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Amanda Souza: amor sem tamanho

A influencer e consultora de moda fala sobre autoamor, trabalho e relacionamentos abusivos

Por Larissa Serpa
12 abr 2023, 08h41

Se você acompanha reality shows, você com certeza já ouviu falar de Amanda Souza. A consultora de moda virou notícia na mídia nacional após participar do programa Casamento às Cegas, no streaming Netflix. A proposta do programa? Conhecer pessoas sem ver a aparência delas, focando apenas na conexão emocional, até o momento em que o casal se apaixona e decide noivar. Aí sim, eles se veem pela primeira vez para dar início à vida a dois.

Amanda conquistou não só um dos participantes mas o público todo com sua personalidade confiante e animada. Mas na hora do encontro, o parceiro escolhido mudou de ideia após vê-la, o que foi entendido pelo público como um caso de gordofobia.

Sim, Amanda é uma mulher gorda.

Não “fofinha”, não “gordinha”. Gorda.

“Eu odeio esses termos que tentam amenizar, como se fosse algo ruim”, disse na entrevista à Boa Forma. “Eu respeito meu corpo e gosto de mim assim. Se a pessoa me acha feia, é um problema dela, a beleza é relativa.”

Em meio a um shooting que mostra toda a sua força, a agora também influencer fala sobre o autoamor, o hate nas redes sociais, relacionamentos abusivos e sua carreira.

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Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: casaco Vestem e Boa Forma / Bandagens de acervo pessoal (Renato Nascimento/BOA FORMA)

Esse ensaio é uma analogia sobre a força que você tem, mas você de fato pratica lutas, não é?

Sim, eu luto já tem quase 10 anos, 7 anos direto e 3 parada, por conta da pandemia e depois da gravação do programa, mas no começo do ano retomei e estou amando. 

Eu gosto de me mover. Meu pai praticava lutas quando eu era criança, eu não lutava ainda mas já fazia ginástica olímpica, depois passei a andar de patins todos os dias, depois entrei pra academia, era viciada em spinning, e agora me encontrei na luta.

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: legging, top e casaco Vestem & Boa Forma / Bandagens de acervo pessoal (Renato Nascimento/BOA FORMA)

Com qual propósito?

Pra mim, a luta é uma válvula de escape perfeita porque eu era ansiosa. Eu trabalhei por 11 anos no mercado financeiro e isso mexia muito com minha ansiedade.

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O exercício não é, pra mim, pra mudar meu corpo. Só teve uma vez na minha vida que eu fiz exercícios por conta do corpo, aos 22 anos. Minha filha já tinha 2 anos e eu dei uma encanada com meu corpo pós-gestação, mas essa loucura de querer entrar num corpo que eu nunca tive durou apenas um ano. De resto, sempre foi pra condicionamento, pra eu conseguir me movimentar com saúde.

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: casaco Vestem & Boa Forma / Bandagens de acervo pessoal (Renato Nascimento/BOA FORMA)

Essa segurança no corpo vem de criança?

Sim, desde sempre. Minha família toda é preta retinta e eu sempre fui educada a me olhar no espelho e me amar. Lá em casa tinha gente com todo tipo de corpo, entre meus tios, avós,  pais, irmãos… E a gente sempre se elogiou muito. Eu aprendi que todos eram bonitos e isso fez muita diferença na minha adolescência e fase adulta. Então houveram poucos momentos da minha vida em que eu questionei a minha beleza e se fazia, nunca era de uma maneira agressiva. Então eu vejo que fez diferença essa base de lá do comecinho. Eu praticamente vivi meus 36 anos em uma bolha de amor próprio, me ensinando a me gostar do jeito que sou.

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: shorts e top Vestem & Boa Forma / Luva Pretorian na Netshoes (Renato Nascimento/BOA FORMA)

Você acha que estar fora do padrão influenciou na escolha da sua segunda profissão, como consultora de imagem?

Não necessariamente. Eu sempre fui apaixonada por moda, minha avó costurava e fazia as próprias roupas e eu já achava o máximo. E tudo de diferente que eu via na TV em termos de roupa, eu ficava fascinada. Então desde os 13 anos eu fui me educando sobre consultoria de imagem, comprava livros e revistas, depois comecei a fazer cursos online… No fundo eu sabia que um dia eu ia abandonar o mercado financeiro pra fazer o que eu gostava. Quando eu fiz 31 anos, eu estava extremamente frustrada por não trabalhar com o que eu gostava e me joguei.

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Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: shorts e top Vestem & Boa Forma / Luva Pretorian na Netshoes (Renato Nascimento/BOA FORMA)

O que você acha que te atrai tanto na consultoria de imagem?

A parte da comunicação. Porque é isso, a maneira como vocês veste é como você se expressa. É muito mais do que o “certo e errado” para se vestir, do que a peça que serve para alongar o corpo…. É usar as técnicas para mostrar sua identidade. Eu sempre usei roupas muito diferentes, por exemplo, até “esqusitas”, porque por dentro eu sou esquisita, eu só ponho pra fora o que eu tenho dentro de mim. Muitas vezes a pessoa é mais “alinhada” e a imagem dela passa isso, mas eu gosto de ser a mesma pessoa que eu sou por dentro, por fora. Eu falo nas minhas redes sociais: quanto mais esquisita a roupa, mais confortável eu me sinto.

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: legging, top e casaco Vestem & Boa Forma (Renato Nascimento/BOA FORMA)

Falando de redes sociais, como é pra você lidar com a atenção?

Eu sempre quis falar com mulheres. Antes do programa ir ao ar, eu falava com 9 mil mulheres, que pra mim já era um baita público, e eu bato na tecla que quem tá lá tem que estar porque minha mensagem faz sentido pra eles. Pra mim não adianta estar com milhões de seguidores se minha mensagem não chega. 

E algo que me realiza muito é ver as mulheres mudando a própria vida, ver elas tendo coragem pra vestirem o que querem, indo pra praia, namorando… Eu sou uma mulher gorda comunicando e olha onde eu vou… Tem seguidora que me fala que depois de me seguir sentiu coragem pela primeira vez pra sair pra comer em público, em um restaurante… Eu vou dentro da casa dessa mulher, a minha figura comunica “vai pra rua, filha, vai viver”, então quanto mais voz eu tenha nesse sentido, melhor.

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Você recebe muito hate?

Quando estreou o programa, eu recebi bastante, mas a proporção de amor e hate tem uma diferença absurda, é muito mais amor do que hate, ainda bem. Mas mesmo esse pouco não é algo que mexe comigo.

Eu entendo quem sofre com o hate porque cada um está num lugar do processo de autoconhecimento mas isso está tão bem estabelecido pra mim, sabe? “Você é gorda”… Sim, de fato, eu sou, sempre fui, eu respeito meu corpo e gosto de mim assim, então a pessoa vai me ferir com o que? Eu não sinto essa facada dela, pra mim é apenas um fato e não é ruim. A pessoa me acha feia? Ok, querido, tudo bem, eu gosto… A beleza é relativa.

A pessoa que me chama de corajosa me irrita mais… Pelo amor de deus… “Corajosa” por ser eu mesma? Fã ou hater? [risos

Mas a culpa é nossa como sociedade, nós sempre normalizamos a magreza e a colocamos como elogio e o gordo é sempre no lugar de asco.

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Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: legging, top e casaco Vestem e Boa Forma (Renato Nascimento/BOA FORMA)

Essa maturidade é admirável. Você faz terapia?

Faço há 18 anos e não quero “alta”. Hoje, eu não uso a terapia pra resolver problemas e curar coisas. Já usei mas, hoje, uso pra manutenção do meu caminho… Pra me entender em cada momento. 

Mas quando eu comecei foi por vontade própria porque eu estava super compulsiva por compras e também comecei a querer emagrecer por conta de um relacionamento que me fez questionar tudo sobre mim mesma, aí eu sucumbi e me senti muito mal. Foi horrível porque eu sempre gostei de mim e de repente eu comecei a questionar tudo de mim mesma, queria entender por que eu estava frágil.

Você diria que foi um relacionamento abusivo?

Sim. Eu tive dois relacionamentos que foram abusivos em alguns momentos. Eu tenho mania de “mergulhar em pires”, se eu me apaixono, me apaixono mesmo, eu sou intensa, então eu demorava pra identificar o relacionamento tóxico porque ele é sutil, o bicho vai entrando devagarinho sem você perceber e quando você vê, ele tá sentado na sala na sua frente te encarando.

Esses relacionamentos foram tóxicos em questões diferentes, mas me deram base pra entender, olhar direito, entender as feridas e me prepararam pro que eu vivi depois.

Hoje você acha que perceberia mais fácil?

Imagino que sim, mas tem tantas formas diferentes de ser tóxico que não tem como garantir. Eu acredito que ou não vai acontecer ou, se acontecer, eu vou perceber e sair dele mais rápido.

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: legging, top e casaco Vestem & Boa Forma (Renato Nascimento/BOA FORMA)

O que te fez entrar para o programa?

Eu gosto de intimidade, de constância. Tem gente que gosta da vida de solteira, eu gosto de partilhar. Vivo bem sozinha, claro, mas eu gosto de estar junto, é algo que eu quero.

Quando veio a oportunidade, eu pensei “todo mundo se relaciona às cegas”. Mesmo que sejamos casados por 20 anos, a pessoa vai mostrando as partes dela aos poucos ou até vai mudando e revelando coisas novas.

Eu também não me apego à aparência como item pra me relacionar com ninguém porque eu acredito que a gente perde pessoas incríveis ao nosso lado nesse processo. Mesmo se eu to num app de namoro, eu tenho que conversar muito, trocar ideia… Eu preciso admirar a pessoa em algum nível pra ter vontade de beijar na boca, então pra mim nao faz diferença se a pessoa é bonita ou feia.

Quando veio o programa, eu pensei “já é o que eu faço da vida, a única diferença é que eu vou ver o rosto depois”. 

Você é uma pessoa romântica?

Eu sou no sentido de como eu vejo a vida. A vida é feia, na verdade. Mas eu faço o filme que eu quero sobre ela, eu tenho que achar as coisas que são boas. Eu gosto de ser romântica mas sem ser boba. Eu prefiro ver as coisas de jeito mais bonito.

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: legging e top Vestem & Boa Forma / Bandagens Everlast na Netshoes (Renato Nascimento/BOA FORMA)

Você tem algum grande medo na vida?

Medo eu tenho de tudo, hoje eu estava com medo de fazer essa capa, mas eu não gosto de negar e depois pensar “ai, e se eu tivesse feito?” Eu prefiro fazer mesmo com medo. o medo já me paralisou muito. Antes, eu tinha medo e não ia, hoje eu falo “se der errado, eu vou aprender.”

Me conta seu maior sonho.

Tem os sonhos de [Amanda tem uma filha de 15 anos], eu quero que minha filha seja feliz, que ela seja realizada no que ela quer. De resto, são sempre sonhos profissionais. Tenho vontade de ter um podcast, de ser apresentadora, de escrever um livro.

E arrependimentos?

Não tenho. Todas as escolhas que eu fiz na vida foram com as ferramentas que eu tinha naquele momento. Pode ser que hoje eu faria diferente com a cabeça que tenho hoje mas, na época, eu agi com as ferramentas que eu tinha e eu tenho que respeitar esse meu momento. Vou fazer o que? Ficar remoendo porque não agi como acho que deveria? Eu vivi aquilo e ok, agora vamos viver a próxima… Pode dar certo ou errado.

 

CONFIRA AS CAPAS COM AMANDA SOUZA PARA BOA FORMA:

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: shorts e top Vestem & Boa Forma / Luva Pretorian na Netshoes (Renato Nascimento/BOA FORMA)

 

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: casaco Vestem e Boa Forma / Bandagens de acervo pessoal (Renato Nascimento/BOA FORMA)
Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: legging, top e casaco Vestem e Boa Forma (Renato Nascimento/BOA FORMA)

 

Amanda Souza na capa de Boa Forma
Amanda usa: legging e top Vestem e Boa Forma / Bandagens Everlast na Netshoes (Renato Nascimento/BOA FORMA)

 

Direção de arte: Kareen Sayuri
Foto: Renato Nascimento
Beleza: Marcella Hannah
Roupas: Vestem & Boa Forma
Texto e entrevista: Larissa Serpa
Agradecimentos especiais: Casa do Povo e Boxe Autônomo

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