Inspara: projeto oferece natação artística para pessoas com deficiência
A pratica melhora a saúde física e a autoestima
Além dos tantos benefícios físicos e psicológicos já conhecidos e comprovados cientificamente, a prática esportiva é uma das melhores formas de promover a inclusão de pessoas com deficiências na sociedade. Foi com esse objetivo que nasceu o Instituto Inspiração Paradesportiva (Inspara), fundado para incentivar a participação de pessoas com deficiência no nado artístico.
Aberta a receber alunos com qualquer condição – seja intelectual ou física – a equipe iniciou com apenas três atletas em São Paulo – número que aumentou com o passar do tempo e que, hoje, já chega aos 26.
POR QUE O NADO ARTÍSTICO?
Camila Lazzarini, fundadora e gerente geral do Inspara, não escolheu o nado artístico à toa para criar o Inspara.
Ela é uma ex-atleta de alto rendimento da modalidade que se formou como fisioterapeuta antes de começar o Instituto.
Com a ajuda de Lara Teixeira, ex- atleta olímpica de nado artístico e atual vice-Presidente do Inspara, Camila começou a buscar formas de alcançar mais pessoas em 2014 e, dois anos depois, fundou o projeto.
“No Inspara recebemos pessoas com qualquer tipo de deficiência, seja intelectual, auditiva, física, visual, etc. Hoje em dia, temos alunos com síndrome de down e deficiência física, mas recebemos qualquer aluno com deficiência”, ressalta a gerente geral.
Desta forma, o instituto se tornou a primeira organização que incentiva e promove a participação de pessoas com deficiência no nado artístico, com o objetivo de mostrar que a modalidade é para todos, seja para prática social ou competitiva.
“Percebemos que já quebramos muitos tabus, porque a gente mostra que é sim possível e que todas as pessoas podem praticar o nado. Nossos alunos se sentem muito parte disso tudo, porque estão no desfile, no backstage fazendo coque e maquiagem, como todos”, complementa Camila
BENEFÍCIOS DO NADO ARTÍSTICO
Os treinos de nado artístico do Inspara têm duração de três horas por dia e são feitos duas vezes por semana no espaço do Centro de Treinamento Paraolímpico, em São Paulo.
Comandadas pela coordenadora geral e técnica Nathália Hossaka, pela professora Priscila Picceli e com a ajuda da estagiária Marina Nigosky, as aulas são feitas em etapas dentro e fora da água, para trabalhar as habilidades motoras e as capacidades físicas dos alunos.
“O nado artístico é muito completo. Ele envolve a natação, ginástica e a dança, promovendo diversos benefícios para a saúde”, afirma Nathália, listando a seguir alguns deles:
- Melhora da respiração;
- Tonificação muscular;
- Fortalecimento de articulações e ligamentos;
- Desenvolvimento de força, resistência e flexibilidade.
“Isso tudo atrelado a muita graciosidade, impressão artística, precisão do tempo e boa noção corporal”, completa a técnica.
Além disso, também é possível notar os benefícios sociais e para a saúde mental dos atletas, uma vez que a atividade estimula a disciplina, o trabalho em equipe, o respeito ao próximo, a autonomia, o autoconhecimento e, por fim, o protagonismo na vida.
Vale ressaltar que pessoas com deficiência devem consultar especialistas das áreas da saúde e da atividade física antes de realizarem quaisquer práticas que devem ser adequadas às suas condições.
MEDALHAS E EXPERIÊNCIA
Caroline Santos, que tem deficiência física nas pernas, não sabia nadar direito quando entrou para a equipe de nado artístico do Inspara, em 2017. Depois de onze meses de treino, contudo, ela foi representar o Brasil em uma competição mundial no Japão.
Com apenas 12 anos, Cacá, como é chamada no time, conquistou uma medalha de ouro em Kyoto. “Foi o primeiro mundial do Inspara. Depois de algumas semanas, eu e outra atleta fomos nos apresentar no Rio de Janeiro e, em 2019, fui para Cancún, no México, onde ganhei uma medalha de prata”, contou a atleta, que hoje está com 17 anos e se tornou voluntária nos eventos do instituto.
De acordo com a jovem, o esporte contribuiu positivamente para sua autoaceitação e autoestima, que mudaram muito ao longo dos últimos seis anos de equipe.
“Eu chorava muito por ser deficiente, mas aí vi que poderia direcionar isso para algo que eu gostava, que é a água. A partir daí, me tornei mais sociável com meus amigos, conversava sobre esportes e levava esse mundo a eles. Além disso, a autoestima também melhorou muito. Antes eu não gostava de usar shorts, saia, vestido, e hoje eu gosto e uso”, completou.
Já Mauren, de 23 anos, entrou no nado artístico há apenas um ano, mas também já tem muitas histórias e conquistas para contar.
Em 2022, ela e outros cinco atletas – Lívia, Marianne, Rafaela, Murilo e Alessandro – foram a Buenos Aires para competir na categoria Síndrome de Down do 9ª Argentina Open Artistic Swimming. De lá, todos voltaram com medalhas entre ouro, prata e bronze.
“O que mais gosto do Inspara é ir treinar e fazer as apresentações. Acho muito legal e as pessoas se divertem muito. Depois, ainda comemoramos todos juntos”, disse Mauren.
“Já nas aulas, o que mais aprendi foi seguir as regras, que é muito importante, e ter respeito pelas treinadoras e pelos amigos. Também aprendi a nadar melhor e dar piruetas e cambalhotas na água”, finalizou.