Entenda como restrições e distúrbios do sono podem causar doenças renais
A fisiologia renal pode ser afetada pela qualidade e quantidade do sono
Existe uma relação intensa entre o sono e os rins: sim, as disfunções renais também podem afetar negativamente a qualidade e a quantidade do sono.
“Todo mundo sabe que o descanso e as boas horas de sono são essenciais para a manutenção da nossa saúde. Mais do que afetar nossa concentração e humor, as horas mal dormidas podem interferir no bom funcionamento dos rins”, inicia a Dra. Caroline Reigada, médica nefrologista especialista em Medicina Intensiva Brasileira.
“Pesquisas mostram que dormir poucas horas por noite leva a uma maior propensão a desenvolver perda da função renal. Mulheres que dormem 5 horas ou menos por noite, por exemplo, têm um aumento de 65% de chances de sofrerem rápido declínio das funções renais se comparadas àquelas que dormem 7 ou 8 horas por noite”, completa.
De acordo com ela, dormir faz bem para os rins e é fundamental para a saúde de muitos outros órgãos do corpo.
“Privação do sono e os distúrbios do sono desafiam os vários sistemas do corpo a manter o equilíbrio funcional crítico chamado homeostase. Tal como acontece com a saúde de muitos outros órgãos do corpo, a saúde dos rins pode se tornar uma vítima de problemas de sono”, fala.
Ao longo prazo, os rins, que são órgãos que trabalham duro, podem sofrer com consequências provenientes do sono ruim, ou seja, dormir mal pode desencadear doenças renais.
“Mediadores inflamatórios e harmônicos simpáticos contribuem para o desenvolvimento de distúrbios que envolvem os vasos do coração e dos rins. Apneia obstrutiva do sono, distúrbios do ritmo circadiano, hipersonia (dormir muito) e insônia têm sido associados a uma série de distúrbios metabólicos. As evidências sugerem que os distúrbios do sono afetam o desenvolvimento da doença renal, possivelmente como resultado do meio inflamatório e da ativação simpática que ocorrem no leito vascular renal, o que danifica estruturas como a membrana basal glomerular e o aparelho tubular renal, partes anatômicas importantes para a filtração do sangue”, diz. “A fisiologia renal pode ser negativamente afetada pelas perturbações do sono, incluindo a restrição do sono.”
Segundo a especialista, os rins filtram a urina, contribuem para manter a pressão arterial, auxiliam com a saúde cardiovascular, ajudam no funcionamento correto dos músculos, mantêm os ossos saudáveis e promovem a produção de glóbulos vermelhos.
“Dormir pouco pode reduzir a capacidade de os rins desempenharem estas funções no longo prazo. Indivíduos que dormem menos de 5 horas e mais de 8 horas apresentam maior risco de progressão de uma doença renal instalada. Além disso, a má qualidade do sono está associada à incidência de doença renal crônica terminal. Uma metanálise sugeriu uma associação entre curta duração do sono e proteinúria, um marcador substituto da progressão da doença renal. A hiperfiltração renal, um marcador de dano renal precoce, tem sido associada à duração do sono curta (menos de 6 horas) e longa (mais de 10 horas)”, esclarece.
A disfunção renal também pode prejudicar a qualidade e a quantidade do sono.
“O volume diário de urina varia entre 800 a 1500ml, dependendo do volume de líquidos ingeridos, da temperatura corporal e ambiental e do esforço físico. O volume urinário normal depende, também, de fatores hormonais, neurológicos, hemodinâmicos, psicossociais e culturais. Normalmente, a produção de urina obedece a um ritmo. Durante o dia, o volume urinário é de 2/3 e o noturno de 1/3, por exemplo, 1000ml de dia e 500ml de noite. Após os 60 anos de idade, o volume de urina diurno e noturno se equivalem (1:1). Quando esta relação se altera para mais durante a noite, é o caso da noctúria (acordar à noite várias vezes para urinar)”, afirma a médica.
A noctúria consiste no volume urinário anormal durante a noite e pode ser causada por vários fatores. “A noctúria, que é o volume urinário anormal durante a noite, pode ocorrer por várias causas, inclusive pela doença renal crônica e é capaz de perturbar a qualidade e a quantidade de sono, dificultando o repouso e o reparo que o organismo precisa durante a noite”, destaca.
“Neste caso, há produção de urina sempre clara, da mesma cor e com volume aumentado durante a noite. Essa informação é muito importante e corresponde à incapacidade do rim de concentrar a urina. Esse tipo de queixa é constante nos pacientes com insuficiência renal crônica e o médico só tem que comprová-la com os exames especiais para ver a capacidade funcional do rim (ureia e creatinina). O rim normal varia a cor da urina, conforme a necessidade de concentrá-la ou diluí-la. Já na doença renal crônica, a urina fica bem clarinha”, conclui.