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Burnout parental: quando pais e mães também não aguentam mais

O esgotamento emocional e físico tem se tornado uma tendência não só no trabalho mas também na rotina dentro de casa

Por Marcela De Mingo
7 dez 2021, 08h00

Uma coisa é certa: se tem um assunto que entrou para os tópicos mais comentados, durante a pandemia, esse assunto é o burnout. No entanto, não só de esgotamento profissional vive o termo: hoje, vemos também o crescimento do burnout parental

O que é o burnout parental? 

Segundo Ana Carolina Peuker, doutora em psicologia, CEO e fundadora da Bee Touch, o burnout é uma síndrome que se manifesta através da exaustão emocional e da diminuição da auto-realização, após uma exposição crônica a ambientes estressantes e emocionalmente desgastantes. 

“Porém, estudos têm apontado que o burnout também pode ocorrer fora do trabalho e, igualmente, afetar a produtividade”, explica ela. “Outros contextos nos quais haja pressão constante, alta exigência e acúmulo de funções também podem favorecer essa síndrome. Por isso, a parentalidade pode ser um terreno fértil para o burnout se desenvolver.”

Segundo Ana Carolina, o primeiro estágio do burnout parental é o da exaustão global, que pode variar dependendo da idade dos filhos. Ele pode ter uma natureza mais física, no caso de filhos pequenos, ou mental, no caso de adolescentes. “Logo após, essa exaustão se torna intensa a ponto de fazer com que os pais se distanciem dos filhos – falta energia para dialogar, interagir, educar e brincar. Já na última etapa, os pais tendem a questionar a sua realização na criação de seus filhos. Frases como ‘eu amo meus filhos, mas não aguento mais ser mãe’ são um exemplo clássico dessa etapa, gerando culpa, tristeza e vergonha”, continua. 

O que leva ao burnout parental? 

Assim como no ambiente corporativo, todo contexto em que há pressão constante, alta exigência e acúmulo de funções pode favorecer essa síndrome. E sabemos que isso é particularmente comum quando o assunto são as mulheres e ainda mais quando se fala de mães.  

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“No mundo atual, tem ocorrido muitas mudanças na forma que as pessoas vivem, como o teletrabalho e a hiperconectividade. Fatores ligados às responsabilidades e ao equilíbrio da vida familiar e às exigências no trabalho aumentam a pressão sobre os pais”, diz a psicóloga. 

Segundo a profissional, o quadro se estabelece quando há esgotamento mental, vinculado a queixas de doenças físicas, que nem sempre tem uma origem orgânica. Pode incluir um tipo de estresse que se mostra pelo sentimento de sobrecarga de tempo, assim como pela percepção de que a quantidade de atividades diárias que devem ser cumpridas é maior do que o tempo disponível para realizá-las. 

“Em virtude desse estresse de sobrecarga de tempo, os pais sofrem com prejuízos no sono, sentimento de estar “preso” na rotina, falta de tempo para descanso e sentimento de que não há tempo para estar com filhos, amigos e familiares”, diz. 

Em relação à vida das crianças, é importante lembrar que o bem-estar emocional de mães e pais é um importante preditor das práticas parentais e repercute no próprio desenvolvimento infantil. “Quando os pais estão estressados demais, podem recorrer a práticas parentais mais simplistas, rígidas, com maior predomínio de emoções negativas.  Quais os pais estão saudáveis do ponto de vista emocional, usarão práticas parentais mais adaptativas, conseguindo identificar as dificuldades quando surgem, ter expectativas mais realistas sobre o que as crianças são capazes de fazer em uma determinada idade, além de outros entendimentos necessários, como perceber as necessidades emocionais dos filhos”, continua. 

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Ou seja, quando há estresse, há também escassez de trocas afetivas e práticas parentais adaptativas e saudáveis, o que, a longo prazo, pode interferir na relação entre pais e filhos e, ainda, na própria saúde emocional dos filhos. 

Qual o tratamento para o burnout parental? 

De acordo com Ana Carolina, o primeiro passo para tratar um quadro de burnout parental é reconhecer os próprios limites – e delegar funções, quando possível, é essencial para que esses limites sejam mantidos e respeitados. 

Pais não recebem férias remuneradas, não podem trocar de emprego ou pedir licença-saúde, porém algumas atitudes podem ajudar a lidar com esse esgotamento: compartilhar experiências com outros pais, procurar ajuda especializada, constituir uma rede de apoio social e não se cobrar perfeição o tempo todo são algumas medidas que ajudam a diminuir a sensação de ineficácia e perda de realização com esse papel da sua vida”, explica. 

Por último, mas não menos importante, contar com o auxílio de uma terapia especializada, seja em família, seja de forma independente e personalizada, também faz parte dos cuidados necessários para que esse esgotamento não aconteça novamente. 

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