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Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.
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O corpo fala, literalmente

Por Samorai
Atualizado em 16 set 2022, 15h43 - Publicado em 17 nov 2021, 14h52

Hey folks! Só tem uma coisa que estará com você do dia que você nascer até o dia que você morrer. Essa coisa vai se modificar, vai machucar, vai envelhecer, vai ser completamente diferente do que aqui chegou, mas estará com você durante toda sua jornada. E isso serve para todas as pessoas. Estou falando do seu corpo. Você pode gostar ou não dele, porém vai ter que ir com ele mesmo assim. Se pensarmos dessa forma, cuidar do corpo vai além de uma preocupação estética. Muito além, na verdade.

Cuidar do corpo é fazer com que ele seja seu aliado por mais tempo antes de se tornar um problema. Se eu terei que caminhar com ele esta jornada, é melhor que ele me ajude nesta caminhada do que ser mais um peso que tenho que carregar. Um corpo funcional e eficiente tornará sua jornada mais leve e prazerosa. Ele te trará autonomia e te permitirá ir além. Até aqui não falei nenhuma novidade.

O ponto em questão é que, trabalhando com corpo há 25 anos, posso garantir que a maioria das pessoas não conhecem o próprio corpo. Inclusive os profissionais da saúde. Acredito que, na educação física, esse seja um dever do professor. Educar. Por isso faço questão de sempre educar meus alunos para que entendam cada vez mais sobre o corpo humano de maneira geral e em especial o deles. Uma boa maneira de aprender sobre o corpo é escutá-lo. Estar sempre atento às sensações que ele transmite pode nos gerar um enorme entendimento. Mas eu percebo que essa comunicação não é tão perceptível a todos, então como tenho muita familiaridade na linguagem do corpo, resolvi fazer uma entrevista com o corpo. Tipo podcast. Ou melhor, Samorai Cast. Vamos ouvir o que o corpo tem a dizer.

_ Começando agora o episódio número 1 do nosso Samorai Cast! E hoje temos o prazer de entrevistar a quinta vértebra lombar da Natalia. Seja bem-vinda ao nosso programa. Para iniciar, gostaria que você se apresentasse. Diga quem você é, o que você faz, o que você gosta de fazer nas horas vagas. Conte-nos sobre você.

_ Olá, leitores! Eu sou a quinta vértebra da lombar da Natalia, meu nome é L5. Eu vivo na parte de baixo da coluna, mais precisamente entre o sacro e a L4, duas grandes amigas que somos intimamente ligadas. Em geral, fazemos os mesmos movimentos e estamos sempre em uma grande sintonia. O “bairro” onde moro, se é que posso colocar dessa forma, é a coluna, mais precisamente no subdistrito da lombar. Gosto muito de caminhar, dançar, passear na praia, ultimamente meu hobby é jogar beach tennis. Chique, não? Na verdade, sou bem eclética e gosto de muitas coisas. O que não gosto muito é de ficar muito tempo na mesma posição, principalmente sentada. Outra coisa que não gosto é de fazer movimentos muito distantes das minhas principais amigas, a S1 e a L4. Principalmente no plano transverso. Nos últimos dias tenho me sentido um pouco sobrecarregada, mas tenho feito meu melhor e aguentado uma carga muito grande para que a Natalia se sinta bem.

_ Então, aproveitando que você tocou nesse assunto vamos abordar mais a fundo essa questão, porque a Natalia tem falado muito que ela não sabe mais o que fazer com a lombar, que tem reclamado de muitas dores. Não quero entrar em polêmica, se bem que isso aumenta nossa audiência, mas ela tem dito por aí que a lombar dela é uma porcaria. O que você tem a dizer sobre isso?

_ A Naty é uma boa pessoa, mas ela não entende muito do nosso funcionamento. Há alguns anos, nossos colegas pés desenvolveram uma pisada um pouco desabada e rotacionada para fora. Observe bem, olha como ela anda com os pés tipo “dez para as duas”. Essa forma de pisar atrapalha toda a reação em cadeia que nasce a partir dos pés. Em uma pisada correta, a camarada tíbia seria guiada pelo companheiro calcanhar a realizar uma rotação interna, e isso guiaria o fêmur, outro amigo, a segui-la, fazendo com que o quadril entrasse em rotação interna. Essa rotação interna do quadril faz com que o músculo glúteo realize um movimento de estiramento no plano transverso para desacelerar essa rotação interna e com isso gere uma energia elástica nele, ajudando assim a projetar a outra perna para frente, fazendo com que a caminhada seja leve. Chamamos entre nós de mecanismo eficiente de marcha. Isso seria em uma pisada correta. Mas a Naty, desde que torceu o joelho há muito anos, acho que por medo de sentir dor novamente, mudou a forma de caminhar. E essa forma com os pés para fora é bastante ineficiente. Quase que inviabiliza a marcha. Só não inviabiliza porque a nossa amiga ali de cima, a torácica, realiza um movimento com os braços em uma amplitude maior, gerando mais rotação na parte de cima da coluna. A questão é que essa rotação tem que chegar no quadril e para isso ela passa pela gente, a lombar. E como te falei agora pouco, não gosto muito de me afastar de S1 e L4, mas essa rotação faz com que, relativamente falando, haja uma rotação muito grande entre mim e L4 e também com S1. Isso gera uma tensão e uma sobrecarga muito grande, nos desgastando demais, e se isso perdurar pode gerar danos graves aos tecidos. A Naty hoje acredita que somos uma porcaria, mas a verdade é que estamos segurando uma onda muito grande que nasce lá na pisada.

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_ E você não a avisa que está sendo sobrecarregada?

_ Claro que aviso. Mas como poderia fazer? Mandar uma mensagem no celular dela? Não dá, né? Então eu gero dor para ela perceber que aqui está muito ruim, que estamos compensando essa pisada inadequada a cada passo. Porém, quanto mais eu tento avisá-la mais ela fica chateada comigo e me achando uma porcaria. Isso também me desmotiva muito.

_ E ela não faz nada para melhorar?

_ Ela já fez várias coisas, mas nada funciona porque ela e os profissionais que ela procurou eram muito bem-intencionados, no entanto não entendiam que no corpo trabalhamos como um sistema integrado e que uma parte interfere em outras. Eles sabiam que eu reclamava, contudo eles olhavam só para mim. Imaginaram que eu estava reclamando do nada. Que eu era o problema, quando eu estava reclamando que estava sendo sobrecarregada. Um deles me mandou ficar sempre reta. Para pegar algo no chão eu precisava estar reta, para sentar eu tinha que estar em 90 graus com minha amiga pelve. Isso era insuportável, porque aumentava a pressão em mim o tempo todo. Quando a Naty estava distraída, a gente dava uma escorregada na cadeira, mas ela lembrava do que o profissional tinha falado e, antes da gente descansar, ela voltava para aquela posição a 90 graus, terrível novamente. Ficamos meses fazendo esse tratamento e as dores só aumentaram porque a pressão em mim só aumentou. Ela também procurou outro profissional que colocava umas agulhas e uns choquinhos nos músculos meus vizinhos aqui. Aquilo era muito bom, muitas vezes eu dormia durante essas sessões. Dava uma boa revigorada em mim. Mas assim que a gente voltava a andar, a pisada continuava deficiente e aquela pressão acontecia novamente. Isso sem falar em um senhor de capa branca que queria colocar uma prótese entre mim e L4. Faria um corte imenso na pele, nos tecidos todos aqui em volta, para colocar essa prótese que parece um amortecedor. Ela ficou com medo e, ainda bem, resolveu não fazer essa cirurgia. Ah, teve também um outro profissional que disse que ela precisava fortalecer a lombar. Sim, ele achava que estávamos fracas. Nós e nossos amigos do core. Ele pedia para ela contrair o core em qualquer movimento que ela fizesse, até naqueles em que a contração fosse exatamente o oposto do que o core precisaria fazer. Todo o movimento precisaria ser alongado e ela contraía o core de uma forma antinatural porque o professor dela exigia. Isso exigia muito mais de mim e minhas amigas aqui da lombar. Não sei como ele imaginou que isso pudesse dar certo, porque isso não interfere em nada na função do pé, que é a verdadeira causa do problema. Nunca foi nossa força. Aliás, de tanto sermos exigidas, nós somos superfortes. Fortalecer-nos não ajudou muito, não. Eu até gritei mais alto para ver se ela percebia que não estava em um caminho bom. Aliás, essa é a forma que eu me comunico com ela. Tipo aquele jogo do quente ou frio. Se ela está fazendo algo que eu percebo que está melhorando, eu provoco sensação de prazer e alívio e se ela faz algo que piora o cenário, eu me manifesto em forma de dor. O problema é que às vezes eu acho que ela quer me calar, porque ela toma um analgésico e eu perco minha voz, não conseguindo avisar que esse movimento está me machucando. Como não consigo avisar, ela não para e o faz por mais tempo, me machucando muito mais. E quando o efeito disso passa, a dor está tão pior que tenho que gritar mais alto e, dependendo do caso, até dou uma travada para ver se consigo ficar um pouco na cama para me recuperar de tanto estresse que eu recebo. Mas tenho esperanças de dias melhores.

_ Jura? Por que diz isso?

_ Na semana passada a Naty fez uma avaliação 3D com um profissional do treinamento 3Dimensional e pela primeira vez na vida alguém não falou que eu era a culpada. Pelo contrário, até me elogiou. Fez uma avaliação de todo o corpo e percebeu o óbvio, que meus colegas calcanhares estão com uma dificuldade na caminhada, e isso interfere na pisada, que interfere em todo o corpo. Nessa avaliação ele fez movimentos em todos os planos e percebeu os que trabalhamos melhor e os que temos dificuldades. Anotou tudo e disse que vai nos ajudar a melhorar esses movimentos que estamos com dificuldade. Na primeira aula ele começou por movimentos que fazemos bem, para nos dar confiança, segurança e recursos e com o passar do tempo foi inserindo movimentos e planos que precisamos melhorar, de uma forma progressiva. Foi muuuito divertido! Fui me sentindo estimulada e vi que meus amigos pés melhoraram muito sua função, já na primeira aula. Com isso eu tenho recebido bem menos pressão. O que me permite fazer meu trabalho e até relaxar. Se a Naty continuar com esse treinamento, em bem pouco tempo não sentirei mais nenhuma dor e não precisarei mais reclamar.

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_ Estamos quase terminando essa entrevista. Agora um ping-pong! Um esporte?

_ Beach Tennis

_ Uma cidade para passear?

_ Ubatuba

_ Um sonho?

_ Dar uma entrevista para a Boa Forma para poder falar para todas as pessoas que tem dores nas costas que onde está a dor não está a causa, e sim o sintoma. E que o treinamento 3Dimensional é capaz de avaliar e te tratar seguindo a função do corpo de uma forma autêntica, integrada e 3Dimensional.

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_ Querida L5, você é uma simpatia! Foi um prazer ter você aqui para essa entrevista.

Um forte abraço,
Samorai

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