Orgânicos: uma boa aposta!

Não se trata de modismo ou frescura. Frutas, legumes, verduras e até carnes produzidas sem uso de agrotóxicos, hormônios e antibióticos e com respeito ao meio ambiente são uma tendência que veio para ficar. Descubra onde mora o perigo dos alimentos cultivados do jeito convencional e por que vale a pena investir na troca pelos orgânicos

Por Marcia Di Domenico (colaboradora)
Atualizado em 21 out 2024, 19h27 - Publicado em 12 mar 2015, 10h28
Brett Stevens/LatinStock
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Até algum tempo atrás, consumir alimentos orgânicos era coisa de bicho-grilo, de quem curtia um estilo de vida natureba. Hoje, é opção de cada vez mais gente preocupada com a qualidade da salada, das frutas e da carne que coloca na mesa. A precaução não é à toa: de acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde 2008 o Brasil é o primeiro no ranking de países que mais empregam agrotóxicos nas plantações. E vários deles são proibidos há anos nos Estados Unidos e na Europa pelos prejuízos comprovados às pessoas e à natureza. Os pesticidas, herbicidas, inseticidas e outros venenos usados na produção agrícola contaminam não só quem os manipula, mas se acumulam nos alimentos e acabam virando mais um ingrediente (nocivo) da nossa comida de todo dia.

Um produto orgânico de origem vegetal ou animal é muito mais do que livre de agrotóxicos, adubos químicos e hormônios. É resultado de um sistema de produção comprometido com o uso saudável do solo e da água e a adoção de técnicas que não contaminem o ar, as plantas, os bichos e as pessoas. Também faz parte dessa filosofia a utilização mínima de recursos não renováveis, a reciclagem de resíduos orgânicos e o incentivo à regionalização do cultivo e da comercialização das safras. No caso de criação de gado e frango, os animais têm que ser abrigados em local com luz natural e espaço suficiente para se movimentar e recebem tratamento homeopático e fitoterápico no caso de doença. “Tudo isso obriga a uma produção em pequena escala, o que encarece os produtos e faz com que o mercado se expanda em ritmo lento”, explica Ming Liu, coordenador do Organics Brazil, projeto do Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) de estímulo ao comércio internacional de orgânicos brasileiros.


Alerta de saúde

Um terço dos alimentos consumidos no dia a dia pelos brasileiros está contaminado por aditivos químicos, sendo que, muitas vezes, em níveis acima dos limites permitidos por lei. Os números são do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Anvisa (leia quadro Os Campeões de Agrotóxicos). Os especialistas dizem que é difícil medir o perigo concreto e no longo prazo dessa contaminação. Mas inofensiva certamente ela não é. Diabetes, problemas neurológicos e alguns tipos de câncer estão entre os riscos associados. “Existem ainda moléculas de agrotóxicos com efeitos sobre o sistema reprodutor masculino e feminino”, completa o pesquisador Cesar Koppe Grisolia, autor do livro Agrotóxicos – Mutações, Câncer e Reprodução (editora UnB) e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Vantagem nutricional

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Embora a maioria das pessoas que consomem orgânicos faça isso pelos benefícios nutricionais que acreditam existir nesses alimentos – sem falar no sabor, no aspecto e na duração incomparáveis –, não há evidências científicas significativas de que eles sejam mesmo mais ricos do que seus adversários cultivados com agrotóxicos e fertilizantes químicos. A maioria dos estudos, no entanto, revela vantagens quanto à concentração de antioxidantes nos orgânicos. “Isso se explica porque esses compostos são uma espécie de defesa
natural da planta contra pragas, que fica inibida quando em contato com os pesticidas”, explica a nutricionista Karina Nunes de Simas, de São Paulo. Uma pesquisa da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, comprovou até 69% mais antioxidantes nos alimentos produzidos sem aditivos químicos no país. Enquanto isso, uma revisão de estudos publicada recentemente na França, comparando a qualidade nutricional e a segurança de produtos comuns e orgânicos, concluiu que, na média, vegetais e carnes orgânicos contêm doses maiores de ferro, magnésio e ácidos graxos poli-insaturados (que abrangem os ômegas 3 e 6) e menores de nitratos, que são compostos com potencial cancerígeno.


É orgânico mesmo?

Desde 2011, os produtos comercializados no varejo, sejam nacionais, sejam importados, têm que conter na embalagem o selo Produto Orgânico Brasil, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É o que garante que a produção daquele item passou por inspeção e está dentro das especificações de qualidade dos orgânicos. “No caso de pequenos agricultores que vendem direto ao consumidor, como nas diversas feirinhas espalhadas pelo Brasil, a exigência é uma certificação específica, também emitida pelo Ministério da Agricultura e que deve estar disponível para o comprador”, diz Alexandre Harkaly, engenheiro agrônomo especializado em agricultura orgânica e diretor executivo da IBD Certificações, maior certificadora da América Latina e única brasileira a emitir selos de qualidade exigidos internacionalmente para orgânicos.

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O fator bem-estar

Se fosse apenas pela ausência de substâncias tóxicas e a consciência leve por colaborar com a saúde da natureza, já valeria a pena incluir orgânicos no cardápio. Mas o fato é que eles também fazem bem para a beleza e o bem-estar. Um estudo europeu sobre o consumo de orgânicos, publicado em 2012 na revista científica Journal of the Science of Food and Agriculture, revelou que, dos mais de 560 participantes, 70% perceberam mudanças depois que adotaram esse tipo de alimento, citando melhora da disposição, da resistência
a doenças, do funcionamento do intestino e até do aspecto de cabelo, pele e unha. Outra pesquisa, alemã, realizada com um grupo de freiras que trocaram a alimentação convencional pela orgânica, mostrou que, em quatro semanas, quase todas relataram estar mais alertas, com mais energia, a pressão estável e menor sensibilidade à dor. Há ainda quem consiga perder peso depois de mudar a alimentação. “Os resíduos químicos presentes nos alimentos são interpretados como toxinas, que geram inflamação no organismo e impedem a metabolização adequada da gordura”, explica a nutricionista Valéria Paschoal, da VP Consultoria Nutricional, em São Paulo. “Quando você passa a consumir orgânicos, livres de agentes tóxicos, pode perceber a perda de peso porque o processo de oxidação de gordura normalizou”, completa Valéria, que, além de entusiasta da alimentação orgânica, é membro da CSA Brasil (sigla para Community Supported Agriculture), um movimento mundial de incentivo à produção orgânica. É um custo/benefício que compensa!


Os campeões de agrotóxicos

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Estes são os itens mais contaminados quando cultivados de maneira convencional, segundo dados de 2010 do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Anvisa, que tem como objetivo avaliar a qualidade dos vegetais comercializados no Brasil. As amostras foram coletadas em 26 estados brasileiros.

1º Pimentão: 91,8* 
2º Morango: 63,4 
3º Pepino: 57,4 
4º Alface: 54,2 
5º Cenoura: 49,6 
6º Abacaxi: 32,8 
7º Beterraba: 32,6 
8º Couve: 31,9
9º Mamão: 30,4
10º Tomate: 16,3
11º Laranja: 12,2

* % de amostras reprovadas

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