“Aborrescência” existe? Como lidar?
A fase da adolescência é, em geral, difícil de se lidar, porque o jovem está na transição entre a infância e a idade adulta, testando seus limites e, consequentemente, os dos adultos também.
Muitos se tornam contestadores, querem experimentar situações novas, precisam saber do que são capazes e até aonde conseguem chegar. Passam pela “onipotência juvenil”, ou seja, a fase onde acham que podem tudo e nada de ruim irá lhes acontecer: pode dirigir a 150km por hora que não sofrerá acidente, pode transar sem camisinha que não engravidará nem pegará DSTs, pode beber todas que não entrará em coma alcoólico… e assim por diante. Porém, sabemos que não é assim.
Os pais devem acolher os filhos com afeto sem deixar de colocar limites, que são fundamentais. Não é “batendo de frente” com o filho que a situação irá melhorar, e aí acontece um dos erros mais comuns na criação dos filhos nessa fase de vida: altas brigas, onde cada um quer impor seu ponto de vista e ninguém ouve nem respeita o do outro.
Quando os pais não conseguem dialogar com os filhos, dando-lhes voz para que exponham seu lado (e acredite: podemos aprender com eles!), criam um cenário de conflitos ininterruptos que cansam, desgastam, afastam os filhos e reforçam seu lado contestador.
Daí a palavra infeliz que se refere a eles como “aborrescentes”, pois estão sempre causando brigas e tentando burlar regras impostas na casa, aborrecendo os pais.
É preciso ouvir, criar combinados que mudarão a cada situação específica, entender que o cérebro desses adolescentes está em pleno rebuliço, provocando neles comportamentos impulsivos que muitas vezes lhes fogem ao controle (literalmente o cérebro está em formação, impulsos químicos e descargas elétricas acontecem frequentemente nesse período de desenvolvimento), e manter o respeito no trato com eles. Afinal, o respeito deve vir de ambos os lados.
Quando isso acontece, em geral os filhos passam muito mais tranquilamente por essa fase, e logo entrarão na próxima etapa da vida sem grandes traumas para a família.
Portanto, arrisco dizer aqui que os pais são os grandes responsáveis por como esse adolescente se desenvolverá, na grande maioria dos casos. Se forem pessoas maduras, bem trabalhadas emocionalmente, acolhedores e de bom senso, provavelmente saberão educar os filhos dando o suporte necessário – exceção aos casos onde o adolescente possui algum distúrbio psiquiátrico que deve ser diagnosticado e tratado, pois caso contrário, toda a boa vontade dos pais de nada adiantará.
E mais uma dica: ler livros e artigos que falem sobre o tema e abordem também a influência dos pais na resposta emocional dos filhos é importante, pois além de informações relevantes que serão adquiridas dará a eles mais instrumentos para aplicar no dia a dia, proporcionando-lhes mais segurança em seu papel de pais.
Marina Vasconcellos, psicóloga e Terapeuta Familiar. @marina.vasconcellos45