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Como a busca pelo “corpo Kim Kardashian” tornou popular substância ilegal

A apetamina, substância não reconhecida pela ANVISA, promete ganho de peso rápido e aumento das curvas à la Kim Kardashian.

Por Marcela De Mingo
12 ago 2021, 09h00
kim kardashian exibindo suas curvas na praia
O visual da socialite e empresária virou desejo entre muitas mulheres que ainda buscam a silhueta "perfeita". (Kim Kardashian/Reprodução Instagram)
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A busca é por um corpo à lá Kim Kardashian: magro, mas com “volume” nas partes certas (entenda: bunda e coxas). O visual da socialite e empresária virou desejo entre muitas mulheres que ainda buscam a silhueta “perfeita” – e, vamos combinar, as redes sociais não ajudam a amenizar essa procura. Mas não é só de malhação e cárdio que vivem aquelas que estão atrás desse corpo ideal. Para elas, é essencial também uma ajuda “extra”. Entra aí a crescida busca por uma substância nova, chamada “apetamina”. 

O que é a apetamina? 

Segundo a nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, a apetamina é um medicamento (em formato de xarope ou pílulas) desenvolvido pela farmacêutica indiana TIL Healthcare, e que, de acordo com o seu rótulo, contém ciproeptadina associada a vitaminas e lisina, um aminoácido. O objetivo é promover o aumento do apetite por bloquear os receptores H1 no hipotálamo e provocar, em alguns usuários, ganho de peso rápido.

Importante notar que esse laboratório indiano está presente em vários países da Ásia, África, América Latina e Oceania, no entanto, não está presente no Brasil, na América do Norte ou na Europa. Além disso, a apetamina não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o que significa que tanto a prescrição, como o comércio e o consumo desse produto por aqui é ilegal. “Por si só, esse é um bom motivo para não utilizá-lo, já que não conta com nenhuma garantia de composição, segurança, procedência e efetividade”, explica a médica.

Ainda de acordo com ela, por conta de todas as substâncias presentes na apetamina e seus efeitos no corpo humano, ele só deveria ser consumido sob prescrição e com acompanhamento médico. “A ciproeptadina é um anti-histamínico com ação nos receptores H1 e ainda possui propriedades adicionais como anestésico local, anticolinérgico e antiserotoninérgico. Tem bloqueador dos receptores 5-HT, portanto, é um agente antagonista da serotonina – mais um motivo para os anti-histamínicos terem uma ação estimulante do apetite. Além disso, a ciproeptadina exerce antagonismo nos receptores muscaríneos de acetilcolina, e dopaminérgicos com grande potência, podendo causar sedação em muitas pessoas”. 

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Considerando tudo isso, é normal, inclusive, assumir que a apetamina tem uma série de contraindicações. Para começar: glaucoma, predisposição a retenção urinária, portadores de úlcera péptica estenosante, obstrução ou estenose intestinal, constipação intestinal crônica idiopática, hipertrofia prostática, obstrução do colo vesical, doenças cardiovasculares, hipertensão e hipertireoidismo, pelo risco de agravamento dos sintomas. “Também é contraindicado o uso concomitante com inibidores da monoaminoxidase, classe de antidepressivos. Não pode ser administrado a pacientes muito debilitados ou em crise aguda de asma”, diz a Dra. Marcella.

O mito do corpo ideal, as redes sociais e a popularidade da apetamina

Os parágrafos acima parecem uma verdadeira bula de remédio – mas eles são necessários para atentar sobre o perigo de usar substâncias desregulamentadas (e, portanto, ilegais), ainda mais sem o acompanhamento médico adequado. 

No entanto, muitas vezes o público é vendido por uma ideia de corpo ideal e resultados rápidos muito bem oferecidos pelas redes sociais – vamos combinar que a própria Kim Kardashian faz questão de mostrar o corpo com frequência no Instagram. A responsabilidade pelo uso dessas substâncias, claro, não é dela, mas a forma como o corpo feminino é fruto de pressões sociais, muito exacerbadas com o advento das redes sociais, é um dos motivadores para a busca por essa forma perfeita, sem furinhos ou manchas. É isso que leva a popularidade, mesmo que contra a lei, de uma substância como a apetamina.

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Um exemplo disso é a quantidade de vídeos sobre o assunto presentes no TikTok. Até o fechamento deste texto, eles já acumulavam mais de 12 milhões de visualizações – isso porque, assim como no Brasil, a substância também é proibida nos Estados Unidos e muitos desses conteúdos provém de usuários norte-americanos. 

“As pessoas são bombardeadas por informações equivocadas nas redes sociais, com promessas de resultados estéticos rápidos, em um mundo de imagens bonitas e glamour que não existe”, explica a médica. “Desse modo, não pensam nos riscos e consequências à saúde, quando seguem orientações totalmente inadequadas.”

É preciso considerar também um contexto maior. Mulheres como Kim Kardashian não só tem uma rotina de exercícios físicos absurda e mudam de dieta a cada mês (às vezes, optando por privações alimentarem perigosas), como também fazem uma série de procedimentos estéticos (entenda-se: plásticas) que não são acessíveis (ou necessárias) a todos. Se o objetivo é ter um corpo em forma, o melhor a fazer, então, é buscar manter uma rotina de exercícios combinada com uma alimentação equilibrada e, claro, sempre contar com a orientação de profissionais de saúde para garantir o bem-estar geral. 

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