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Arrotar é um bom sinal para a saúde: médicos explicam por que

Não arrotar pode ser sintoma uma patologia que impacta significativamente a qualidade de vida. Confira as causas e tratamentos para o quadro

Por Ana Paula Ferreira
5 mar 2024, 10h00

Por mais que seja um ato (natural) proibitivo para as regras de etiqueta, eliminar gases do estômago pela boca – ou seja, arrotar – é um indicativo de saúde estável. Essa ação nada mais é do que uma demanda fisiológica que, quando atendida por nós, só significa algo comum e necessário para o funcionamento do aparelho digestivo.

O problema, de acordo com profissionais de saúde, é justamente quando ocorre o contrário. Não arrotar ou mesmo arrotar pouco pode ser sintoma de disfunção cricofaríngea retrógrada, uma patologia que impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Isso porque ela compromete a liberação dos gases que acumulamos no corpo, causando flatulência, dor e distensão abdominal e, até mesmo, dificuldade ou incapacidade de vomitar.

Além de todo esse mal-estar físico, estudos também associam essa anomalia a quadros de alteração de humor, irritabilidade, ansiedade e inibição social.

De onde vem a disfunção cricofaríngea retrógrada?

De acordo com a médica otorrinolaringologista Luciana Costa, do Hospital Paulista, a origem do problema está em um músculo que fica na região do pescoço, entre a faringe e o esôfago.

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“Trata-se do músculo cricofaríngeo, que é o principal responsável pelo componente contrátil que permite que o alimento siga da faringe para o esôfago. Ele relaxa quando ingerimos algo e mantém certa pressão em momentos de repouso, fechando-se para proteger as vias aéreas de um possível refluxo e da ingestão de ar durante a respiração”, explica.

Segundo ela, durante o reflexo de arrotar, esse músculo precisa relaxar para permitir o fluxo retrógrado de ar do estômago para a boca. Quando isso não acontece, os pacientes não conseguem arrotar, e o ar permanece preso no esôfago. “Isso provoca uma série de desconfortos físicos e também psicológicos que são efeitos atribuídos à Disfunção Cricofaríngea Retrógrada”, completa a profissional.

Impactos na saúde

Da parte psicológica, em específico, Luciana destaca que avaliações de qualidade de vida associam o problema a pacientes com maiores taxas de ansiedade, isolamento social e diminuição da produtividade (dias de ausência no trabalho e/ou escola).

“Em busca de alívio, eles acabam fazendo modificações no estilo de vida, alteram seu regime de exercícios, limitam ou modificam sua dieta e evitam situações sociais. Essa situação, segundo relatos de pacientes, costuma ter início na adolescência e tendem a piorar na idade adulta.”

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O diagnóstico, contudo, não é tão simples. Requer uma série de avaliações e não há um exame específico para tal – conforme explica Luciana. “O diagnóstico da disfunção cricofaríngea retrógrada é, atualmente, considerado um diagnóstico de exclusão e depende principalmente da história clínica. Ainda não existe um exame complementar que confirme a disfunção, embora haja diversas pesquisas sendo desenvolvidas nesse sentido.”

Tratamentos para o quadro

Quanto aos tratamentos, a médica esclarece que o mais comum é por meio da aplicação de toxina botulínica, para enfraquecer o esfíncter esofágico superior (estrutura composta pelo músculo cricofaríngeo).

Esse procedimento, quando indicado, é feito pelo médico otorrinolaringologista, no consultório através de eletromiografia ou no centro cirúrgico sob anestesia geral, usando uma técnica minimamente invasiva através da boca. O efeito ocorre imediatamente após a aplicação e a duração parece ser prolongada.

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