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Nutrição sem restrição, com Marina Nogueira

A nutricionista Marina Nogueira, do @naocontocalorias, fala sobre alimentação, comportamento, ciência e saúde
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Até onde as fotos de “antes e depois” ajudam?

Por Marina Nogueira
Atualizado em 21 out 2024, 22h28 - Publicado em 5 jul 2021, 16h22
mulher mexendo no celular
Vivemos num mundo que julga, condena e dificulta a vida de quem está acima do peso. Mas o incentivo, se baseando no resultado de terceiros, não é sustentável.  (Andrea Piacquadio/Pexels)
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Segundo o artigo 58 do Código de Ética do Conselho Federal de Nutrição (2018),“é vedado ao nutricionista, mesmo com autorização concedida por escrito, divulgar imagem corporal de si ou de terceiros, atribuindo resultados a produtos, equipamentos, técnicas, protocolos, pois podem não apresentar o mesmo resultado para todos e oferecer risco à saúde.”

Esse artigo nos faz pensar sobre profissionais de saúde que vendem seus tratamentos utilizando fotos de ‘antes e depois’, comparando resultados obtidos após suas intervenções.

Há quem pense que isso não deveria ser um problema, com a justificativa de que essas imagens podem fornecer motivação para quem está querendo uma mudança. Há também quem pense que é uma ‘injustiça’ com os profissionais de saúde, já que blogueiros e personalidades fitness com frequência utilizam esse tipo de comparação para se divulgar – e divulgar seus produtos.

E existe uma terceira opinião, a que acha esse tipo de divulgação problemática. Exponho nesse texto os motivos pelos quais acredito que essa atitude deveria ser punida.

Motivação externa

Depender de motivação externa é algo muito complicado. Ser motivado pelo resultado de outra pessoa, mais ainda. Isso porque essa motivação externa não vai continuar para sempre, e na hora que ela findar, como você vai seguir seu caminho? Buscar um resultado estético para agradar aos olhos dos outros é comum: vivemos num mundo que julga, condena e dificulta a vida de quem está acima do peso. Mas esse tipo de incentivo não é sustentável. 

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Quem já perdeu muito peso sabe que uma hora o confete acaba: todo mundo elogia e parabeniza assim que acontece, mas depois deixa de ser novidade, e os elogios cessam. Se você não estiver muito alimentado pelo seu propósito interno, você vai querer continuar mudando até receber de novo aqueles likes. E aí mora um perigo grande: o de perder a mão da alimentação e continuar/começar com grandes restrições. 

Durante o processo também há o risco de se negligenciar todos os sentimentos de culpa e angústia que uma dieta acompanha, em prol do elogio externo.

Pessoas diferentes, resultados diferentes

Nenhum resultado é igual o outro. Não é porque o paciente #orgulhodanutri perdeu 10kg de gordura e está com uma barriga ótima que você vai ter a mesma taxa de ‘sucesso’. Inclusive você pode até conseguir um resultado (em números) equivalente, mas isso não garante que seu corpo ficará daquela maneira. 

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Postar foto de antes e depois sugerindo que todos são capazes de atingir aquele resultado é vender uma grande ilusão. O profissional de nutrição pode ser o melhor de todos, mas nem isso garante que você vai chegar num resultado similar. Sabemos que o ganho e a perda de peso tem fatores multifatoriais para acontecer, e nem sempre eles estão sob controle do profissional de saúde.

Manipulação 

A Noruega aprovou recentemente uma lei que obriga que influenciadores sinalizarem a manipulação das imagens nos conteúdos patrocinados. O país segue um movimento que já existe em outros países. Desde 2017 os conteúdos publicitários na França devem conter o termo “Photographie retouchée”, que sinaliza o uso de manipulação de imagens em fotos – o mesmo já acontece em Israel e na Austrália. 

Essa preocupação existe pois a busca da beleza inalcançável é responsável por prejuízos severos a saúde mental de quem vê e compra os produtos anunciados. Esse tipo de corpo ideal é solo fértil para o aumento de transtornos alimentares e de cirurgias plásticas para fins estéticos.

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A crítica a utilização de fotos do tipo “antes e depois” seguem a mesma linha: vendem um milagre que não existe, um resultado individual como solução coletiva – além de várias serem retocadas ou manipuladas para apresentar o resultado perfeito. 

Felizmente já tem mais gente de olho nisso: nesse mês de julho o Pinterest anunciou que irá banir anúncios de perda de peso e anúncios que envergonham o corpo. Quem sabe uma grande plataforma não vai gerar mais impacto em quem divulga e em quem assiste?

Também é sempre bom lembrar que somos nutricionistas e não emagrecistas. Podemos ajudar as pessoas no processo de perder peso, mas com verdade, responsabilidade e respeito. E isso inclui divulgar com transparência nosso trabalho nas redes sociais.

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Portanto, cuidado com as promessas que você vê por aí. A comparação com outra pessoa, sobretudo numa imagem possivelmente manipulada, é cruel. 

Até a próxima!

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