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Como os hormônios interferem nos seus treinos (ou quase isso)

A atividade física estimula positivamente a liberação hormonal, porém, os hormônios femininos interferem no desempenho e motivação para a prática

Por Marcela De Mingo
8 mar 2022, 15h00

Hormônios são substâncias tão misteriosas quanto o próprio organismo humano. Não temos consciência de que eles estão operando na normalidade, mas é bastante fácil percebermos quando estão desregulados. Aliás, a sua capacidade de influência é tão grande que é possível que os seus hormônios estejam interferindo no seu treino físico sem você saber – até agora, claro. 

Em uma revelação inesperada, não são os hormônios, em si, que influenciam na sua performance na academia, mas é a prática de exercícios físicos que impacta a liberação hormonal – de forma positiva, ainda bem. “A liberação dos hormônios acaba tendo um efeito do movimento do corpo, não o contrário”, explica a endocrinologista Dra. Thaís Mussi

O corpo tem muito a ganhar com esse resultado. Para a médica, alguns efeitos mais esperados são a queima de gordura, a sensação de recompensa e bem-estar e o aumento da taxa metabólica. Ou seja, três elementos essenciais não só para um corpo como também para uma mente sã. 

“A produção hormonal se ‘adapta’ às nossas fases, exercendo ações importantes de acordo com cada período da nossa vida”, continua a médica. “Quando ainda estamos no útero, por exemplo, contamos fortemente com os hormônios tireoidianos e até mesmo a testosterona.”

Na fase de desenvolvimento, por outro lado, temos uma mistura de hormônios, como o de crescimento, os tireoideanos, a insulina e os hormônios adrenais. Qualquer pessoa que já tenha lidado com um adolescente entende bem como essa mistura é poderosa. 

Tão presentes ao longo do tempo, precisamos dos hormônios tanto quanto eles precisam de nós, mas de formas e em quantidades que também variam com a passagem dos anos – afinal, ninguém aguentaria viver como um vulcão hormonal em erupção a vida inteira, certo? 

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“A liberação dos hormônios, causada pela prática de exercícios físicos, faz muito bem tanto ao corpo quanto à mente”, diz a Dra. Thaís. “Não existem motivos para se preocupar com qualquer tipo de interferência desses hormônios nos exercícios físicos, porque o ciclo natural é que você passe a ter uma melhor performance com o passar do tempo. 

MAS OS HORMÔNIOS FEMININOS? 

Em uma contradição bem-vinda, toda mulher sabe que o ciclo menstrual interfere diretamente nas nossas sensações durante as suas diferentes fases. Por exemplo, na menstruação, a sensação de cansaço e falta de energia é muito maior do que na fase seguinte, a folicular, em que nos sentimos mais motivadas e aptas a fazer qualquer coisa. 

“Vários estudos focam em entender melhor como variações no ciclo hormonal da menstruação podem influenciar o treinamento das mulheres, por exemplo, ou como a reposição hormonal da menopausa pode ajudar”, explica a Dra. Paula Pires, endocrinologista e metabologista pela Universidade de São Paulo. 

Para ela, além do seu papel fundamental na função reprodutiva, o estrogênio, um dos hormônios femininos presentes no ciclo menstrual, funciona como uma proteção muscular contra danos, uma vez que o seu efeito antioxidante ajuda na estabilidade da membrana celular. Essa atuação, por sua vez, limitaria o dano muscular no pós-treino. 

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“Da mesma forma, acredita-se que o estrogênio inibe as respostas inflamatórias pós-exercício, o que pode ajudar a reduzir qualquer ruptura que resulta em dor muscular, levando a uma recuperação mais rápida”, continua. 

Esses achados, infelizmente, não são o suficiente para que os médicos façam recomendações específicas dependendo da fase do ciclo menstrual da mulher – nesse caso, a auto-observação têm um papel mais adequado, já que cada uma consegue perceber e entender melhor o que o corpo pede a cada momento. 

“Quando se trata de desempenho, os resultados de uma recente revisão sistemática e meta-análise mostram que o desempenho do exercício pode ser ligeiramente reduzido em algumas mulheres quando o estrogênio e a progesterona estão baixos, geralmente durante os dias 1 a 5 do ciclo menstrual, em comparação com todos os outros períodos menstruais”, diz. 

A partir da menopausa, existe uma queda de produção hormonal que, considerando as informações acima, pode interferir na composição muscular e na força da mulher. Buscar um acompanhamento médico e fazer a reposição hormonal, caso necessário, é essencial para evitar quedas bruscas de rendimento na academia. 

Por fim, para evitar essas interferências, é interessante rastrear algumas medidas, como fadiga, dor muscular e recuperação pós-treino ao longo do ciclo, além de usar essas informações para ajustar os planos de treinamento, adaptando treinos de força ou aumentando o tempo de recuperação. 

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