Você está se isolando voluntariamente?
Entenda a diferença entre o isolamento e o aproveitar a própria companhia
De repente, a vontade de encontrar os amigos parece ter sumido. Você prefere ficar sozinha, em casa, assistindo séries no computador ou lendo. Os programas de fim de semana são resumidos às mesmas atividades de sempre, no seu quarto. O isolamento é um sinal do seu estado de saúde mental e é importante entender quando esse isolamento é, na verdade, uma escolha.
O QUE É ISOLAMENTO?
“O isolamento social se caracteriza basicamente no afastamento de uma pessoa, ou até mesmo de um grupo de pessoas, do convívio social”, explica a psicóloga e especialista na Ciência do Sentir, Beatriz Breves. “Entretanto, estar isolado socialmente não necessariamente é estar isolado mentalmente. Nesta segunda hipótese, a pessoa não se sente pertencendo, ou seja, se sente só, sem participação, sem interesse, enfim, se sente desconectada de outras pessoas e do seu meio.”
Por isso, entender a diferença entre o isolamento e o aproveitar a própria companhia faz parte do processo de compreensão do que é saudável ou não quando se fala em isolamento.
“Se focarmos no mundo interno e em sua realidade subjetiva, uma pessoa pode, mesmo estando sozinha objetivamente, não se sentir só. Isso acontece quando, se sentindo uma boa companhia de si mesma, experimenta um estado de plenitude interna que a satisfaz, mesmo quando os momentos possam não estar se apresentando muito fáceis”, explica a especialista.
Por outro lado, uma pessoa pode, mesmo estando acompanhada, se sentir só e isolada. Isso acontece quando ela experimenta um estado de isolamento que a conduz ao sentimento de solidão interna – principalmente porque se vê incapaz de se sentir uma boa companhia para si mesma.
Como resultado desse processo, a pessoa tende a se tornar incapaz de aproveitar os momentos, por melhores que possam estar sendo os acontecimentos que ela vive.
ISOLAMENTO E SAÚDE MENTAL
O que Beatriz chama de “isolamento interno”, isto é, aquele que traz sofrimento, pode ser um sintoma de uma série de psicopatologias.
“Uma pessoa que esteja se sentindo desmotivada a interagir, deveria buscar uma avaliação profissional, pois o ser humano é um complexo biopsicossocial, portanto, por sua própria condição enquanto espécie, traz como parte de sua natureza a interação com o meio.”
Saber quando pedir ajuda depende, muito, da auto-observação do próprio sofrimento. Em geral, uma pessoa que sofre não só não pede como, também, não aceita ajuda. Portanto, o que deve sinalizar a hora de pedir ajuda é o grau de sofrimento, o quanto está sendo incapacitante o sofrimento para a pessoa.
Nisso, é essencial lembrar, mais uma vez, que o ser humano vive em sociedade e depende dos outros não apenas para ter uma vivência funcional, como para o seu bem-estar físico e mental.
“Para uma vida afetiva se faz necessário estabelecer uma interação biopsicossocial com outra pessoa, o que se processa também como uma interação bastante complexa”, continua.
No geral, os sentimentos de uma pessoa não costumam ser positivos ou negativos, mas prazerosos ou não de sentir – tudo depende da interpretação que a pessoa tem daquilo que sente e como essa interpretação vai determinar as suas ações seguintes, se elas serão construtivas ou não para a sua própria vida.
“Logo, uma pessoa incapaz de convívio social, de interação em seu trabalho, sem capacidade de fazer amizades, enfim, uma pessoa que se sente em permanente solidão, tende a se precipitar ao sofrimento”, conclui. “Sofrimento que, por sua vez, tende a levá-la a se sentir muito aquém de sua capacidade produtiva, portanto, de uma realização pessoal, implicando, diretamente, no sentimento de uma baixa autoestima.”
A baixa autoestima, por sua vez, acaba “colorindo” as interações da vida daquela pessoa com cores escuras e cinzentas, o que sugere uma visão negativa e, assim, ações negativas diante da própria vida.
Por isso, fica aqui o reforço: caso você (ou alguém que você conheça) esteja passando por um momento de isolamento social, procure ajuda. Existem serviços de atendimento psicológico e psiquiátrico gratuitos em algumas das principais capitais do país e, em momentos agudos, é possível contar com serviços como o CVV (Centro de Valorização da Vida) – basta discar 188 de qualquer telefone.