconteceu no muay thai. Desde pequena, eu praticava de tudo: vôlei, futsal natação, handball… Com 23 anos, depois de já ter experimentado uma infinidade de esportes, estava focada na musculação, e era uma frequentadora assídua da academia. Na época, uma amiga minha me chamou para fazer uma aula experimental de muay thai. Topei na hora, já que gostava tanto de esportes.

No primeiro chute que dei, o professor me notou. A partir daí, só precisei de mais três meses treinando para estrear no meu primeiro campeonato. Apesar do evento pequeno, me interessei muito pela competição e decidi ir para o MMA lutar profissionalmente.”

Por que decidiu seguir a carreira?

“Desde a minha primeira luta, eu sabia que era isso que queria. Depois, treinei muito até conseguir um teste para fazer parte do time da Nova União, no Rio de Janeiro. Como eu disse, sempre fui muito ligada ao esporte, e queria ser atleta. O problema é que, com 23 anos, já era considerada velha para algumas modalidades. Mas não para o MMA, que estava começando a crescer na categoria feminina. Uma vez que me encantei pela luta, vi que lá eu poderia ganhar espaço como atleta.”

Você já precisou trabalhar em outra área para complementar o que ganha com o esporte?

“Sim, bem no início da carreira. Eu ainda lutava apenas muay thai e precisei dar aulas da arte marcial para crianças, na academia onde treinava, para complementar a renda mensal. Como eu morava com meus pais, era mais fácil.”

E atualmente, você consegue se dedicar totalmente ao esporte?

Quando me mudei para o Rio de Janeiro, tive que correr atrás de patrocinadores para conseguir manter o ritmo de treino. Só assim para conseguir me dedicar ao esporte, que exige três treinos por dia em horários diferentes. Atualmente, meu foco diário é no MMA graças aos patrocínios.”

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(@polianabotelho_ufc/Reprodução Instagram)

Como é a sua rotina de treinos?

“Treino, geralmente, três vezes ao dia — claro que isso muda quando estou em camp (fase de preparação para grandes campeonatos) ou não. Quando vejo que está muito puxado, treino apenas duas vezes ao dia, para não desgastar tanto meu corpo.

Cada treino que faço dura, aproximadamente, uma hora e quarenta. É muita coisa porque, afinal, eu preciso estar afiada em cinco modalidades diferentes: kickboxing, boxing, jiu jiitsu, restling e preparação física.”

Como é a sua rotina alimentar?

“Minha alimentação é bem regrada, só saio da dieta (mas sem grandes exageros) quando não estou em camp. Atualmente, por exemplo, estou treinando para um campeonato, então como certinho.”

Como você vê o papel da mulher no esporte que você pratica?

“A categoria feminina do MMA é a que mais cresce, e eu percebi essa mudança desde que cheguei no Rio. Em 2014, eram poucas as mulheres que lutavam. Hoje, acho que o número mais que duplicou!

Mesmo o UFC, que antes não tinha categoria para mulheres, hoje em dia tem até quatro lutas femininas em um evento só. A cada dia que passa, a gente mostra que tem muita capacidade e conquista mais espaço.”

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Beatriz Neres, 33 anos, atleta da Seleção Brasileira de Triathlon

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(@bia_neres/Reprodução Instagram)

Como conheceu o triathlon?

“Comecei a nadar aos 4 anos porque tinha bronquite. Nadei até meus 14. Na época, praticava hipismo e amava, mas não pude continuar porque era muito caro.

Aos 25 conheci o triathlon, e como amadora, comecei a fazer provas, pegar gosto pelo esporte e ter bons resultados.”

Você já precisou trabalhar em outra área para complementar o que ganha com o esporte?

“Sim, no começo eu trabalhava e treinava. Porém, para ser atleta com bons resultados é preciso ter isso como profissão. Por isso, decidi me dedicar cem por cento ao esporte e hoje vivo dele.”

Como é a sua rotina de treinos?

“Pratico todos os dias, incluindo domingos. Meus treinos são divididos em dois ou três por dia, e somam de cinco a sete horas diárias. Os treinos mais longos faço aos finais de semana e os específicos durante a semana.”

Como é a sua rotina alimentar?

“Minha alimentação é muito regular. Me preocupo em comer para ter energia suficiente para treinar e recuperar tudo o gasto calórico que tenho com os treinos. Comer menos não significa ser melhor, não é? Pelo contrário… ingerir mais carboidratos e proteínas quando se treina muito é fundamental. Eu evito frituras e não tomo refrigerante. Mas sem neuras. Como doce quando acho que devo e aos finais de semana me permito uma pizza com a família.”

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(@bia_neres/Reprodução Instagram)

Como você vê o papel da mulher no esporte que você pratica?

“Me sinto honrada em ser mulher, atleta e mãe. Não é fácil conciliar uma carreira de profissional no Brasil, onde muitas pessoas não enxergam o esporte como profissão.

Fico feliz em saber que inspiro pessoas, tanto na atividade física, quanto com a maternidade. Busco o meu melhor a cada dia, e quando fazemos isso de coração tudo conspira a nosso favor.

Hoje, vejo muito mais mulheres praticando o triathlon e com força total! Buscando melhores colocações, superações diárias e conseguindo manter uma disciplina que acabam levando para toda a família.”

Letícia Forattini Martins, 31 anos, bailarina da São Paulo Companhia de Dança, mantida pelo Governo do Estado sob direção de Inês Bogéa

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Letícia Forattini, bailarina da São Paulo Companhia de Dança, em Gen (Michelle Molina/Divulgação)

Como foi a sua história com o balé?

“Quando criança, dançava em casa, criava apresentações com minha irmã e nossos vizinhos e participei também como baliza da banda do colégio. Aos oito anos, comecei as aulas de balé clássico. Estudei na Academia Lúcia Toller e com a mestra Gisele Santoro, em Brasília. Aos 18, por meio do Seminário Internacional de Dança de Brasília, ganhei um contrato de estágio para a companhia de Magdeburg, na Alemanha, onde comecei minha trajetória profissional.

Ao final do estágio dancei nas companhias de Nordhausen e Bremerhaven, também na Alemanha. Morei lá por seis anos e meio e voltei ao Brasil. Estou há 6 anos na São Paulo Companhia de Dança.”

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Por que decidiu seguir a carreira?

“Sinceramente, nunca pensei que viveria da dança, que seria minha profissão, pois não considerava isso possível. Sempre me esforcei muito, tinha paixão e muito prazer por esta arte, e a oportunidade de estágio em uma companhia profissional foi o divisor de águas.

Foi um misto de trabalho, dedicação e oportunidades que eu soube aproveitar. Ter voltado para casa e trabalhar hoje como bailarina no Brasil também é um sonho realizado, especialmente em uma grande e reconhecida Companhia, que trabalha com coreógrafos renomados, do Brasil e do exterior. Considero-me privilegiada. Fazer o que se ama não tem preço.”

Você já precisou trabalhar em outra área para complementar o que ganha com a dança?

“Durante o estágio tive a sorte de ter o apoio da minha família, mas desde os 19 anos consigo me manter com a dança. Mais uma vez me sinto privilegiada, tenho consciência de que infelizmente essa é uma realidade de poucos bailarinos no Brasil.”

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Letícia Forattini e Nielson Souza, bailarinos da São Paulo Companhia de Dança, em Gen (Artur Wolkovier/Divulgação)

Atualmente, você consegue se dedicar totalmente a dança?

“Sim. No entanto, comecei há alguns meses a cursar Universidade à distância como uma preparação para o futuro.”

Como é a sua rotina de treinos?

“Na São Paulo Companhia de Dança, trabalhamos 44 horas semanais (oito horas de segunda a sexta e 4 horas aos sábados). Temos seis horas físicas diárias (aulas, ensaios e espetáculos), sendo as horas restantes para fisioterapia, alongamento ou qualquer outra atividade necessária no momento, como estudos.

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De acordo com estudos de Nutrição Esportiva com bailarinos, o balé é considerado uma atividade aeróbia de média intensidade, com gasto calórico de aproximadamente 5,71 Kcal por minuto (considerando uma pessoa de aproximadamente 50kg). Considerando seis horas físicas, o gasto estimado é de 2.055 Kcal por dia de trabalho. Mas isto depende de cada indivíduo, é apenas uma média.”

Como é a sua rotina alimentar?

“Minha preocupação é em tentar manter uma alimentação mais balanceada e natural possível – com menos besteira e comida industrializada. Para conseguir isso, levo diariamente minha própria marmita e evito comer fora – além de mais econômico, tenho condição de escolher melhor o que como. E também tenho minha comida sempre comigo.

Agora que vamos estrear a nossa temporada no Teatro Sérgio Cardoso – de 06 a 09 de junho e de 13 a 16 de junho – é sempre mais corrido. Quando consigo levar comida, como durante as pausas entre os ensaios, e a digestão é mais leve. Não costumo fazer dietas malucas, pois meu corpo precisa de energia para trabalhar – tento manter um estilo de vida saudável. Também tenho procurado reduzir o consumo de carne e substituir por outra proteína, mas ainda não sou vegetariana. Chocolate e doces são meu ponto fraco!”

Como você vê o papel da mulher na sua profissão?

“A figura da bailarina é vista pelo público como delicada e etérea, mas as verdadeiras mulheres por trás desta imagem são muito fortes tanto no físico quanto na personalidade. Trabalhamos duro e amadurecemos muito cedo, pois a profissão exige muita disciplina e persistência, além da cobrança pela constante melhoria. São mulheres independentes, competentes e sensíveis. Admiro minhas companheiras de trabalho, para mim são a personificação do girl power!”

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