Beleza negra: os cuidados essenciais com a pele e o cabelo crespo
À Boa Forma, profissionais revelam suas melhores dicas para manter a saúde da pele negra e dos fios crespos
Em uma sociedade que valoriza traços eurocêntricos, a beleza negra rompe os padrões, representando resistência, identidade e ancestralidade. Nesse sentido, os cuidados com a pele negra e o cabelo crespo vão além da estética e se tornam práticas de empoderamento e autoestima.
“O cabelo crespo é uma forma de resistência, empoderamento e ancestralidade. Usar o cabelo crespo natural é uma maneira de expressar sua própria identidade, afinal nenhum é igual ao outro, é principalmente resistir aos padrões sociais. Ao assumir sua curvatura, abraçando a singularidade do seu fio, a mulher crespa descobre uma força interna muitas vezes apagada. No fim, é uma assinatura da sua beleza única”, opina Isabella Galvão, cabeleireira expert em curvaturas do Curly Space.
A cabeleireira conta que, na famosa tabela de curvaturas, os fios crespos fazem parte do tipo 4, que se divide em subcategorias (4A, 4B e 4C).
“4A são aqueles cabelos crespos que apresentam cachos pequenos e definidos. 4B são os crespos com cachos em forma de Z e menos definidos. Por fim, o 4C abrange os crespos com cachos em forma de Z, muito densos e com pouca definição. Vale destacar que, no geral, os fios crespos costumam ser finos e porosos“, explica ela.
Apesar dessas classificações realmente ajudarem a entender melhor os diferentes tipos de fios, é fundamental não se prender a essas “caixinhas”. Cada cabelo tem suas próprias necessidades, e o que funciona para um pode não funcionar para outro.
Já a respeito da pele negra, a dermatologista Dra. Julia Rocha ressalta que ela apresenta uma maior quantidade de melanina. Essa característica, segundo a médica, não apenas dá cor à pele, mas também reforça a proteção contra os raios solares. No entanto, aqui vai um aviso: isso não significa que pessoas com pele negra não precisam utilizar filtro solar.
“A melanina é produzida pelos melanócitos. Não há diferença em relação à quantidade de melanócitos, no entanto, a quantidade de melanina é maior nos indivíduos negros. Indivíduos de pele negra possuem na epiderme uma maior proporção eumelanina/feomelanina do que pacientes brancos. A eumelanina, especialmente, consegue agir como um filtro contra a radiação UVB. Porém, essa proteção ‘natural’ não é completa e também não é efetiva para proteger contra raios UVA e luz visível“, destaca ela.
Por outro lado, a grande quantidade de melanina está ligada a uma maior chance de aparecimento de manchas.
“Estudos mais recentes evidenciam que, em pacientes com fototipo alto, ocorre uma pigmentação mais intensa e persistente relacionada à luz visível. As pesquisas ainda dizem que as manchas podem ser desencadeadas ou pioradas pela UVA – especialmente a UVA de longo comprimento”, comenta.
A pele negra ainda apresenta uma alta produção de colágeno, o que a torna mais resistente ao envelhecimento.
“Os fibroblastos na pele negra são maiores, em maior quantidade e mais ativos. Também observamos uma grande quantidade de fibras colágenas. Isso tudo gera uma pele mais firme e com menor percepção de envelhecimento”, completa a médica.
No corpo, a pele negra tende a ser mais seca. “O extrato córneo possui menor quantidade de lipídeos, provocando uma maior perda de água. Isso é observado principalmente nos cotovelos, joelhos e tornozelos. Nessas áreas, também há uma menor quantidade de glândulas sebáceas. Além disso, estudos mostram que os níveis de ceramidas são menores em indivíduos negros. Essas particularidades deixam a pele negra do corpo mais susceptível à desidratação e ressecamento“, detalha Rocha.
Já no rosto, ela frequentemente apresenta um aumento da oleosidade. “As glândulas sudoríparas são maiores, mais numerosas e fabricam mais sebo. Então, pacientes negros costumam se queixar do excesso de oleosidade na pele do rosto”, completa a Dra. Julia.
Agora que você já conheceu os principais detalhes sobre os cabelos crespos e a pele negra, chegou a hora de descobrir quais são os cuidados mais importantes para mantê-los saudáveis. Confira a seguir!
Cuidados com o cabelo crespo
1Realize pré-poo
Se você tem o cabelo crespo e ainda não conhece essa técnica, saiba que ela pode fazer toda a diferença na saúde e aparência dos seus fios, prevenindo o frizz, a quebra e outros problemas.
“O pré-shampoo ajuda no desembaraço e evita a quebra dos cabelos, preparando-os para receber o shampoo, que geralmente tem a tendência a ressecar um pouco”, fala a cabeleireira.
Nas perfumarias, você consegue encontrar uma variedade de pré-shampoos. Veja um passo a passo de aplicação desse produto:
- Separe o cabelo seco em mechas;
- Passe o produto no comprimento e pontas, envelopando os fios e sem exagerar na quantidade;
- Deixe agir por cerca de 15 a 30 minutos;
- Lave normalmente com o shampoo, máscara ou condicionador.
A frequência para fazer pré-poo pode variar dependendo das necessidades do seu cabelo. Porém, a recomendação geral é realizá-lo uma vez por semana ou a cada 15 dias.
2Lave os fios corretamente
Para lavar os cabelos crespos, Isabella ressalta que um dos cuidados mais importantes é não usar água muito quente. A água em temperaturas altas pode contribuir para perdas proteicas e lipídicas nos fios, piorando o ressecamento e favorecendo a quebra.
A cabeleireira também diz que os melhores shampoos para cabelos crespos são aqueles que contam com ativos nutritivos e hidratantes. “Evite shampoos que façam uma limpeza extremamente profunda e ressequem demais os fios”, alerta.
“O cabelo crespo deve ser desembaraçado apenas quando estiver molhado e com um agente emoliente aplicado, por exemplo, um condicionador, uma máscara ou um creme de pentear. O movimento para tirar os nós deve ser sempre de baixo para cima. Além disso, para desembaraçar, o ideal é utilizar uma escova sem bolinhas na ponta, estilo raquete“, completa ela.
Utilize máscaras de tratamento
O comprimento dos cabelos crespos é mais propenso a ressecamento e danos, o que pode aumenta as chances de pontas duplas e quebra. Isso ocorre porque a estrutura espiral dos fios dificulta a distribuição uniforme da oleosidade natural do couro cabeludo, fazendo com que ela não alcance as pontas.
Para lidar com essa situação e minimizar os efeitos negativos, é indicado aplicar uma máscara de tratamento pelo menos uma vez por semana.
“Separe o cabelo em mechas e aplique pequenas quantidades da máscara, sempre enluvando o cabelo. Depois, desembarace os fios para garantir uma melhor espalhabilidade do produto”, ensina a cabeleireira.
4Faça umectação
A umectação capilar nada mais é do que uma reposição de óleos. “O cabelo crespo necessita de muita nutrição e costuma gostar muito de óleos, uma vez que a curvatura fechadinha não permite uma boa distribuição da oleosidade natural do couro cabeludo até o final do fio. Sendo assim, a umectação envolve a aplicação de óleos vegetais diretamente nos cabelos secos. A recomendação é de 1x na semana para cabelos muito ressecados ou a cada 15 dias para fios mais emolientes”, resume a cabeleireira.
5Invista na acidificação capilar
A acidificação capilar é um procedimento que visa equilibrar o pH dos fios, combatendo a porosidade, problema comum entre os cabelos crespos. A alta porosidade dos fios causa falta de brilho, dificuldade de manter a hidratação, perda da definição, ressecamento e muito frizz.
Os principais benefícios desse cuidado incluem: aumento da resistência, fortalecimento, melhora do aspecto áspero, melhora na absorção de tratamentos, fechamento das cutículas, maciez e suavidade.
“O acidificante capilar reestabelece o pH, deixando-o entre 4,5 e 5,5, que é o ideal. Dessa forma, ele ajuda a fechar as cutículas capilares e resulta em fios mais saudáveis, brilhantes e, principalmente, mais alinhados, além de deixá-los mais fortes e protegidos contra agressões externas“, garante Isa.
Lembre-se: a acidificação não deve ser realizada em todas as lavagens. Exagerar nesse procedimento pode levar a um efeito rebote, fazendo com que os fios fique ainda mais frágeis.
“Especialmente para cabelos crespos, indico fazer acidificação capilar duas vezes no mês”, aponta Galvão.
Passo a passo para fazer acidificação capilar:
- Lave o cabelo com um shampoo adequado ao seu tipo de cabelo;
- Aplique o acidificante;
- Deixe o produto agir pelo tempo indicado no rótulo;
- Passe uma máscara de tratamento;
- Aplique o condicionador;
- Finalize do jeito que preferir!
Finalize os cachos
Uma dica da cabeleireira é sempre finalizar o cabelo crespo com bastante água, porque isso auxilia na definição, na redução do frizz e na hidratação dos fios.
“Passar somente um creme de pentear mais oleoso pode suprir as necessidades do cabelo crespo. Mas, se você quer mais definição e days after, sugiro combinar o creme com óleos e géis/gelatinas”, aconselha.
“O uso de óleo reparador e géis/gelatinas, além de promover cachos mais marcados, ainda colabora na melhora do frizz, uma característica natural do cabelo crespo. Não esfregar a toalha no cabelo e evitar tocar nele enquanto seca são outros segredos para evitar o efeito frisado”, acrescenta ela.
Na hora de aplicar os produtos nos fios, não precisa exagerar. Uma pequena quantidade é o suficiente. Ah, e não tenha medo de testar as diferentes técnicas de finalização até encontrar a que mais gosta. Entre as mais populares estão: fitagem, plopping, dedoliss, rake and shake e twist.
Após a secagem dos fios, que pode acontecer de forma natural ou com um difusor, existem alguns truques que ajudam a ativar o volume das madeixas.
“Podemos dar volume com as mãos, com o tradicional pente garfo ou com o secador em jato morno, puxando apenas a raiz do cabelo”, afirma.
Nunca se esqueça: para utilizar o secador sem afetar tanto a fibra capilar, é indispensável aplicar um protetor térmico. “Além disso, tenha em mente que não devemos usar excessivamente as fontes de calor nos fios”, avisa Isa Galvão.
7Use acessórios de cetim
“O uso de toucas, fronhas, scrunchies e outros acessórios de cetim é altamente recomendado, já que esse tecido reduz o atrito, preservando a definição e evitando o embaraço dos fios. Também ajuda a manter a hidratação, pois não absorve a umidade dos cabelos”, declara a cabeleireira.
Cuidados com a pele negra
1Limpe a pele duas vezes ao dia
É fundamental limpar a pele duas vezes ao dia (de manhã e à noite) para remover todas as sujeiras, resíduos de produtos e evitar o entupimento dos poros e a formação de acne.
“Como a pele negra do rosto costuma ser mais oleosa, sabonetes com ação seborreguladora, mas que não ressequem, são boas opções para higienizá-la. Ativos como ácido salicílico, ácido glicólico e zinco são indicados, assim como ingredientes hidratantes e calmantes, como ácido hialurônico, niacinamida e glicerina”, orienta a dermatologista.
2Sempre aplique um hidratante
A hidratação é uma etapa do skincare que não pode ser deixada de lado. Ela desempenha um papel importante no fortalecimento da barreira de proteção da pele, no combate às descamações e sensibilidades e no equilíbrio da produção de sebo.
“O aspecto ‘esbranquiçado e acinzentado’ que algumas áreas da pele negra corporal podem apresentar pode ser prevenido por meio da hidratação adequada. Recomendo hidratantes corporais que sejam ricos em ceramidas, manteiga de karité, niacinamida, vitamina E e lactato de amônio”, cita a médica.
Para a pele do rosto, que pode ser mais oleosa, a Dra. Julia Rocha aconselha escolher hidratantes oil-free e leves, em texturas como gel ou sérum.
“No tratamento das manchas na pele negra, muitas vezes, lançamos mão de ativos e tecnologias que podem deixar a pele mais sensível, com a barreira de proteção comprometida. Nesse contexto, o uso regular do hidratante é ainda mais necessário”, menciona ela.
3Aposte na vitamina C
A vitamina C pode ser um bom ativo para incluir no skincare da pele negra. Esse poderoso antioxidante auxilia na prevenção da hiperpigmentação e dos danos causados pelos radicais livres, além de potencializar a proteção solar e promover a luminosidade.
4Não se esqueça do protetor solar
“Quando pensamos nas manifestações do fotodano, pessoas negras vão se queixar com menor frequência da presença de rugas e linhas de expressão, mas isso não significa que essas alterações não vão acontecer. Por outro lado, as manchas estarão mais presentes. Ainda que menos prevalentes, os cânceres de pele também acometem pacientes negros. Essas condições dermatológicas podem ser evitadas ou minimizadas com o uso regular do protetor solar“, informa a dermatologista.
De acordo com ela, os filtros solares com cor são interessantes, pois também protegem contra a luz visível.
5Consulte um dermatologista
Para montar o melhor ritual de cuidados com a pele negra, é fundamental contar com a ajuda de um dermatologista especializado. Esse profissional pode oferecer orientações personalizadas, levando em consideração as necessidades específicas da sua pele.
“Primeiro, precisamos entender quais são as condições de base existentes na pele para sabermos o que deve ou não ser indicado. Não existe tratamento engessado, existe tratamento individualizado. As concentrações de ativos, o intervalo de tempo, o veículo e a associação de produtos podem mudar de acordo com cada paciente. Portanto, se a pessoa estiver sendo assistida por um bom médico, ele saberá conduzir do jeito certo, assegurando resultados seguros e eficazes”, conclui Rocha.