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Limitar o tempo de tela pode fazê-la se sentir melhor com sua aparência

Reduzir o uso de redes sociais tem um impacto positivo na autoestima e no humor, de acordo com estudo da American Psychological Association

Por Juliana Vaz
8 Maio 2023, 08h22

Há poucos dias, a marca de cuidados pessoais Dove publicou um vídeo impactante em seu canal no Youtube, intitulado de Cost of Beauty (o custo da beleza, em tradução livre) e que fez as pessoas se questionarem sobre a necessidade de limitar o tempo de tela.

Nele, acompanhamos uma garotinha que ganha de presente um smartphone. Conforme ela passa a consumir e criar conteúdo para as redes sociais, começa a desenvolver um transtorno alimentar e de imagem.

As crianças e adolescentes ficam em média quatro horas por dia nas telas, quantidade que disparou 50% desde 2020, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil de Alberta (Canadá) e as Universidades de Calgary (Canadá) e College Dublin (Irlanda). 

Mas não são só eles, os mais jovens, que correm o risco de desenvolver problemas emocionais e de autoestima. Um novo estudo, publicado pela American Psychological Association, valida que diminuir o tempo de tela traz muitos benefícios.

As redes sociais são uma armadilha de comparação, diz a autora do estudo Helen Thai, estudante de doutorado em psicologia na Universidade McGill. Sua pesquisa descobriu que limitar o tempo de tela para cerca de uma hora por dia ajudou adolescentes ansiosos e jovens adultos a se sentirem melhor com sua imagem corporal e aparência.

“O que notei quando estava participando da mídia social foi que não pude deixar de me comparar”, diz Helen à NPR. Deslizar pelas postagens de celebridades e influenciadores, assim como de colegas e amigos, levou a sentimentos de inferioridade.

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“Eles pareciam mais bonitos, mais saudáveis, mais em forma”, diz Helen. Ela estava bem ciente de que as postagens de mídia social geralmente apresentam imagens polidas, retocadas ou filtradas que podem alterar as aparências de maneira irreal, mas ainda assim a afetou negativamente.

Então, Helen e uma equipe de pesquisadores decidiram testar se reduzir o tempo em plataformas de mídia social, incluindo Instagram, TikTok e Snapchat, melhoraria a imagem corporal. Eles recrutaram algumas centenas de voluntários, com idades entre 17 e 25 anos, todos com sintomas de ansiedade ou depressão – o que poderia torná-los vulneráveis aos efeitos das mídias sociais.

Metade dos participantes foi convidada a reduzir suas mídias sociais para 60 minutos por dia durante três semanas, diz a pesquisadora. A outra metade continuou a usar as redes sociais sem restrições, numa média de cerca de três horas por dia.

Os pesquisadores deram aos participantes pesquisas no início e no final do estudo, que incluíam declarações como “estou muito feliz com minha aparência” e “estou satisfeito com meu peso”. Entre o grupo que cortou o uso de mídias sociais, a pontuação geral em aparência melhorou de 2,95 para 3,15 em uma escala de 5 pontos. Isso pode parecer uma pequena mudança, mas qualquer mudança em um período tão curto de tempo é impressionante, dizem os autores.

“Este estudo randomizado controlado mostrou resultados promissores de que o peso e a aparência podem melhorar quando as pessoas reduzem o uso de mídias sociais”, escreveu a psicóloga Andrea Graham, codiretora do Centro de Intervenção Comportamental da Northwestern University, que revisou os resultados da NPR.

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Graham diz que é encorajador que os estudantes universitários estejam dispostos a reduzir o tempo de tela, mesmo que por três semanas. “Isso fornece algumas evidências de que pode ser viável envolver essa faixa etária na redução do uso de mídia social”, diz ela. Embora este estudo tenha incluído pessoas com sintomas de ansiedade ou depressão, Graham diz que vale a pena avaliar essa abordagem com outros grupos, como pessoas com ou em risco de transtornos alimentares. Também é possível que os benefícios do corte se estendam mais amplamente a qualquer pessoa nessa faixa etária.

As plataformas de mídia social estão sempre evoluindo e atraindo jovens usuários. “O mundo digital veio para ficar”, diz Helen. Então, diz ela, a questão se torna: “como nos adaptamos a este novo mundo de uma maneira que não nos impacte negativamente ou nos controle?”

Aqui estão algumas ideias para experimentar:

1

Organize seu feed de mídia social para limitar o conteúdo que faz você se sentir mal

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O Instagram e o TikTok estão repletos de imagens idealizadas de corpos. Os filtros podem ajudar as pessoas a parecerem mais magras, mais bronzeadas ou sem rugas. O algoritmo está empurrando conteúdo centrado no corpo para você porque é isso que vende. As redes sociais amplificam mensagens culturais prejudiciais – especialmente para meninas e mulheres – de que são mais valorizadas por sua beleza e apelo sexual.

Portanto, cabe ao usuário recuar. Seja consciente: enquanto rola o feed, perceba  como cada criador, cada imagem, cada conta faz você se sentir. Se uma postagem ou história fizer você se sentir desconfortável ou inferior, escolha silenciar ou deixar de seguir. É preciso combater o algoritmo ativamente.

2

Agende uma pausa de um dia dos dispositivos a cada semana

A artista e cineasta Tiffany Shlain diz que é possível desconectar um dia por semana. Ela desliga seus dispositivos todas as sextas-feiras à noite e faz uma pausa de 24 horas, que agora ela chama de “Tech Shabbat”. Ela e sua família começaram essa tradição há 13 anos, quando seus filhos eram pequenos. 

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Ela é a autora de 24 horas por dia, 6 dias por semana: desistir das telas um dia por semana para obter mais tempo, criatividade e conexão, e atualmente está trabalhando em um filme sobre o cérebro adolescente. Para os adolescentes, o fim de semana pode resultar em medo de perder – ou FOMO. Nas mídias sociais, todos podem parecer felizes e populares, então é difícil não comparar. “A comparação é o ladrão da alegria”, diz Shlain. Portanto, sexta-feira à noite pode ser um bom momento para desligá-lo.

A influenciadora Virginia também estabeleceu um dia da semana que se desconecta para focar no convívio com as filhas e a família. 

3

Desative as notificações e defina limites para o uso de aplicativos de mídia social

Se sua intenção é limitar a mídia social a uma hora por dia, comece monitorando seu tempo em cada aplicativo. O iPhone possui um rastreador de tempo de tela que permite saber quanto tempo você gasta em aplicativos e sites, bem como com que frequência você pega seu dispositivo.

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“Os smartphones permitem que você defina limites para aplicativos individuais para ajudar no gerenciamento do uso”, diz Helen.

Além disso, você pode desativar as notificações de suas redes sociais para que não apareçam na tela inicial. E defina um tempo de inatividade diário nas configurações do seu dispositivo. Helen diz que tudo se resume ao estabelecimento de metas e, em seguida, ao rastreamento de seu comportamento para ajudar a manter-se responsável.

4

Use o tempo que dedicava às mídias sociais para investir em atividades da vida real

Isso pode parecer óbvio, mas ver seus amigos nas redes sociais não é o mesmo que passar um tempo com eles. Portanto, faça alguns planos para se conectar com amigos na vida real. O mesmo vale para o autocuidado. Helen diz que ela mesma está dando um tempo nas redes sociais, que começou como uma resolução de ano novo. “Percebi que menos tempo na tela significava mais tempo para me encaixar em outros aspectos da minha vida que eu queria manter mais consistentes, como atividade física, leitura [e] ouvir podcasts”, diz a especialista. 

Graham, da Northwestern University, tem o mesmo conselho. Fazer algo divertido pode ajudar a melhorar sua saúde mental, “ reduzir o uso de mídias sociais e fazer algo agradável pode levar a um benefício adicional”, diz Graham.

5

Conecte-se com pessoas que compartilham seus interesses e valores

O mundo está cheio de pessoas interessantes fazendo coisas notáveis. A mídia social pode ser um lugar mais positivo para adolescentes ou adultos quando você se conecta com pessoas que compartilham seus interesses e publicam ideias ou histórias inspiradoras. Deixe de seguir pessoas que a deixam desconfortável e as substitua por ativistas, como Ellen Vallias, Amanda Souza, Flávia Durante, Mayara Russi, Isabella Bells e Rita Carreira.

Organize seu feed para ser uma mistura de humor e defesa – conectando-se com pessoas que questionam ou tiram sarro do cenário de mídia objetificante e sexista em que todos vivemos.

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