Qual a relação entre a alimentação e a saúde mental?

“A gente é o que come”. Essa frase popularmente conhecida pode ser considerada verdadeira não só no que se refere à condição física, mas também à saúde mental. Existe uma relação direta entre a alimentação e o bem-estar mental, pois a comida que ingerimos impacta nosso cérebro, cognição e estado emocional.
A alimentação vem caminhando cada vez mais para a industrialização, com produtos ultraprocessados e tratados com corantes e conservantes. Essas substâncias aditivas encontradas nos alimentos são consideradas estranhas pelo organismo e geram inflamação. Embutidos derivados de carne, biscoitos industrializados e frituras são algumas dessas comidas inflamatórias.
Para entender como a ingestão desse tipo de alimento impacta a saúde mental, imagine a seguinte situação: Diante de um transtorno de ansiedade, por mais que a pessoa esteja consciente do seu estado, o corpo entende isso como uma ameaça à integridade física, aumentando a produção do cortisol e de células inflamatórias, as quais chegam ao cérebro e estimulam o aumento das mesmas. Esse processo pode piorar com uma alimentação inadequada, e ainda se tornar crônico, afetando os neurônios ligados à memória e aprendizagem.
Assim como uma rotina alimentar inflamatória pode prejudicar a saúde mental, existem alimentos que ajudam a melhorar as funções cerebrais e o controle emocional. De acordo com pesquisas na área da saúde, comidas ricas em colina, como brócolis, ovos, linhaça, alho e folhas verdes escuras, contribuem para equilíbrio emocional.
O ômega 3 também é um nutriente importante para a boa saúde do cérebro, dando um ‘up’ no bom humor e na memória. É possível encontrá-lo em peixes mais gordurosos de água fria ou em uma suplementação adequada e prescrita por um especialista. Outros exemplos são alimentos ricos em magnésio (sementes, espinafre e banana) e a curcumina, pigmento da cúrcuma (açafrão da terra) muito usado como tempero, que agem beneficamente para o desempenho cognitivo e como antidepressivo, respectivamente.
Boa alimentação substitui o tratamento psicológico?
Não, porque o transtorno mental costuma ser a combinação entre uma genética predisposta e um ambiente desfavorável, o qual pode incluir uma alimentação inadequada, mas também gatilhos emocionais e psicológicos, uma vida sedentária e redução de autocuidados. Desse modo, a alimentação saudável é uma parte do tratamento, que deve estar alinhado à psicoterapia, atividades físicas e outras práticas, como por exemplo mindfulness (exercício de atenção plena).
DRA. MALU DE FALCO. Médica graduada pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – autarquia Estadual – FAMERP e com residência em psiquiatria pela Faculdade de Medicina do ABC. Especializada em transtornos alimentares, é membro e cadastrada para atendimento pelo Brain Food Institute – NY. Ainda na área acadêmica, realizou curso extracurricular em Karolinska Sjukhuset, Huddinge, Suécia. Atualmente, Falco trabalha como psiquiatra nas clínicas Remind e Arthur Guerra, em São Paulo, e também é preceptora da residência médica da Faculdade de Medicina do ABC.
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