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Benefícios da leitura para a saúde mental e física

A ciência garante que ler regularmente faz bem (e muito) ao organismo. Saiba mais!

Por Da Redação
Atualizado em 29 fev 2024, 18h35 - Publicado em 19 fev 2024, 18h41

Em entrevista à VEJA Saúde, Antonio Fagundes, de 74 anos, conta que calcula ler três livros por semana. De acordo com ele, curiosamente, o hábito foi estimulado quando recebeu o diagnóstico de mononucleose aos 6 anos. Isso porque, para se recuperar de uma anemia profunda, precisou ter uma alimentação especial e repouso absoluto, o que levou Dona Lídia, sua mãe, a comprar revistas em quadrinhos para diverti-lo.

“Não saio de casa sem um debaixo do braço ou dentro da bolsa. Leio em qualquer lugar e a qualquer hora: a caminho do aeroporto, no consultório médico, na hora do almoço… Gosto de ler pelo menos três horas por dia”, diz.

O ator relata que, em um momento durante a gravação da novela “Bom Sucesso”, seu personagem, dono de uma editora, desmaiava após bater a cabeça, e, para esperar seus colegas terminarem a cena, começou a ler. “O que eu faço todo esse tempo deitado?”, pensou.

Diante da popularidade da novela e do personagem, foi criado o podcast Clube do Livro por Antonio Fagundes e o guia “Tem Um Livro Aqui Que Você Vai Gostar” (Sextante).

“Ler faz um bem danado à saúde. Tanto que não consigo ficar um dia sem”, afirma. “O maior aliado da leitura é o interesse. O pior inimigo, o celular”, destaca.

Entre os 150 autores citados por Fagundes em seu livro esta a Maryanne Wolf, neurocientista responsável pelo título “O Cérebro no Mundo Digital – Os Desafios da Leitura na Nossa Era” (Contexto). De acordo com as próprias palavras do ator, a obra da americana é “extraordinária”.

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LER TE FAZ VIVER MAIS!

Calma! Para obter efeitos positivos, você não precisa fazer como Fagundes e ler pelo menos 3 horas por dia. Uma ideia é começar por apenas 30 minutos. “Trinta minutos por dia é um investimento modesto para um benefício enorme”, fala o pesquisador francês Michel Desmund.

O projeto Um Capítulo por Dia, realizado pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos. analisou o hábito de leitura de 3,6 mil voluntários cinquentões ao longo de 12 anos, sendo que os participantes foram divididos em:

  • Leitores: aqueles que liam por até três horas e meia por semana.
  • Não leitores: não possuíam o hábito.
  • Superleitores: mais de três horas e meia por semana.

Para Sidarta Ribeiro, neurocientista brasileiro, navegar pelas histórias combate o estresse, trabalha a cognição e colabora para a prevenção de déficits mais comuns com a idade. “Para o cérebro, ler um livro equivale a ir a uma academia de ginástica”, compara.

Suzana Herculano-Houzel, outra neurocientista brasileira, esclarece que a leitura ativa redes de neurônios no nosso cérebro, desempenhando uma série de funções importantes e expandindo nossas mentes e horizontes.

INFÂNCIA E LEITURA

O francês Michel Desmurget, pesquisador, reforça o que revela a neurocientista, indicando que o incentivo da leitura na infância deve ser feito não apenas contando histórias aos filhos e dialogando com eles, mas também levando-os para conhecer bibliotecas e presenteando-os com livros. Criar horários para a leitura e limitar o tempo de uso de telas são duas estratégias que podem ser adotadas.

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Porém, segundo Desmurget, a leitura não deve ser utilizada como um meio para se conseguir algo depois. “É contraproducente dizer coisas como ‘Se você ler agora, poderá jogar videogame mais tarde’, porque transformamos a atividade em castigo e as telas em prêmio”.

Ler pode até ser uma tarefa desafiadora, porém os benefícios a longo prazo são inestimáveis. “O objetivo não é impor a leitura aos filhos. É muito mais limitar o tempo no celular ou televisão”, comenta o autor. Para o francês, as vantagens incluem a melhora da criatividade, da inteligência e da empatia.

Para estimular o hábito da leitura, os pais não precisam nem esperar o bebê nascer. “A partir da 25ª semana de gestação, o bebê já consegue ouvir a voz da mãe”, observa o Clóvis Constantino, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O pediatra ainda pontua que, até os 2 anos, o ideal é que as crianças não sejam expostas à televisões, celulares e tablets. A orientação é que, dos 2 aos 5, elas usem esses aparelhos por até uma hora, dos 6 aos 10, duas horas, e dos 11 aos 18, no máximo por três horas.

O uso excessivo de telas pode desencadear consequências como problemas na visão, dificuldades para dormir e atraso no desenvolvimento.

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SE JOGUE NOS LIVROS

Ainda em conversa com a VEJA Saúde, três profissionais do ramo compartilharam dicas para estabelecer uma rotina entre livros.

Pedro Bandeira, autor de “A Droga da Obediência” (Moderna), avalia que, no Brasil, “a literatura infantil é mais importante do que a adulta porque quem forma os futuros leitores somos nós que escrevemos para crianças”. E enfatizou: “quanto mais cedo, melhor”.

Para ele, é crucial levar em consideração a fase e o contexto da criança para selecionar os títulos. “Há aquela em que ela escolhe o livro pela ilustração e outra em que dá preferência a bichos falantes. Já adolescentes gostam quando o protagonista tem a idade deles. Os pais podem orientar os filhos, mas devem deixá-los livres para escolher o que quiserem” .

Jiro Takahashi, editor de famosas séries de livros infatojuvenis do país, diante das reclamações de professores que relatavam que seus alunos preferiam gibis à livros, passou a propor atividades em que o leitor tinha que preencher os balões das ilustrações com trechos de diálogos.

“Muitos educadores elegem inimigos dos livros e declaram guerra contra eles. Na década de 1970, eram os quadrinhos. Hoje, são os celulares, os tablets e os videogames. Em vez de ‘ou eles ou nós’, prefiro acreditar em ‘eles e nós’, por que não?”, explica.

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Sentiu nostalgia? Aproveite porque 69 livros da série Vaga-Lume e 38 da Para Gostar de Ler, ambas de Takahashi, foram relançadas pela editora Ática.

“Se não sabe se um livro é bom ou por onde começar, pergunte a quem já leu. E há uma infinidade de sites, blogs e podcasts com indicações”, compartilha Laura Vecchioli do Prado, coordenadora editorial da Somos Educação.

Dados do Pró-Livro mostram que, em média, o brasileiro lê apenas cinco livros por ano e nem todos por completo. Essa realidade pode estar impactando a saúde mental tanto de jovens quanto de indivíduos mais maduros. Nesse sentido, é necessário repensar no que tem feito parte do seu dia a dia.

“Não durmo sem ler”, fala Carla Madeira. “Se estou cansada, leio uma página. Se estou muito cansada, um parágrafo. Mas, se estou descansada e não tenho que acordar cedo no dia seguinte, sou capaz de ler um livro inteiro. O tempo que dedico à leitura é sagrado”, conclui a escritora de “Tudo é Rio” (Record), título que ultrapassou o número de 155 mil exemplares comercializados.

Para ler mais sobre os benefícios da leitura e sobre a biblioterapia (terapia com livros), acesse a matéria especial na Veja Saúde.

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