Estados da mente no Yoga: use seu corpo para ir da distração à clareza
Além da prática física, o Yoga atua nos estados da mente. Entenda o que isso quer dizer!

Em meio à rotina acelerada, é comum que a mente fique inquieta, oscilante ou até mesmo apática. O que muitos não sabem é que, além da prática física, o Yoga atua nos estados da mente, ajudando a trazer foco e equilíbrio.
Na filosofia do Yoga, a mente pode ser classificada em cinco estados diferentes (chitta bhumis), que refletem nosso nível de presença e serenidade.
A boa notícia é que, com a prática adequada, é possível evoluir desses estados mais caóticos para um nível mais profundo de concentração e paz interior. E o corpo pode ser um grande aliado nessa jornada.
A seguir, você vai conhecer os 5 estados da mente no Yoga, entender como identificar cada um deles e descobrir como a prática corporal e respiratória pode te ajudar a sair da dispersão e alcançar mais clareza mental.
Os Estados da Mente no Yoga
A filosofia do yoga classifica a mente em cinco estados distintos, que refletem diferentes graus de agitação e clareza. Assim, reconhecer em qual estado estamos é o primeiro passo para alcançar maior equilíbrio e foco.
1. Kshipta, a mente dispersa
Neste estado, a mente está constantemente inquieta e distraída, pulando de um pensamento para outro, sem foco. Esse é o estado comum da mente dominada por desejos e preocupações mundanas.
Exemplos:
- quando verificamos notificações no celular a cada poucos minutos
- nos sentimos ansiosos por conta de tarefas inacabadas
2. Mudha, a mente entorpecida
Aqui, a mente está letárgica, sem motivação ou clareza. É um estado onde a mente se mantém adormecida.
Por exemplo:
- quando alguém assiste horas de televisão sem absorver o conteúdo
- procrastina tarefas importantes sem motivo aparente
3. Vikshipta, a mente oscilante
Aqui, a mente oscila entre momentos de clareza e distração, sem estabilidade.
Por exemplo:
- quando tentamos meditar ou estudar, mas pensamentos aleatórios continuam interrompendo nossa concentração
4. Ekagra, a mente focada
Aqui, a mente se torna estável e capaz de se concentrar em um único objetivo.
Por exemplo:
- quando estamos completamente imersos em uma leitura envolvente
- participamos de uma atividade criativa, sem distrações externas
5. Niruddha, a mente controlada
Esse é o estado mais elevado, onde a mente está completamente pacificada, permitindo o acesso ao verdadeiro Ser.
Por exemplo:
- em momentos de profundo silêncio e meditação, quando o fluxo de pensamentos cessa e resta apenas a presença absoluta.
A Jornada do Yoga para o Controle da Mente
O verdadeiro propósito do Yoga transcende o bem-estar corporal, conduzindo o praticante à saída do Samsara, o ciclo incessante de nascimento, morte e renascimento.
Assim, através da purificação da mente e do autoconhecimento, o yogue (praticamente de Yoga) busca a realização do Ser, a experiência direta do estado de iluminação.
Para isso, a jornada do Yoga consiste em transcender os estados inferiores da mente e estabilizar-se no estado de Niruddha, onde a ilusão da separação se dissolve e a consciência se expande para sua verdadeira natureza.
Mas a libertação do Samsara exige dedicação e disciplina. O yogue percorre um caminho estruturado em oito partes, conhecido como Ashtanga Yoga, conforme descrito por Patanjali nos Yoga Sutras.
Caminho Ashtanga Yoga
1. Yamas (princípios éticos)
Cultivar verdade, não violência, desapego e autocontrole. No cotidiano, isso se manifesta, por exemplo, quando escolhemos falar com sinceridade, evitamos prejudicar os outros, praticamos a generosidade e controlamos impulsos destrutivos como a raiva ou o egoísmo.
2. Niyamas (disciplina pessoal)
Desenvolver contentamento, pureza e autoestudo para fortalecer o espírito. Por exemplo, manter um diário de gratidão, cuidar da alimentação com consciência e buscar crescimento pessoal através da leitura e da reflexão.
3. Asanas (posturas)
Utilizar o corpo como ferramenta para estabilizar a mente.
4. Pranayama (controle da respiração)
Harmonizar a energia vital por meio da respiração. Quando estamos muito agitados o ideal é dar foco, prolongar a expitração, Quando letárgicos, prolongue a sua inspiração e deixe bem curtinha a sua expiração.
5. Pratyahara (retração dos sentidos)
Reduzir distrações externas para voltar-se ao interior. No dia a dia, isso pode ser praticado ao reduzir o consumo excessivo de redes sociais, evitar ambientes caóticos e criar momentos de introspecção longe do barulho externo.
6. Dharana (concentração)
Focar a mente em um único ponto de atenção, preparando-se para a meditação. Isso se aplica quando focamos totalmente em uma única tarefa sem interrupções, como por exemplo escrever, tocar um instrumento ou simplesmente ouvir alguém com plena atenção.
7. Dhyana (meditação)
Aprofundar-se na contemplação contínua, levando ao autoconhecimento. Na vida prática, isso se reflete em momentos de profunda observação e reflexão, como por exemplo caminhar na natureza em silêncio ou praticar mindfulness durante as atividades diárias.
8. Samadhi (iluminação)
O estado final de consciência expandida, em que yogue transcende o ego e experimenta a união com o Absoluto
Como levar o Yoga para o dia a dia?
Ao percorrer essa jornada, o yogue compreende que sua verdadeira natureza não é limitada pelo corpo ou pela mente. Ele desperta para a Consciência Suprema, dissolvendo a ilusão do “eu” e do “outro”.
A dualidade se desfaz, e a realidade última se revela como pura presença, além do tempo e do espaço.
No cotidiano, a dualidade se manifesta quando nos sentimos separados dos outros, vendo o mundo em termos de “certo e errado”, “bom e ruim”, “eu e o outro”.
Isso pode ser observado em conflitos interpessoais, quando reagimos com raiva a uma crítica ou nos sentimos superiores, ou inferiores a alguém.
A prática do yoga ensina que, na essência, todos somos um. Um exemplo disso ocorre quando ajudamos alguém sem esperar nada em troca e sentimos uma conexão genuína, ou quando experimentamos momentos de profunda compaixão e compreensão, percebendo que as diferenças são ilusórias.
A plenitude pode ser alcançada no dia a dia por meio de pequenos gestos de consciência e presença. Por exemplo, são formas de experimentar essa unidade:
- Sentir gratidão ao tomar um simples copo d’água
- Respirar profundamente ao enfrentar um momento de estresse
- Apreciar a beleza do céu sem pressa
Quando vivemos no presente, sem apegos ao passado ou ansiedades sobre o futuro, entramos em harmonia com o fluxo natural da vida, reconhecendo que a paz e a liberdade já estão disponíveis aqui e agora.
O yoga, portanto, não é apenas um caminho de equilíbrio e bem-estar, mas um convite para a libertação definitiva. Sair do Samsara é despertar para a plenitude do Ser, onde a verdadeira paz e liberdade são alcançadas.
Rosine Mello
Formada em Educação Física, é praticante de Hatha Yoga desde 1998. Atua como professora desde 2005, certificada pelo Simplesmente Yoga.
rosine.mello@gmail.com
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